Serra da Cantareira, em SP: entre as normas de preservação da Mata atlântica está a limitação de trilhas (Lucas Ninno/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2022 às 11h40.
Última atualização em 26 de outubro de 2022 às 13h59.
Apenas 24,3% da Mata Atlântica ainda resiste como formação florestal. O dado é de um novo levantamento feito a partir do mapeamento de imagens do MapBiomas, iniciativa multi-institucional que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia focada em monitorar as transformações na cobertura e no uso da terra no Brasil. Para ter uma ideia comparativa, a cobertura florestal ocupava 27,1% da região em 1985.
Os estados com menor cobertura nativa em 2021 são Alagoas (17,7%), Goiás (19,5%), Pernambuco (23,4%), Sergipe (25,5%), São Paulo (28,4%) e Espírito Santo (29,3%). Mais da metade (57%) dos municípios localizados na região de Mata Atlântica possui menos de 30% da vegetação nativa. Já os estados com maior cobertura nativa de Mata Atlântica são Piauí (89,9%), Ceará (76,9%), Bahia (49,7%) e Santa Catarina (48,1%).
O bioma da Mata Atlântica passa por 17 estados do país, onde vivem 70% dos brasileiros.
O MapBiomas alerta que, além da redução na área florestal, existe um processo de redução da qualidade dessa cobertura vegetal. Entre 1985 e 2021 houve uma perda de 23% de floresta madura, diz a instituição.
Em 37 anos, 9,8 milhões de hectares de vegetação primária foram suprimidos, enquanto 8,8 milhões de hectares se regeneram em forma de vegetação secundária, que responde por 26% de toda a cobertura florestal da Mata Atlântica.
O que isso significa na prática? “As florestas secundárias são essenciais para proteção dos rios, diminuição da distância entre fragmentos e absorção de carbono da atmosfera, mas não possuem a mesma biodiversidade de uma floresta primária”, explica Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. “A vegetação secundária também está mais suscetível a novos desmatamentos após um curto período de recuperação e um terço dela não chega a completar oito anos de idade.”
Enquanto a cobertura florestal recua, cresce a área destinada à agricultura: esse foi o tipo de solo que mais cresceu na Mata Atlântica nos últimos 37 anos. Essa atividade avançou 10,9 milhões de hectares. Se em 1985 ela ocupava 9,2% do bioma, em 2021 esse percentual alcançou 17,6%. Nesse período, a silvicultura ganhou 3,7 milhões de hectares, passando de 0,7% (1985) para 3,5% do bioma. Juntos, agricultura e silvicultura já ocupam um quinto da Mata Atlântica.
O uso da terra prevalente no bioma ainda é a pastagem. Embora essa atividade tenha tido uma perda líquida de 10,5 milhões de hectares nos últimos 37 anos, um em cada quatro hectares desse bioma ainda é de pasto, que perde espaço para agricultura, mas ainda avança sobre áreas de floresta. São 32,2 milhões de hectares, ou 24,6% da Mata Atlântica. A agropecuária, a agricultura, as pastagens, as áreas de mosaico de usos e a silvicultura ocupam 60,1% da Mata Atlântica.
Além da mudança de uso do solo, a região passou por um forte processo de urbanização nos últimos 37 anos. As áreas urbanizadas passaram de 674 mil hectares em 1985 para 2,03 milhões de hectares em 2021 — um aumento de 1,4 milhão de hectares. Embora 87,5% da expansão tenha se dado sobre áreas já alteradas, 12,7% cresceu sobre áreas que eram naturais.
Os efeitos da degradação da Mata Atlântica podem ser percebidos de diferentes formas. Um dos serviços ambientais prestados pelas florestas é a produção e a proteção de água.
No período analisado, de 1985 a 2021, a bacia do Paraná teve sua cobertura nativa reduzida de 22,5% em 1985 para 21,6% em 2021. A do Paranapanema e do São Francisco também tiveram uma redução da cobertura nativa, de 21,3% (1985) para 20,3% e de 57% (1985) para 52,9%, respectivamente.
“Depois de sucessivas crises hídricas afetando dezenas de cidades ao longo da Mata Atlântica, é preocupante ver a capacidade de fornecimento de serviços ambientais deste bioma ser continuamente fragilizada”, adverte Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da SOS Mata Atlântica.
“A preservação do que restou de Mata Atlântica e a restauração em grande escala são essenciais para preservarmos alguma resiliência dessa região à dupla ameaça da crise climática e da crescente irregularidade do regime de chuvas, decorrente do desmatamento da Amazônia”, diz Pinto.