Negócios

Resíduos reciclados se transformam em revestimentos na construção civil

É cada vez maior o número de iniciativas voltadas para e economia circular no setor, que apostam em inovação para criar produtos a partir de material descartado

Revestimentos feitos de garrafas PET recicladas são um exemplo do movimento do setor da construção (Rivesti/Divulgação)

Revestimentos feitos de garrafas PET recicladas são um exemplo do movimento do setor da construção (Rivesti/Divulgação)

“O lixo é um erro de design”, diz o manifesto do projeto Ideia Circular. Baseada no conceito de Cradle to Cradle (“do berço ao berço"), a iniciativa da arquiteta Léa Gejer e a designer Carla Tennenbaum propõe discutir a Economia Circular com a filosofia de que os produtos devem já ser elaborados de forma que possam ser reutilizados. 

Enquanto essa premissa ainda não é a regra do mercado, o universo da arquitetura e da construção civil vem, cada vez mais, dando provas de como dar novos usos ao material que seria descartado. No segmento de revestimentos, por exemplo, a fabricação de produtos de alta qualidade usando resíduos de outros setores é destaque.

Garrafas plásticas

É o caso das garrafas PET recicladas, que são a principal matéria-prima das pastilhas da marca Rivesti: 85% de sua composição. Além disso, os produtos contêm aditivos minerais reaproveitados, são isentos de metais pesados e contaminantes e, no fim de seu ciclo de vida, também podem ser 100% reciclados.

Com 33 opções fixas de cores e ainda a possibilidade de personalização, cada metro quadrado das pastilhas evita a emissão de 3 quilos de dióxido de carbono na atmosfera e retira 66 garrafas PET do meio ambiente.

A fabricante, especialista em revestimentos ecológicos, é membro efetivo do Green Building Council, organização que atua globalmente no fomento da indústria de edificações verdes e na gestão de projetos para certificação ambiental.

Um problema climático

Relatório da ONU, divulgado no fim de outubro, alerta sobre a necessidade de uma redução drástica nos resíduos plásticos para enfrentar a crise global de poluição e aponta a adoção de abordagens circulares como um dos caminhos para isso.

A análise ressalta que o plástico também é um problema climático. Considerando o seu ciclo de vida, em 2015 os plásticos estavam ligados à produção de 1,7 gigatonelada de CO2 equivalente e, em 2050, esse volume deve saltar para 6,5 gigatoneladas, o que equivale a 15% do orçamento global de carbono.

Isopor

Há 20 anos, a empresa Santa Luzia desenvolveu uma tecnologia própria para substituir 98% da madeira em sua produção. No lugar, ela passou a reciclar plástico poliestireno expandido – conhecido pela sigla EPS e popularmente chamado de isopor –, transformando-o em novos produtos. 

Desde então, mais de 68 mil toneladas de resíduos de EPS já foram convertidas em material de construção sustentável (rodapés, rodatetos, guarnições, rodameios, revestimentos e decks). Segundo cálculos da empresa, isso equivale a 268 mil carretas de lixo ou 523 campos de futebol. Se o insumo principal ainda fosse madeira, 270 mil árvores teriam sido derrubadas para atender às demandas de fabricação.

A produção de revestimentos reciclados da Santa Luzia passou de 600 mil metros lineares em 2004 para 9 milhões de metros lineares em 2020 (Santa Luzia)

A matéria-prima vem do descarte de fabricantes de refrigeradores, veículos e pranchas de surfe, ou de cooperativas de catadores de lixo, em um trabalho que envolve 136 cooperativas e mais de 2.500 trabalhadores em sete estados.

Conchas de sururu

O arquiteto Marcelo Rosenbaum, o designer Rodrigo Ambrósio e o Instituto A Gente Transforma desenvolveram o Cobogó Mundaú, feito da concha de sururu, molusco comum na culinária da comunidade do Vergel, em Maceió. 

O projeto nasceu para dar uma destinação às 200 toneladas de conchas descartadas como rejeito após a pesca, que se acumulavam todos os meses nas margens da Lagoa Mundaú, gerando um problema ambiental e de saúde pública.

As conchas trituradas substituem a areia na composição com o cimento. Após oficinas e experimentações, chegou-se a uma mistura com 70% de conchas e 30% de cimento, moldada em formas também fabricadas com material reciclado pelo artesão Itamácio Santos. 

Produzidas de maneira artesanal na comunidade, as peças de cobogó ganharam escala industrial com o apoio da Pointer, marca de design democrático da Portobello. 

A iniciativa integra o projeto Maceió Inclusiva Através da Economia Circular, uma parceria da prefeitura de Maceió, o Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID Lab) e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS).

Cobogós desenvolvidos no Instituto A Gente Transforma são feitos de conchas de molusco trituradas (Portobello)

Lixo eletrônico

Há 16 anos, a Lepri, fabricante de cerâmicas, reutiliza lixo eletrônico, como vidro de lâmpadas fluorescentes e monitores de TVs e computadores, para criar seus produtos. Esse material, que chega à fábrica já descontaminado, é moído e trabalhado em laboratório para entrar na composição da massa e do esmalte dos pisos e revestimentos.

Além de dar destinação útil ao lixo eletrônico, o processo também reduz a emissão de poluentes, já que diminui a temperatura de queima dos revestimentos. E confere maior resistência aos produtos da empresa, que hoje tem 99% de suas linhas fabricadas com material descartado.

Outra iniciativa de destaque foi o desenvolvimento de uma técnica para aproveitar rejeitos de mineração, a partir da lama da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Desde 2016, a Lepri retira material do local e leva para seu parque fabril no interior de São Paulo. Hoje, cerca de metade dos produtos é feita com a lama de Mariana.

A Lepri usa lixo eletrônico e rejeitos de mineração para criar seus produtos (Lepri)

 

Material não reciclável

Outras indústrias, fora do mundo da construção, também têm dado sua contribuição. A JBS, líder global no setor de proteína, é um exemplo. A companhia desenvolveu o chamado Piso Verde. 

Resistente, o revestimento é próprio para pavimentação de ambientes externos, como de pátios. Só que, em vez de concreto, é fruto de um processo inovador para reaproveitar material de difícil reciclagem, como aparas de embalagens multicamadas (PVDC) e plástico utilizado em produtos in natura embalados a vácuo. 

“O conceito de Economia Circular é fundamental para a sustentabilidade das operações da JBS e estamos em constante ação para identificar oportunidades”, diz Susana Carvalho, diretora da JBS Ambiental. 

O Piso Verde está sendo usado na pavimentação de obras da própria JBS em todo o país. Apenas em Lins, na unidade matriz da JBS Ambiental, foi aplicado em uma área de 2,2 mil metros quadrados, o que corresponde a mais de 5 toneladas de aparas plásticas que deixaram de ir para aterros.

31O piso desenvolvido pela JBS é fabricado com resíduos de material que não poderia ser facilmente reciclado

Acompanhe tudo sobre:JBSEXAME-no-InstagramNetZero

Mais de Negócios

Quais são as maiores empresas de São Paulo? Veja ranking

Quais são as 10 maiores empresas de Santa Catarina? Veja quanto elas faturam

Quais são as maiores empresas do Rio de Janeiro? Veja quanto elas faturam

Quais são as maiores empresas de Minas Gerais? Veja quanto elas faturam