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Renner lucra R$415,8 mi, com reabertura de lojas e mais compras on-line

Número é 17,5% superior ao do quarto trimestre de 2020, mas ainda fica abaixo do patamar pré-pandemia; recuperação lenta do poder de compra e investimentos em digital influenciaram no resultado

Renner: busca pelo digital norteia estratégia da marca para 2022 (Fabio Pedro/Renner/Divulgação)

Renner: busca pelo digital norteia estratégia da marca para 2022 (Fabio Pedro/Renner/Divulgação)

KS

Karina Souza

Publicado em 17 de março de 2022 às 20h16.

Última atualização em 17 de março de 2022 às 21h15.

A Lojas Renner, uma das principais varejistas de moda no país, conseguiu avançar na recuperação em relação ao mesmo período de 2020, mas ainda não chegou aos patamares dos últimos três meses de 2019 em termos de rentabilidade e eficiência operacional. O lucro líquido da varejista foi de R$ 415,8 milhões, aumento de 17,5% em relação ao 4T20 e 18,9% menor do que o do 4T19 -- um trimestre de recordes para a companhia. Para Daniel Martins, CFO da Renner, "além dos fatores macroeconômicos, a maior participação das vendas via e-commerce no período e o aumento dos investimentos em digitalização (tanto dentro de casa quanto fora de casa) impactam o resultado na comparação com o período pré-pandemia". 

É um fator diferente da comparação entre os doze meses de 2021, comparados com os de 2019. Aqui, o principal fator que causou a redução de 42,2% no lucro líquido esteve relacionado a um aspecto não operacional, relacionado ao PIS/Cofins, que gerou quase R$ 1 bilhão a mais para a companhia. "Quando excluímos esse efeito da base do ano passado e analisamos somente a operação, o lucro líquido deste ano foi 11 vezes maior do que o registrado em 2020. Muito beneficiado por escala com a reabertura de lojas”, afirma Daniel.

Saindo da análise do lucro para olhar a receita líquida no trimestre, o montante de R$ 3,5 bilhões mostra que houve evolução em relação ao mesmo período de 2020 (de 22%) e de 2019 (23,9%). O aumento vem da reabertura econômica, com o aumento de 18,2% em vendas mesmas lojas, e também pela operação digital da companhia, que cresceu três dígitos na comparação com 2019.

A operação digital foi estruturada principalmente ao longo da evolução da pandemia no Brasil, "demandando maior capacidade de investimento da companhia para acelerar investimentos que estavam previstos para um prazo mais longo", segundo Daniel. Esse aumento em um curto espaço de tempo foi um dos principais fatores mencionados para que o Ebitda da companhia registrasse avanço de 5,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, mas ainda ficasse abaixo do registrado nos mesmos três meses de 2019 (redução de 19,5%).

Com mais consumidores habituados a acessar o site e app da empresa para comprar -- hoje, 30% da receita vem de consumidores 'omnicanal' -- a Renner também registrou redução na margem bruta em comparação ao período pré-pandemia, ainda que tenha avançado 1,2 ponto percentual na comparação com os mesmos três meses do ano passado. Isso porque, no site, os gastos com logística e a geração de receita a partir do marketplace tendem a produzir margens menores do que a venda de produtos nas lojas físicas. Além disso, a companhia sentiu o peso do câmbio contratado para produtos importados, que teve alta de 35%, bem como do aumento do frete internacional, como mostra o balanço.

O efeito respinga nas demais margens da companhia no trimestre. Nos três meses encerrados em dezembro, a margem líquida teve retração de 0,4 p.p. e, a margem Ebitda, de 4,2 p.p em relação ao mesmo período de 2020. A margem Ebitda evoluiu em 1,2 p.p., mas registrou queda de 3 p.p. na comparação com o período pré-pandemia.

"O quarto trimestre de 2019 foi recorde em margem e não recuperamos esse patamar ainda, principalmente em razão dos investimentos em digitalização, do aumento dos preços de aluguéis e da maior participação da receita vindo do ambiente on-line na operação”, diz Daniel.

Mas a expectativa da companhia é que isso não se mantenha no ao longo do ano. A inauguração do novo Centro de Distribuição, mais tecnológico, deve unir as entregas de estoques e de compras realizadas on-line, o que pode diminuir custos com logística, prazo de entrega e aumentar margens ao longo do ano. Além disso, a Renner já usou no quarto trimestre mais dados e inteligência artificial nos processos de abastecimento e de precificação, uma prática que deve continuar em 2022.

De todo modo, o foco da Renner é o de estruturar uma operação cada vez mais omnicanal. “O digital vai continuar a ter um crescimento acima da loja física e, mesmo com a rentabilidade menor, a gente quer utilizar essa plataforma para criar lealdade e garantir que o cliente fique mais tempo no nosso ecossistema”, diz o executivo.

A abordagem de unir o físico e o digital, em um ano de inflação elevada, também é tratada como prioridade pela companhia em razão do repasse de custos para os consumidores. Com a combinação entre digital e inauguração de lojas, há espaço para absorver certa margem e não impactar o poder de compra do consumidor.

É uma prioridade que conversa com a operação de serviços financeiros da Renner. No último trimestre, a varejista registrou aumento da inadimplência: as perdas líquidas foram de R$ 135,5 milhões, ante resultado positivo de R$ 12 milhões no mesmo período do ano anterior. Pressões inflacionárias e iniciativas digitais também fizeram as despesas operacionais nessa frente crescerem 10,4%. Tudo isso, mesmo com o aumento da receita, gerou um resultado 13% menor para essa frente no quarto trimestre de 2021.

Para este ano, o executivo aposta na experiência da companhia no setor para conseguir gerenciar crédito, de modo que não gere inadimplência. “A ideia é retomar o aprendizado e garantir que vamos gerar receita com qualidade de crédito, de modo que a operação continue sadia”, afirma Daniel. 

O mote da Renner no trimestre é o de uma companhia que corre atrás do digital como centro da estratégia de aumento de receita ao longo de 2022. Mais lojas e entrega com mais eficiência são objetivos também perseguidos pelos concorrentes ao longo de 2022, de olho em garantir mais espaço na preferência cada vez mais acirrada do consumidor.

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