Aurora: apesar da alta nos valores da ração de suínos, derivados do milho e da soja, a Aurora aumentou em 13,5% o abate total do período, totalizando quase 6,1 milhões de suínos (Ricardo Moraes/Reuters)
Victor Sena
Publicado em 10 de fevereiro de 2021 às 14h39.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2021 às 14h49.
As altas nas exportações, os reajustes no valor cobrado por carne suína Brasil e o Real em queda favoreceram a Aurora em 2020. A empresa, que reúne 11 cooperativas que compram de mais de 67 mil famílias produtoras, teve uma receita bruta de R$ 14,6 bilhões no ano passado. Em 2019, ela havia sido de R$ 10,9 bilhões.
O resultado é consequência principalmente da alta demanda chinesa. Dos 14,6 bilhões de receita, o mercado interno respondeu por 64,9% dela. As exportações responderam por 35,1%. Em volumes, o mercado doméstico absorve 70% da produção e as exportações, 30%.
O crescimento das exportações da Aurora foi de 61,8% em receitas e 23% em volumes. A China, sozinha, ficou com 40% das exportações totais da cooperativa. Dessa forma, a Aurora responde por 17,5% das exportações de carnes suínas do Brasil e por 6,6% das exportações de frango. Anteriormente eram, respectivamente, 16,8% e 6,4%.
Com o forte apetite chinês, cooperados da empresa que ainda não tinham habilitação para exportação correram contra o tempo para se adequar às regras e aproveitar a oportunidade de vender mais.
Hoje, a Aurora é a terceira maior processadora de carne do país e trabalha principalmente com suínos e aves. A empresa tem 35 mil trabalhadores diretos e seus fornecedores outros 46 mil.
O bom momento da empresa mostra a força do agronegócio em 2020, que teve um resultado econômico positivo, ao contrário do restante da economia brasileira, em meio à pandemia do coronavírus.
Na comparação com 2019, o número de suínos abatidos saltou 11,78%, de 22.487 para 25.135 animais por dia. No segmento aves, o incremento foi de 2,5%, permitindo elevar a capacidade de 980.000 para 1.004.381 aves abatidas por dia.
Apesar da alta nos valores da ração de suínos, derivados do milho e da soja, a Aurora aumentou em 13,5% o abate total do período, totalizando quase 6,1 milhões de suínos.
A cooperativa central exportou 192 mil toneladas – ou seja, 57% mais que em 2019 – para 36 países, tendo como principais destinos a China, Hong Kong, Estados Unidos, Chile e Japão.
O abate industrial gerou 568 mil toneladas de carnes de aves, das quais 261 mil toneladas destinaram-se ao mercado externo. As exportações, portanto, cresceram 6%.
A alta na demanda não exigiu grandes investimentos no aumento na criação de mais animais, de acordo com o presidente Neivor Canton. O que precisou ser alterado foram as linhas de produção, que passaram a operar também nos dias de sábado. Além disso, cerca de 5 mil novos postos de trabalho foram criados.
De acordo com o executivo, o ciclo de vida do suíno é de pelo um ano, o que dificulta qualquer intenção de aproveitar um momento específico de alta na demanda com incremento nas criações.
"Não existe muita flexibilidade na produção. Depende do ciclo. A ave tem um ciclo mais curto. O suíno tem um ciclo de um ano. Então, os ajustes são difíceis de se fazer para aproveitar essas oportunidades", explica Canton.
Com mais demanda por exportações, o presidente da Aurora explica que a empresa pode escoar um excesso de oferta que vinha encontrando no Brasil até então, o que liberou espaço para um reajuste dos preços cobrados, o que também melhorou os dados do faturamento.
Para os próximos anos, Canton não vê as vendas para a China com tanta força, até porque o país está investindo fortemente na criação de suínos, que foi dizimada em 2020 devido à peste africana.
A Aurora deve investir 500 milhões de reais, principalmente na expansão da sua área de processados e congelados. Quanto à demanda, a atenção da empresa está no crescimento do consumo de aves, que deve aumentar 20%.
Como é uma cooperativa, diferentemente dos concorrentes JBS e BRF, a Aurora trabalha com a formação e aumento da produtividade do pequeno produtor.
“O pequeno produtor jamais estaria participando de algumas oportunidades se não fosse um esquema de cooperativas. Há todo um esforço para que o pequeno produtor não desapareça. Há programas de qualidade que são levados ao campo, e que estancaram o êxodo rural”, defende o presidente da empresa.