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Quirk, do Seasteading: Futuro são nações flutuantes e inovadoras

O objetivo do The Seasteading Institute é concentrar cientistas em ilhas, inclusive fundando uma nova forma de fazer política, para estimular a inovação

JOE QUIRK: "Não há outro lugar no mundo que concentre processos sustentáveis como as ilhas" (The Seastanding Institute/Divulgação)

JOE QUIRK: "Não há outro lugar no mundo que concentre processos sustentáveis como as ilhas" (The Seastanding Institute/Divulgação)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 13 de novembro de 2017 às 18h14.

Última atualização em 13 de novembro de 2017 às 19h00.

O norte-americano Joe Quirk quer convencer o mundo de que é possível criar uma nova sociedade com foco em inovação científica em ilhas flutuantes no oceano. O projeto Blue Frontiers, do The Seasteading Institute, do qual Quirk é presidente, tem o desenho e o local para instalar 15 ilhas com autonomia governamental, financeira e regulatória para pesquisas na área de energia, engenharia e campos derivados da ciência.

O Seasteading Institute foi fundado em 2008 por Patri Friedman e Peter Thiel, co-fundador do PayPal. Depois de deixar o projeto, Thiel afirmou que as ilhas flutuantes estão em um “futuro muito distante”. Quirk discorda. Em visita ao Brasil para uma palestra nesta segunda-feira, o atual presidente do instituto detalhou em entrevista a EXAME os planos de sua equipe, que pretende criar o ambiente inovador com 60 milhões de dólares e devolver à Polinésia Francesa — onde serão instalados os protótipos — cerca de 500 milhões de dólares.

Como está o projeto desde a última vez que o senhor esteve no Brasil, há dois anos?

Tivemos a visão para iniciar governos protótipos no oceano. Organizamos uma grande comunidade, fizemos pesquisas e conseguimos o que precisávamos para começar. Estávamos nesse ponto. Dali em diante, conseguimos as inovações de engenharia e legais para justificar a criação dessa comunidade alternativa. Só precisávamos de um local. Um ano depois, a Polinésia Francesa entrou em contato conosco e o presidente nos convidou a fazer pesquisa nas ilhas para ver se havia o que o Seasteading precisava. São águas calmas, com bloqueios naturais de ondas e empresários que trabalham com blue technology.

Como está agora?

Precisávamos de governantes com visão de futuro, que nos permitiriam regulação para autonomia administrativa e, mais do que tudo, de pessoas que não achassem que somos malucos. Em alguns lugares, falar com governantes sobre cidades flutuantes parece papo de louco. Mas polinésios têm história de navegação entre ilhas. A ideia de viver em uma ilha, não gostar da situação e ir embora em busca de criar uma nova sociedade não é tão distante da realidade. Então, vamos construir 15 pequenas ilhas, conectadas entre elas no Taiti. Pedimos uma legislação especial para regular a autonomia e dar incentivos fiscais. Com tudo pronto, levaremos de 200 a 300 pessoas para morar ali. Teremos cientistas, um ambiente sustentável, com energia solar e mecânica por ondas. Por fim, usaremos tecnologias para que a ilha se assemelhe a qualquer outra no entorno. Só de muito perto será possível perceber que estão, na verdade, flutuando.

É possível criar todo esse ambiente até 2020?

Sim, essa é a agenda com que estamos trabalhando.

Peter Thiel concedeu recentemente uma entrevista ao jornal The New York Times dizendo que ilhas flutuantes estão em um “futuro muito distante”. O que acha dessa declaração?

Provamos que ele está errado, não?

Essa é justamente a pergunta. Quem está errado?

Até 2011, eu nunca havia encontrado com Peter Thiel. Ele co-fundou o instituto em 2008. Desde então, fomos nós que trabalhamos no projeto. Thiel é um homem ocupado, com muitas atribuições. Ele nem sabia sobre nosso projeto na Polinésia Francesa até recentemente. Muitas das nossas negociações com governos são secretas. Thiel fundou o instituto porque é uma pessoa conhecida. As pessoas acreditam que ele trabalha ativamente no projeto, mas não. Ele é um doador. Adoraríamos que ele voltasse a se envolver, agora que temos uma agenda.

Sobre o orçamento: o senhor diz sempre que o projeto não será tão caro quanto se pensa. Quanto custará essa etapa?

O instituto tem doadores. Mas o projeto na Polinésia Francesa tem investidores. Levantamos um round que paga pela análise de impacto econômico e ambiental, além de passar as necessidades de legislação para o país. As primeiras 15 ilhas custarão ao todo 60 milhões de dólares, talvez um pouco a mais. Faremos três fases e triplicaremos esse número até 2030. Serão, mais ou menos, 170 milhões de dólares em 10 anos. Contratamos consultorias econômicas para calcular o retorno para a Polinésia Francesa. No fim das fases, serão criados 2.000 empregos diretos ou indiretos. O retorno inicial será em moeda própria. A descentralização no projeto é governamental e financeira. Tudo de forma transparente.

O que uma ilha isolada no oceano pode garantir de benéfico ao avanço da ciência que os pesquisadores não poderiam encontrar em terra firme?

Se pensar no futuro, em economias sustentáveis, o que vem à mente são os recursos e seus valores. As ilhas terão energia abundante por ondas, vento e sol. As pessoas que chegam hoje a nós são justamente os provedores de recursos, principalmente do setor de energia. Teremos um grupo de incubadoras oferecendo regulação autônoma para pesquisa. Essa concentração de inovadores com liberdade para trabalhar se tornará um polo de ideias. Com isso, há um ambiente de troca de ideias e aprendizado. Todos os tipos de inovadores estão interessados em algo assim e não há outro lugar no mundo que concentre processos sustentáveis como as ilhas.

Um dos atrativos é a autonomia política. Não há perigo de surgir uma tirania? Se houver um crime, quem resolve?

As ilhas são uma tecnologia que permite a regulação de baixo para cima. Vamos criar startups regulatórias. Mais: as ilhas podem ser desagregadas umas das outras e reconectadas a outras. Se o grupo que vive naquela ilha não gosta do ambiente em que está vivendo, pode simplesmente se mudar, isolando a sociedade que deu errado e formando uma nova em outro local. É uma descentralização do poder e permissão para regulações surgirem naturalmente. Em vez de pegar a regulação de um país ou formar um misto, podemos pegar o melhor de cada um. Inicialmente, é fácil criar paz e prosperidade entre poucas pessoas. Dali, vamos ganhando escala conforme crescem os Seastands.

Então há um espaço para emergir um líder político nesse espaço.

Uso um cruzeiro como exemplo.

Há um capitão.

Ninguém vota no capitão ou se importa com o que ele faz. Sabem que o ambiente é bom e, quando passageiros embarcam, sabem o que esperar. O que impede o capitão de se tornar um tirano são as outras companhias de viagem que o passageiro pode escolher. O mecanismo que importa é o direito de ir para outro lugar. Não se precisa de líderes políticos, mas de provedores de um bom ambiente de governança.

Os provedores têm poder político. Quem são eles?

Quem quer que emerja no futuro com essa função.

Poderia ser o senhor?

Não acho que serei eu. Pode-se voluntariamente seguir um líder, se a sociedade ali criada quiser. Mas enquanto puderem se mudar, o sistema político não é uma preocupação. As ilhas são uma tecnologia para sociedades livres. Se forem forçadas a seguir alguém, aí há um problema.

Mas em qualquer democracia é preciso lidar com isso. A eleição é a aclamação de um líder.

De forma alguma. Em todo país, há uma porção dos habitantes que não estão satisfeitas com o sistema político. Eleições são uma forma de a maioria impor à minoria a fazer o que querem. Se a “cidade” pode se desconectar e ir embora, é um sistema totalmente diferente.

Seria uma imigração sem fronteiras? Blocos econômicos funcionam assim.

Mas imigração você não pode levar consigo à sua terra. Isso faz toda a diferença.

Conhece algo do ambiente científico do Brasil?

Não. Mas seria ótimo ver um Seastand na costa do Brasil. Se conseguirmos contatos com o governo e eles nos permitissem ter uma unidade, poderíamos criar um ambiente de inovação em que poderíamos tomar o risco das falhas de pesquisa dividindo o ambiente de prosperidade que criamos. Iniciaríamos outros exemplos semelhantes e voluntários. Seria um acordo parecido com a Polinésia Francesa. Com a prosperidade e produção, haveria impacto positivo de produção e impostos ao país. Na Polinésia Francesa, a consultoria calcula que poderemos inserir 500 milhões de dólares na economia ao fim da terceira fase. Mas primeiro seria necessário um acordo com o governo e investir em estudos para entender a particularidade da economia em cada região da costa do Brasil.

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