Jorge Santos Carneiro, da IOB: “Essa é a reforma do consumo. Mas outras virão. E nós vamos continuar investindo para estar ao lado dos nossos clientes em cada uma delas.” (IOB/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 06h05.
Última atualização em 18 de setembro de 2025 às 08h19.
Se toda a legislação tributária do Brasil fosse reunida em um único livro, ele teria mais de 50.000 páginas.
O número dá uma ideia do tamanho do desafio enfrentado diariamente por contadores e pequenas empresas — e é justamente essa complexidade que a reforma tributária promete simplificar.
Na prática, o que está por vir é uma das maiores transformações fiscais da história do país. E, enquanto o novo sistema não entra em vigor, empresas correm para se adaptar.
Uma delas é a IOB, tradicional fornecedora de soluções para o setor contábil, que decidiu investir 250 milhões de reais até o fim de 2025 em tecnologia, inteligência de dados e novos produtos. Tudo pensando na reforma tributária.
Entre as novidades, estão o lançamento do Mentor Tributário, ferramenta de apoio à transição fiscal, e a ampliação do portfólio com produtos voltados a pequenas empresas e RH.
“Estamos diante da maior mudança no sistema tributário brasileiro em décadas. Sabemos da complexidade e dos impactos que isso trará para os negócios", diz Jorge Santos Carneiro, presidente da IOB.
O novo investimento é mais um capítulo da transformação iniciada em 2020, quando Carneiro comprou a operação brasileira da britânica Sage.
A IOB, que já foi referência incontestável entre contadores, havia perdido espaço após anos de desinvestimento.
Desde então, a empresa passou por uma reestruturação completa.
“Nós partimos de um NPS negativo, de -30. Hoje, atingimos +41”, afirma o executivo. “Isso mostra que a confiança está sendo reconstruída. E isso só é possível porque investimos tanto em produto quanto em pessoas. Não existe cliente satisfeito sem equipe engajada.”
Segundo ele, o NPS interno — uma espécie de termômetro de satisfação dos funcionários — chegou a +84, com mais de 5.000 comentários de funcionários em uma pesquisa recente.
“Os produtos podem ser ótimos, mas o cliente vai ter dúvidas. Vai ter dificuldades", diz. "E a gente só consegue responder bem se tiver pessoas preparadas, motivadas e bem treinadas.”
O principal lançamento da empresa no curto prazo é o Mentor Tributário, que chega ao mercado em novembro.
A solução atua como uma ponte entre contador e cliente, analisando notas fiscais, simulando cenários e projetando mudanças de regime com base no novo modelo de tributação sobre consumo.
“O Mentor ajuda o contador a comunicar com seu cliente e orientar decisões. A ferramenta mostra, por exemplo, se a empresa precisa ajustar os preços para manter a margem com o novo imposto, e o que pode mudar ano a ano durante a transição”, diz Carneiro.
Apesar do discurso oficial de simplificação, o executivo vê um cenário mais desafiador no curto prazo.
“Num primeiro momento, a intenção é simplificar — e de fato vai simplificar. Mas a verdade é que, até 2033, vamos conviver com dois sistemas em paralelo. Isso, na prática, vai tornar tudo mais complexo até lá”, afirma.
A expectativa da empresa é que a demanda por seus serviços aumente à medida que os novos tributos forem sendo implementados, começando em 2026.
“Já fizemos mais de 100 eventos sobre reforma tributária, muitos presenciais. A gente sabe que o mercado vai precisar de muito apoio para entender e aplicar as novas regras. E queremos ser esse parceiro.”
Fundada há mais de 50 anos, a IOB ficou conhecida como a central de apoio para dúvidas fiscais dos contadores.
Durante décadas, era comum que escritórios ligassem para tirar dúvidas diretamente com consultores da empresa.
Esse modelo ainda existe — a IOB realiza mais de 1 milhão de atendimentos por voz por ano —, mas hoje está integrado a uma estratégia digital mais ampla.
Desde 2020, a empresa passou a concentrar seus esforços em um novo ecossistema de produtos, reunidos na plataforma IOB Online.
O sistema combina software fiscal, contábil e de folha com conteúdo regulatório atualizado diariamente.
“Pela primeira vez, temos um produto que une duas vertentes: o sistema contábil e o conteúdo. O cliente pode emitir nota, acompanhar sua operação e entender, com clareza, como a legislação impacta seus preços e margens”, afirma Carneiro.
Nos últimos anos, para crescer, a empresa também partiu para expansão inorgânica por meio de aquisições -- o que não deve acontecer neste ano.
Segundo Carneiro, o foco tem sido consolidar as empresas compradas nos últimos anos. “Investimos bastante internamente. Algumas das aquisições ainda não chegaram ao breakeven, mas estamos trabalhando para fortalecer essas operações.”
Ele também destaca que o crescimento atual — de dois dígitos — vem da base instalada e da confiança reconquistada com os clientes.
“Nos últimos anos, trabalhamos muito voltados para dentro. Agora, estamos mais preparados para crescer com consistência.”
Enquanto o setor contábil se prepara para um período de transição fiscal que pode durar até o início da próxima década, a IOB quer se posicionar como o parceiro mais confiável para atravessar esse caminho — mesmo que a promessa de simplicidade ainda esteja longe de se concretizar.
“Essa é a reforma do consumo. Mas outras virão. E nós vamos continuar investindo para estar ao lado dos nossos clientes em cada uma delas.”