Executivos lendo jornal: segundo estudo do Hay Group, 62% dos presidentes de empresa no Brasil têm mais de 51 anos (Getty Images)
Luísa Melo
Publicado em 18 de setembro de 2013 às 11h28.
São Paulo - A grande maioria dos presidentes de empresa do Brasil é homem (98%) e possui mais de 51 anos (62%). É o que revela uma pesquisa do Hay Group, realizada entre junho de 2012 e divulgada neste mês. O estudo ouviu 4.324 executivos de 322 empresas.
"Este número vem diminuindo. Há oito anos, quando fizemos a mesma pesquisa, a média de idade estava acima dos 60 anos", afirma Leonardo Salgado, diretor do Hay Group.
O preço do executivo
De acordo com a pesquisa, o salário médio mensal de um presidente de empresa é de R$ 90 mil e o bônus médio de R$ 845 mil. Ao longo do ano, esse valor somado chega a cerca de R$ 2 milhões, sem contar os incentivos a longo prazo (ILPs).
"O CEO no Brasil é caro. Para o mesmo perfil de profissional que aqui se paga em torno de US$ 1 milhão ao ano, nos Estados Unidos pagaria-se US$ 700 mil e na Europa € 700 mil ", diz Salgado. Segundo ele, é por esse motivo que há uma tendência em "importar" presidentes da Europa para o Brasil. "Eles têm a mesma ou melhor qualificação que os brasileiros e recebem 20, 30% a menos", explica.
A pesquisa também revela que, com o passar dos anos, está ficando mais difícil para os executivos conseguirem alcançar o bônus. Em 2011 60% deles atigiram ou superaram as metas, enquanto este ano apenas 41% conseguiram a façanha. Já a porcentagem dos que receberam bônus zero, que era de 5% há dois anos, cresceu para 20% em 2013.
Cada vez mais caro
Somados salário base, bônus e incentivo a longo prazo, o valor pago aos presidentes de empresa em 2013 é 123% maior do que em 2004. Descontada a inflação, isso representa um INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), ou seja, um aumento real de 40%.
O estudo aponta ainda que, nos últimos cinco anos, dentro da remuneração total dos executivos, a porcentagem referente ao salário base e ao bônus diminuiu e a dos incentivos a longo prazo (períodos de cerca de cinco anos) cresceu. Entre 2004 e 2008 o cenário era um pouco diferente: neste período a faixa correspondente ao bônus aumentou.
De acordo com Salgado, isso pode ser explicado em partes pela profissionalização do mercado brasileiro entre 2005 e 2006, com a abertura de diversas IPOs (oferta pública inicial) e muitas empresas terem deixado de ser familiares para se tornarem de capital aberto. Porém com a crise de 2008, veio a necessidade de trabalhar o longo prazo e reter talentos e, por isso, a queda do bônus e o aumento de ILPs.
"O bônus está ligado ao que o funcionário já produziu, portanto, ao recebê-lo ele poderia deixar a empresa. Já o incentivo a longo prazo é referente ao que ele se propõe a fazer, por isso é uma ferramenta de retenção. Com o ILP você dá patrimônio, mas não dá liquidez", explica Salgado.
A maioria das empresas (73%) vincula o ILP à ação, ou seja, a quantia e o pagamento ou não do incentivo dependem do valor de mercado da companhia. Outas 23% fixam em dinheiro e 4% utilizam as duas formas.
Veja a tabela com os dados dos últimos dez anos:
Ano | % da remuneração em salário base | % em bônus | % em incentivos de longo prazo |
---|---|---|---|
2004 | 63 | 32 | 5 |
2006 | 57 | 35 | 8 |
2008 | 51 | 39 | 10 |
2010 | 53 | 33 | 14 |
2012 | 51 | 31 | 18 |
2013 | 51 | 30 | 19 |
Investimento em retenção
A quantidade de presidentes que deixam suas empresas, que tinha crescido de 2011 para ano passado, caiu em 2013. Em 2011, o turnover registrado era de 10%. Em 2012 chegou a 19% e agora está em 16%. Já em relação aos presidentes escolhidos para substituir aqueles que deixam as empresas, a pesquisa revela que a tendência em 2013 é de promover profissionais da casa, ao invés de realizar um recrutamento externo. No ano passado, dos novos presidentes 58% haviam sido contrados, contra 42% promovidos. Este ano, apenas 47% foram contratados, enquanto 57% foram promovidos.
Porém, em relação ao salário, ainda recebem mais os profissionais que vêm de fora, apesar de a diferença para os promovidos ter diminuído ao longo do ano. Em 2012, os contratados recebiam 10% mais do que seus antecessores e os promovidos 19% menos. Este ano, o percentual mudou para 14% mais para os contratados e 4% menos para os profissionais da casa. "As empresas perceberam que um CEO se faz dentro de casa, mas que o talento interno já não é tão baratinho quanto antes", diz Salgado.
Bônus abaixo da meta
Sessenta e três por cento das empresas pesquisadas pelo Hay Group pagaram bônus abaixo do esperado em 2013. O número é explicado pelas altas metas estimadas pelas companhias para o ano que não foram cumpridas devido ao cenário econômico. "A tendência é que essas as metas diminuam diante do cenário pessimista", avalia Salgado.
Veja a distribuição por setores:
Porcentagem de empresas abaixo da meta | Setor |
---|---|
Até 50% | Engenharia e Construção Civil |
De 51 a 60% | Elétrico, Serviços, Papel e Celulose, Químico e Petroquímico, Manufatura, Montadora e autopeças |
De 61 a70% | Serviços de Saúde, Cimento e Materiais de Construção, Comércio, Agronegócio, Consumo de não-duráveis |
De 71 a 80% | Óleo e gás, Consumo de duráveis, Telecom e Tecnologia, Siderúrgica e Metalúrgica, Mineração |
Maior que 80% | Comunicação e Mídia, Transporte e Logística |
Remuneração total por regiões
Por regiões, a variação da remuneração total em 2013 chama a atenção no Centro Oeste, onde cresceu 33%. No sudeste, houve um pequeno crescimento, de 5% (Base 100). Na região Norte, a remuneração aumentou 3% e no sul apenas 1%. A única região em que remuneração diminuiu foi o Nordeste, com 5% de queda.