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Da Redação
Publicado em 13 de maio de 2011 às 17h05.
A intenção do Banco do Brasil de reestruturar sua área de seguros é bem vista pelos especialistas do setor. Conforme antecipado por EXAME nesta sexta-feira (6/2) - clique aqui para ler a notícia -, o BB pretende selar uma parceria com uma única seguradora, racionalizando seu portfólio de produtos e partindo para disputar mercado com as grandes companhias do setor.
O UBS Pactual é o assessor do banco na operação. Na semana passada, as propostas das seguradoras interessadas foram recebidas. Para os especialistas, se o BB mantiver a intenção de montar a operação por meio de troca de ativos, sem envolver desembolso de caixa, as seguradoras brasileiras podem sair em desvantagem devido ao seu porte diante das gigantes mundiais do setor.
Atualmente, o BB opera com diversos parceiros. Para veículos e saúde, trabalha junto com a SulAmérica. Na área de vida e patrimônio (seguro residencial, seguro contra incêndio, etc), seu parceiro é a Aliança do Brasil.
Em capitalização, atua com a SulAmérica, por meio da Sulacap, e com a Icatu. O parceiro na área de previdência complementar é o gestor americano Principal Financial. O leque de parcerias aumentou quando o banco adquiriu o paulista Nossa Caixa, no final do ano passado. Com a nova controlada, vieram também Porto Seguro, Mapfre e SulAmérica (na área de seguro para veículos e patrimônio), Mapfre (seguro de vida, acidentes, etc); e Icatu (títulos de capitalização).
A reestruturação planejada pelo BB é positiva por dois motivos, segundo os especialistas: racionaliza e potencializa os ganhos do banco com venda de seguros; e segue a tendência mundial. "Os bancos estão se focando na análise de risco de crédito, e transferindo os seguros para parceiros com conhecimento do mercado", afirma o consultor Jorge Abel Peres Brazil, especialista no setor e responsável, entre outros pela integração das áreas de seguro dos bancos Noroeste, Bozano e Meridional com o Santander.
Mas a dúvida é quem poderia atuar como agente único de seguros do BB. A brasileira mais cotada é a SulAmérica. As units (certificados de depósito de ações) da empresa subiram 8% na última sexta-feira, quando o Portal EXAME revelou os planos do BB. A favor da companhia, está o fato de já ser parceira do BB, contar com um portfólio completo de produtos, e ser uma das líderes do mercado.
A principal desvantagem da SulAmérica é ter um porte muito menor do que o de outros gigantes do setor e possuir um parceiro internacional, o ING, que se encontra em situação financeira delicada, inclusive tendo sido resgatado pelo governo holandês.
Os envolvidos na estruturação do negócio admitem dificuldades para calcular o seu valor, mas algumas referências podem dar uma noção. Há cerca de um ano, o Santander também buscou reestruturar sua área de seguros.
Ao contrário do que pretende o BB, não seria criada uma joint-venture com uma seguradora. A parceira simplesmente compraria o direito de distribuir, com exclusividade, seus produtos na rede do Santander. Com um terço do número de agências do BB, o banco espanhol pediu cerca de 400 milhões de reais pelo negócio. O valor foi considerado alto pelo mercado, e o banco não conseguiu unificar seu portfólio de apólices.
Difícil para os brasileiros
O BB conta com 3.150 agências. Os especialistas calculam que somente o acesso à sua rede valha mais de 1 bilhão de reais. Internamente, o BB avalia que seu setor de seguros em cerca de 20 bilhões de reais - um valor considerado exagerado, já que o valor de mercado do BB é de 38,6 bilhões de reais. Mas, mesmo que a cifra limite-se ao acesso à rede, já seria um complicador para as empresas brasileiras.
O valor de mercado da SulAmérica, por exemplo, é de 1,9 bilhão de reais. Caso do BB insista na troca de ativos, a SulAmérica poderia ser obrigada a abrir mão de uma fatia considerável de seu capial para montar a parceria. "Se ninguém bancou a proposta do Santander em um momento de mercado em alta, o que dizer de um negócio desse porte, com o mercado deprimido?", pergunta um analista de instituições financeiras que pediu para não ser identificado.
Já a Porto Seguro não é apontada como uma forte candidata ao negócio. Em termos de tamanho, a empresa teria vantagens sobre a SulAmérica, já que seu valor de mercado é de R$ 3,1 bilhões. Embora tenha entrado no radar do BB com a compra da Nossa Caixa, a direção da seguradora dá mostras de querer manter sua independência e já descartou algumas propostas de fusão e aquisição. "Duvido que a Porto Seguro fosse compartilhar seu controle; o dono seria completamente avesso a isso", afirma o presidente de uma companhia seguradora que prefere não se identificar.
Entre as grandes seguradoras estrangeiras, também há dúvidas sobre o potencial para investir. Algumas foram fortemente prejudicadas pela crise financeira mundial, como a americana AIG, que precisou ser resgatada pelo governo dos Estados Unidos para não falir. Em outros casos, o problema é de portfólio.
"Algumas seguradoras são muito grandes, mas atuam apenas em um ramo de produtos", afirma o consultor Peres Brazil. É o caso da MetLife, cujo negócio são os produtos de vida e saúde. Se o BB realmente pretende transferir todos os produtos - de seguro de automóvel até apólices de vida - para um único parceiro, isso traz uma desvantagem para companhias com o perfil da MetLife.
Estrangeiros mais cotados
Das grandes empresas estrangeiras, a que teria mais condições de assumir o acordo, segundo os especialistas, é a espanhola Mapfre. Além de já manter uma parceria com a Nossa Caixa, a companhia mantém um portfólio completo de seguros, já mostrou apetite para se expandir nos últimos anos, e tem porte suficiente para uma troca de ativos.
Na Bolsa de Madri, seu valor de mercado é de 6,148 bilhões de euros. "Se eu pudesse apostar, apostaria hoje na Mapfre", afirma Peres Brazil. A avaliação é compartilhada por outros observadores. "Para mim, quem tem o estilo mais agressivo e já deu diversos sinais de que planeja crescer no Brasil é a Mapfre", afirma um executivo do setor.
Diante das dificuldades criadas pela crise mundial, o BB também não descarta seguir sozinho na reestruturação, e investir no setor como fez o Bradesco - que tem 36% do lucro gerado pela seguradora - e o Itaú. O problema, no entanto, seria de competitividade. Sendo uma empresa majoritariamente estatal, a seguradora teria de se submeter à Lei das Licitações e não poderia adquirir nada sem concorrência pública. Isso limitaria a agilidade para se movimentar em um mercado altamente competitivo.
Outra restrição é o tempo de aprendizado. "O principal ativo do BB hoje é a rede de agências, e a maior deficiência é o pouco conhecimento para gerir uma carteira de seguros", afirma um analista de bancos que pediu anonimato. Lembrando que o BB é uma instituição pública, a criação de uma seguradora poderia abrir mais uma brecha para loteamentos políticos e disputas partidárias que nada acrescentariam às necessidades de quem quer disputar a liderança do setor. "O tempo de aprendizado seria superior ao de uma instituição privada", diz Peres Brazil.
O mercado não duvida, no entanto, de que uma forte atuação do BB pode mudar o panorama dos seguros no Brasil. "O banco possui um poder de distribuição violento. Com certeza, competiria com os grandes", afirma Peres Brazil. Resta saber quem estará ao seu lado para conquistar esse mercado.