Milner: o físico russo que fez fortuna investindo em empresas pontocom (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2011 às 08h08.
São Paulo - O círculo social de qualquer pessoa sempre foi importante para que soubéssemos melhor quem ela é. Em tempos de expansão das redes sociais, essa curiosidade está cada vez mais aguçada. A bola da vez é o próprio Facebook, o maior site de relacionamentos do mundo. E o amigo de seu fundador, Mark Zuckerberg, que mais chama a atenção hoje é Yuri Milner, um físico russo que já investiu mais de 500 milhões de dólares no Facebook.
Milner voltou aos holofotes nesta semana, ao participar de uma injeção de capital liderada pelo Goldman Sachs. Dos 500 milhões de dólares aportados no site, a Digital Sky Technologies (DST), empresa de investimentos fundada por Milner em 2005, entrou com 50 milhões. O restante foi desembolsado pelo banco.
A operação ganhou destaque na imprensa ao avaliar o Facebook em 50 bilhões de dólares – mais do que medalhões do mundo pontocom, como o site de compras eBay, o Yahoo! e a Time Warner. Com o novo aporte, Milner teria, então cerca de 1% da empresa.
Estilo próprio
É claro que, com essa fatia de capital, Milner nem de longe ameaça o controle de Zuckerberg sobre a empresa. Para falar a verdade, ela é metade do que o investidor russo detinha em 2009, quando aplicou dinheiro pela primeira vez no Facebook. Naquela época, a DST pagou 200 milhões de dólares por 2% do site. Aquela transação também fez barulho nos jornais, ao estabelecer que o “preço” de mercado do Facebook era de 10 bilhões de dólares.
E é esse justamente o charme de Milner para fascinar não apenas Zuckerberg, mas uma série de pontocom do Vale do Silício. Seu estilo de negociação é peculiar em vários pontos. O primeiro é a rapidez com que Milner fecha os negócios. Ao contrário de outras empresas de investimento, que podem demorar meses para ter uma proposta aprovada pelos vários comitês internos, Milner tem apenas um sócio – Gregory Finger. Na prática, porém, é frequente que tome as decisões sozinho.
Outra atitude de Milner para acelerar os negócios é dispensar alguns procedimentos. O principal deles: a famosa due dilligence, procedimento de auditoria para averiguar os números do candidato a receber o investimento. Ao contrário de outras empresas de private equity, que contratam auditores independentes para esse trabalho, Milner costuma fazer a avaliação por conta própria.
Fatia mínima
Milner também fascina as empresas por seu comedimento. Nos Estados Unidos, o russo compra pequenas fatias de capital – 1%, 2%, não muito mais do que isso. Não exige assentos no conselho, nem tenta indicar diretores executivos. Em entrevistas, o investidor costuma afirmar que prefere manter os controladores livres para tomar as melhores decisões para o negócio crescer, e que prefere ser visto como um conselheiro informal.
E o manancial de informações de Milner seduz os empreendedores tanto quanto o dinheiro que ele pode aportar em seus negócios. Zuckerberg é um dos que fazem questão de encontrá-lo sempre que Milner está nos Estados Unidos – algo que ocorre, pelo menos, uma vez por mês.
Dessas conversas, Zuckerberg saiu com boas sugestões para lançar o Facebook Credits, a moeda virtual do site que deve responder por 20% a 30% das receitas da companhia no futuro. O serviço baseou-se em um modelo melhorado da VKontakte, a maior rede social no idioma russo e controlada pela DST.
O estilo de negociar de Milner fez tanto barulho no Vale do Silício, que as empresas locais já exigem de potenciais investidores “contratos estilo-DST”. Isto é: a venda de pequenas fatias por cifras que catapultem o valor da empresa e sem exigências de governança corporativa.
A revista Fortune calcula que a DST tenha aplicado 1,3 bilhão de dólares nos últimos dois anos em empresas de tecnologia dos Estados Unidos. Entre elas, estão o Groupon, maior site de compras coletivas do mundo, e o Zynga, a maior desenvolvedora de jogos online do planeta. Foi o Zynga quem criou, por exemplo, o FarmVille, a famosa fazendinha na qual milhões de membros do Facebook descobriram sua vocação para a vida rural – ao menos, na internet.
Amigo do amigo
Milner não economiza elogios ao Facebook, e afirma que o site vai acabar unindo toda a civilização do planeta em um único lugar. Por ora, o site tem 500 milhões de usuários, e Milner conta com apenas 50 amigos em seu perfil. Lógico, Zuckerberg é um deles – mas é outro quem chama a atenção da imprensa. Trata-se de Alisher Usmanov.
Usmanov é um dos homens mais ricos da Rússia, mas a origem de sua fortuna é polêmica. Nos anos 80, ele passou seis anos preso no Uzbequistão, acusado de fraudes e desvio de dinheiro – crimes negados por Usmanov, que os atribui à perseguição política. Menos de dez anos depois, ele ressurgia como diretor de um grande banco local. Em 1989, a então Justiça soviética retirou as acusações e expurgou seu passado. Em 2000, a Suprema Corte uzbeque considerou as acusações injustas.
Usmanov entrou para a DST em 2008, quando comprou cerca de um terço da empresa. Hoje, ele detém 25% e dois dos oito assentos do conselho. Outros investidores que participam do capital da DST são o Goldman Sachs e o hedge fund americano Tiger Global.
Para a Fortune, a relação com Usmanov é a única coisa que pode atrapalhar os planos de Milner de ser um private equity de alcance global. Quando Milner conduz sua própria due dilligence, não faz nada ilegal ou questionável? Não oculta nada? São dúvidas que, segundo a revista americana, a ligação com Usmanov despertam. Em resposta à publicação, Milner afirma que todos os envolvidos nas negociações concordam com seus métodos, e que o Goldman Sachs e o Tiger Global não aceitariam Usmanov, se não fosse um investidor sério.
Em épocas de redes sociais em alta, as amizades serão cada vez mais determinantes para o sucesso ou o fracasso de alguém. O Facebook de Zuckerberg não foi diretamente atingido pelas dúvidas sobre a relação entre Milner e Usmanov. Mas nunca se sabe quando o amigo do amigo pode começar a atrapalhar.