Assim como outros jogos oferecidos pela Blaze, o “jogo do aviãozinho” é ilegal no Brasil (Joédson Alves/Agência Brasil)
Repórter de Negócios
Publicado em 18 de dezembro de 2023 às 12h00.
Última atualização em 17 de janeiro de 2024 às 14h50.
O nome da plataforma de apostas Blaze voltou ao centro das discussões neste domingo, 17, após uma reportagem do Fantástico, da Rede Globo. A matéria mostrou que a justiça brasileira já bloqueou R$ 101 milhões do site de apostas.
A decisão vem após denúncias de usuários de que a plataforma não paga o que promete aos jogadores. As acusações em relação ao não pagamento dos apostadores não são novas, a empresa já tinha sido convocada pela CPI das Pirâmides Financeiras em agosto passado.
Por trás das novas denúncias, está o “jogo do aviãozinho”, um jogo de azar difundido aqui por alguns dos maiores influenciadores digitais do país.
A história do jogo é simples: um avião decola e o prêmio vai aumentando conforme a distância do voo. O apostador precisa definir a hora de parar a viagem. Se antes de tomar a decisão aparecer na tela a palavra “crashed”, ele perde.
Quem teve a sorte grande, tem denunciado que a plataforma não paga e costuma atribuir supostas fraudes aos jogadores para não honrar com as obrigações.
Assim como outros jogos oferecidos pela Blaze, o “aviãozinho” é ilegal. Desde 2018, um decreto do governo Michel Temer permitiu a realização de apostas esportivas, atividade para a qual o Senado Federal aprovou lei de regulamentação nos últimos dias e que deve voltar à Câmara dos Deputados para apreciação.
A lei não inclui, no entanto, jogos de azar, como é o caso do “jogo do aviãozinho”, nem cassinos online, outro mercado explorado pela Blaze.
A plataforma também oferece o cardápio tradicional das casas de apostas, como jogos de futebol, basquete, dentro da chamada “cota-fixa”, quando o apostador sabe o que pode receber caso acerte o palpite de cada jogo ou números de lance em uma partida.
Com sede em Curaçao, na região do Caribe, a Blaze procura se mover sem deixar muitas pistas e não tem representantes legais no país. Há muitas incógnitas sobre os reais donos da plataforma e, vez por outra, aparece um novo “exposed” de quem seria o proprietário do negócio.
Um caso interessante aconteceu em agosto, em depoimento à CPI das Pirâmides Financeiras. Andrés Rudes, presidente do Santos, time que tem a empresa como patrocinadora máster, disse que não conhecia os proprietários.
“Eu não posso garantir quem é o dono. Eu não tenho essa informação. No nosso contrato, quem assina pela Blaze é Cindy e Lily, mas não posso afirmar se são donos ou prepostos. Assinam como patrocinadores”.
Parte do nome da Blaze no Brasil foi feito a partir de uma bem estruturada campanha de marketing digital. A plataforma usa uma rede de influenciadores com milhões de seguidores como Carlinhos Maia, Viih Tube, Neymar e Felipe Neto.
Um nome importante nesta história é do influenciador Jon Luan Kovarik, conhecido nas redes sociais como Jon Vlogs. Ele já chegou a ser apontado como sócio da Blaze e, assim como os outros influenciadores, acusado de ter ganhos adicionais de acordo com as perdas dos apostadores.
Em entrevista à Exame em setembro, ele negou essa relação. “O meu contrato com eles é igual ao feito com qualquer outra marca. Eu tenho que postar determinado número de stories ou vídeos e o valor é definido por isso. Independentemente de uma pessoa entrar na Blaze, ganhar ou perder”, diz.
Para além do papel de influenciador, Vlogs é dono da HypeBud, agência de influenciadores criada em 2021 e que faturou R$ 100 milhões no ano passado. A empresa é uma das responsáveis pelas estratégias de influência da Blaze no Brasil.
En nota, a assessoria informou como funciona a atuação da agência:
"Desde 2021, a Blaze contratou os serviços de Jon Vlogs como influenciador, em um contrato que contempla um pacote determinado de stories, publicações no feed e também lives. Por sua vez, a Hypebud, agência de marketing de influência, que tem Jon Vlogs como um dos sócios, é uma das empresas que agencia influenciadores que também prestam serviços para a Blaze. Seguindo a prática corrente de mercado, a Hypebud promove a intermediação dos contratos publicitários destes influenciadores com a Blaze e recebe o percentual correspondente por tal prestação de serviço".
Segundo a reportagem do Fantástico, por se tratar de um jogo de azar, proibido no país, os influenciadores também estão sendo investigados.