Negócios

Queda no consumo fora do lar impacta produtor de café, aponta Rabobank

A demanda global terá uma retração expressiva na safra 2019/2020 e, com isso, os preços da commodity devem seguir pressionados até o final do ano

Cafeteria: consumo fora do lar despencou no pico da pandemia (Stefano Rellandini/Reuters Business)

Cafeteria: consumo fora do lar despencou no pico da pandemia (Stefano Rellandini/Reuters Business)

JE

Juliana Estigarribia

Publicado em 18 de junho de 2020 às 05h00.

O aumento substancial do consumo de café dentro do lar durante a pandemia do coronavírus não será suficiente para compensar a forte retração nas cafeterias ao redor do mundo. Com isso, a demanda global deve recuar em aproximadamente um milhão de sacas de 60 kg na safra 2019/2020 - que se encerra no próximo mês de setembro - para 163,9 milhões de unidades, aponta o Rabobank, banco especializado no agronegócio, em relatório divulgado nesta quinta-feira, 18.

O Brasil é o maior produtor de grãos de café do mundo, seguido de Vietnã, Colômbia, Indonésia e Honduras. A produção brasileira é duas vezes maior do que a vietnamita.

"A demanda global vinha em um ritmo de crescimento de 3 milhões a 4 milhões de sacas por ano, mas nem o café passou ileso pela pandemia do coronavírus", afirma Guilherme Morya, analista do Rabobank.

Nos últimos anos, houve uma forte expansão de grandes redes de cafeterias em países que, historicamente, não consomem tanto café, como a China. Morya cita como exemplo a Starbucks, que tinha como planejamento quase dobrar o número de lojas no país asiático até 2022, para cerca de 6.000 unidades. O Brasil tem aproximadamente 130 lojas da marca.

"Agora, com a pandemia, o consumo caiu drasticamente no mundo. Os produtores e a cadeia de food service terão que repensar o modelo de negócio."

No Brasil, cerca de 70% da demanda de café vem do varejo e, o restante, do segmento de food service. Em março e abril, o consumo fora do lar quase zerou, relata o Rabobank.

"As grandes redes têm fluxo de caixa para atravessar este momento, o grande problema reside entre as cafeterias independentes", diz Morya. "Essas empresas terão que se adaptar até que uma vacina ou solução permanente para a covid-19 seja encontrada. Enquanto isso, o consumo fora do lar vai continuar ruim."

O fenômeno não é uma exclusividade do Brasil e foi registrado no mundo todo, o que acabou impactando também as cotações da commodity. Conforme o Rabobank, os preços ao produtor tiveram um desempenho positivo no início do ano, com os estoques enxutos e uma perspectiva de consumo em alta. A quebra da safra na América Central contribuiu para o quadro, mas tudo mudou com a pandemia.

"Os preços vão seguir pressionados no próximos dois trimestres, exceto se ocorrer algum evento climático. Não enxergamos uma alta significativa das cotações", diz o analista.

Perspectivas

No longo prazo, espera-se uma retomada gradual do consumo de café fora do lar. Além disso, os chamados cafés especiais - feitos à base principalmente da variedade arábica - continuarão em alta no país.

Morya salienta que o segmento de cafés especiais começou a crescer de forma consistente nos últimos 3 ou 4 anos. "É uma tendência que veio para ficar."

Este mercado vinha crescendo a uma taxa média de dois dígitos ao ano, mas com a pandemia, a expectativa é que haja uma desaceleração. "As cafeterias independentes eram um polo de distribuição interessante de cafés especiais e certamente haverá um impacto negativo no segmento."

Acompanhe tudo sobre:CaféCafeterias

Mais de Negócios

Imigrante polonês vai de 'quebrado' a bilionário nos EUA em 23 anos

As 15 cidades com mais bilionários no mundo — e uma delas é brasileira

A força do afroempreendedorismo

Mitsubishi Cup celebra 25 anos fazendo do rally um estilo de vida