Como líderes financeiros podem calcular os impactos da taxação e proteger sua empresa (Brendan Smialowski/AFP)
Redatora
Publicado em 23 de julho de 2025 às 16h41.
No começo de julho de 2025, o presidente americano Donald Trump enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva informando que aplicará uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras.
O anúncio foi uma resposta de Trump ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. A medida, segundo o documento, entraria em vigor já em 1º de agosto. Mesmo com as incertezas quanto a taxação, o mercado já se move como se ela fosse realidade. E quem não estiver preparado pode perder dinheiro.
O CFO (Chief Financial Officer) é o diretor financeiro da empresa. Em tempos de instabilidade e risco tarifário, ele deixa de ser apenas um gestor de números e se transforma em estrategista de sobrevivência e crescimento.
Para entender o papel do CFO em meio a esse cenário econômico, a EXAME ouviu Maurício Godoi, economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios.
“O CFO avalia o impacto financeiro das tarifas e propõe ajustes na estrutura de custos para manter a empresa viável”, explica o especialista.
Segundo Godoi, há diferentes frentes de análise que todo CFO (ou profissional que quer pensar como um) deve dominar:
É o cálculo mais direto, mas também o mais urgente. Consiste em calcular o valor que será adicionado ao custo de produção e venda: “um produto avaliado em US$ 1 milhão que enfrenta uma tarifa de 50% significará um custo adicional de US$ 500 mil apenas pela tarifa”, traz Godoi.
Como o aumento do preço impacta a demanda do produto no mercado-alvo? Se o produto ficar caro demais, clientes nos EUA podem buscar alternativas em países como México ou China. Godoi sugere “se preparar utilizando dados históricos e projeções.”
É necessário analisar a margem de lucros da empresa antes e depois da tarifa. “Se a margem operacional era de 10% sobre as vendas, uma tarifa de 50% pode significar prejuízo caso a empresa não conseguir repassar os custos”, explica o professor.
“É preciso contabilizar investimentos para substituir o mercado americano por outro destino de exportação, como custos de infraestrutura, logística e regulamentação em outro país.” Ou seja, é papel do CFO colocar tudo na ponta do lápis e buscar soluções.
As medidas para proteger negócios contra a taxação não dependem só das negociações que acontecem em Brasília. Elas também dependem de você. Segundo Godoi, é possível agir com inteligência estratégica para minimizar ou até evitar os danos.
Para reduzir os impactos da taxação, empresas podem buscar novos mercados de exportação, especialmente aqueles com menos barreiras comerciais. Também é estratégico investir em inovação: “Produtos com maior valor agregado, inovação e planejamento tributário robusto são menos vulneráveis a surtos protecionistas”, diz Godoi.
Outra ação importante é o planejamento tributário internacional. Um exemplo disso é o drawback, um regime que permite a redução ou isenção de impostos sobre insumos importados, desde que esses insumos sejam usados em produtos que a empresa exporta. Isso ajuda a aliviar os custos de produção e a manter a competitividade no mercado externo.
Além disso, empresas também podem usar contratos futuros para se proteger da variação do dólar. E, em alguns casos, vale até produzir parte do produto nos Estados Unidos — o chamado offset — como forma de reduzir ou até eliminar a tarifa, desde que o custo dessa operação faça sentido.
Se a resposta for “não sei”, talvez seja hora de fortalecer sua formação em finanças corporativas. Entender fluxo de caixa, impacto tributário, margens operacionais e estratégias de alocação global não é mais função exclusiva do financeiro: é obrigação de líderes de todas as áreas que queiram tomar decisões de impacto.
Por isso, a EXAME, em parceria com a Saint Paul Escola de Negócios, lançou o Pré-MBA em Finanças Corporativas, um treinamento criado para quem quer dominar a lógica dos números e utilizá-la como diferencial na trajetória profissional, por R$37,00.