Homem fotografa o céu alaranjado em Londres, em 16 de outubro de 2017. (Tom Jacobs/Reuters)
João Pedro Caleiro
Publicado em 16 de maio de 2020 às 16h34.
Última atualização em 17 de maio de 2020 às 14h11.
Os arranha-céus e seus inúmeros escritórios ainda têm futuro? A explosão do trabalho remoto em meio à pandemia está mostrando um novo caminho para as empresas, que o veem como uma fonte de economia, embora signifique uma modificação profunda do entorno laboral.
Desde o início do confinamento, os bairros comerciais foram esvaziados, deixando uma impressão de fim do mundo, como em Canary Wharf, no leste de Londres, ou em La Défense, no oeste de Paris.
Mesmo com a retomada gradual do trabalho, agora é seu futuro que pode estar em jogo, assim como o de seus arranha-céus e de outras torres, símbolos do capitalismo moderno e do poder das multinacionais.
Jes Staley, gerente do banco britânico Barclays, cujas instalações imponentes e luxuosas ficam em Canary Wharf, acredita que "colocar 7.000 pessoas em um prédio pode ser uma coisa do passado".
"Encontraremos maneiras de operar remotamente por um longo tempo", diz ele, resumindo a mentalidade de muitos executivos de multinacionais que confirmam o sucesso do trabalho remoto durante a pandemia.
A montadora francesa PSA está considerando torná-la "referência" para suas atividades fora da produção, ou seja, milhares de pessoas. A rede social americana Twitter está considerando permitir que alguns funcionários trabalhem em casa de modo permanente.
"Essa pandemia mostrou que a tecnologia permite trabalho remoto. Acho que a verdadeira revolução virá de uma mudança na mentalidade dos gerentes sobre como pensar em flexibilidade", diz a executiva Cydney Roach, da consultoria americana Edelman.
"É difícil saber aonde isso vai levar, mas os funcionários terão que participar da busca de soluções", diz ela.
Obviamente, nem todos os setores podem aplicar e manter essa prática, que acabou se impondo em massa ao longo da pandemia.
A gigante britânica de publicidade WPP colocou quase 95% de seus 107.000 funcionários no modo de teletrabalho e continuou a oferecer seus serviços a seus clientes.
A incorporadora imobiliária britânica Land Securities, que tem uma forte presença na City de Londres, estimou recentemente que apenas 10% de seu espaço de escritório está sendo usado.
"Nunca haverá um retorno à normalidade", prevê Alex Ham, um dos CEOs da Numis Securities, com sede em Londres.
Ir ao escritório de segunda a sexta "não vai voltar", disse ele ao jornal britânico "The Telegraph".
De acordo com um estudo de 300 empresas em todo mundo feito em abril pela gigante de consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, 89% delas acreditam que o uso do trabalho remoto vai continuar para além da pandemia.
Entre as vantagens do trabalho a distância para as empresas, Clare Lyonette e Beate Baldauf, professoras da Universidade de Warwick, no centro da Inglaterra, listam economia - especialmente considerando-se os aluguéis exorbitantes em Londres - melhor produtividade e menor absenteísmo.
"A questão imobiliária é uma das mais caras" para as empresas, mas os arranha-céus "não vão desaparecer", diz Roach, mesmo que seja apenas pela necessidade de manter escritórios em "lugares densos como Manhattan".
Grandes grupos podem se sentir tentados a limitar seus bens imobiliários, porém, especialmente porque a redução de custos será uma prioridade para muitos nos próximos anos, para absorver o choque econômico do confinamento.
"Os empregadores devem estar cientes dos possíveis efeitos negativos a longo prazo", alertam Lyonette e Baldauf, apontando o impacto negativo na coesão da equipe.
"A contrapartida da economia pode ser uma diminuição no bem-estar e na lealdade à empresa", destacam.
E não é certo que os funcionários vão sair ganhando.
De acordo com o provedor de VPN NordVPN, os funcionários tendem a trabalhar em média mais três horas por dia em casa nos Estados Unidos, e duas horas, na França.