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Qual o plano da dona da Starbucks no Brasil para pagar uma dívida de R$ 1,8 bilhão

Empresa está reduzindo operações: 60 lojas da Starbucks, TGI Fridays e Brazil Airport Restaurantes foram fechadas no ano passado

Starbucks: 55 lojas deficitárias foram fechadas no ano passado no Brasil (SouthRock/Divulgação)

Starbucks: 55 lojas deficitárias foram fechadas no ano passado no Brasil (SouthRock/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 20 de fevereiro de 2024 às 14h04.

A SouthRock, operadora da rede de cafeterias Starbucks no Brasil, apresentou à Justiça o seu plano de recuperação judicial. O documento mostra como a companhia pretende pagar seus credores e dá indícios da estratégia futura de como terá dinheiro para fazer esses pagamentos.

A empresa está em um tumultuado processo de reestruturação desde outubro do ano passado, com dívidas alegadas de 1,8 bilhão de reais.

Desde então, a novela já envolveu um conflito para o uso da marca Starbucks no Brasil, a venda do empório Eataly, a devolução das licenças do Subway para a franqueadora e a descontinuidade de aplicativos e programas de pontuações.

Ainda sem muitos detalhes, a operadora apresentou em seu plano de recuperação judicial quatro pontos que considera essenciais para obtenção de dinheiro. São eles:

  • reestruturação do passivo das recuperandas, por meio da concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou que estão por vencer
  • possibilidade de alienação e oneração de bens das recuperandas
  • possibilidade de constituição e alienação de UPIs (unidades produtivas isoladas, para vendas)
  • possibilidade de obtenção de novos financiamentos pelas Recuperandas, como por financiamentos DIP

Também disse já estar fazendo movimentos para reduzir suas dívidas.

No plano, pontuou que, ao longo de 2023 foram fechadas mais de 55 lojas da Starbucks que apresentavam resultado negativo, além de uma reestruturação de 20% da equipe administrativa diretamente ligada à marca. No TGI Fridays, foram encerradas duas lojas que apresentavam prejuízo em 2023 das quatro existentes, incorporando a operação na estrutura da Brazil Airports Restaurants, outra marca da empresa. Aliás, nela, outras sete lojas foram fechadas.

"Além do encerramento de mais de 60 lojas deficitárias no ano de 2023, o Grupo SouthRock desmobilizou as equipes de desenvolvedores de aplicativos e plataformas online, reduzindo em 72% a equipe da Lab/Wahalla, mantendo apenas o essencial para preservar a operação, sendo que ao final de janeiro/24 encerrou as vendas pelo aplicativo da Starbucks, bem como o programa de Rewards. No corporativo, onde o Grupo SouthRock opera um centro de serviços compartilhados para todas as empresas, houve uma redução de aproximadamente 40%, adequando a estrutura para o novo momento da companhia", diz parte do plano.

Como a SouthRock quer pagar seus credores

A SouthRock traçou um plano para pagar as suas dívidas. Esse plano será apresentado para os credores da empresa, que poderão avaliar se o aceitam ou não.

A proposta apresentada pela SouthRock propõe que os débitos trabalhistas serão pagos num valor correspondente a até 150 salários-mínimos, limitado ao valor total do crédito, sem aplicação de juros ou correção, em até 12 meses da homologação.

Para a maioria dos credores, que entram na classe de quirografários, a proposta é outra. Prevê-se um período de carência de cinco anos para o início dos pagamentos. Depois, uma escala de pagamentos em 16 anos, em que nos primeiros anos serão amortizados cerca de 0,25% da dívida anualmente. Depois, essa porcentagem vai crescendo.

Até o 15º ano, serão pagos 40% da dívida. Aqui está o detalhe curioso. Se esse pagamento realmente acontecer sem atrasos, a SouthRock fica isenta de pagar a 16º parcela, com os 60%  restantes dos débitos.

Para microempresas e empresas de pequno porte, ficou definido que receberão pagamentos de até 50.000 reais (ou o valor total dos seus créditos, o que for menor) em um ano após a homologação do plano.

Qual a estratégia da SouthRock para evitar ações de despejo

Conforme a EXAME noticiou em novembro passado, a SouthRock lida na Justiça com ações de despejo por falta de pagamentos dos alugueis de suas lojas, principalmente da Starbucks no Brasil. À época, eram pelo menos 28 processos em andamento.

No plano de recuperação judicial, a empresa traça uma estratégia para evitar -- ou então terminar -- com essas ações.

Prevê o plano que esses credores poderão aderir a uma categoria especial, chamada de "credores estratégicos locadores". Para isso, eles precisarão concordar em manter ou renovar contratos de locações em condições iguais ou mais favoráveis à SouthRock por um prazo mínimo de cinco anos, e deverão desistir de ações judiciais ou extrajudiciais, inclusive de despejo.

Caso aceitem, o período de carência, que seria de cinco anos, cairá para dois. Já o prazo de pagamento, que antes era de 16 anos, cairá para sete. Cada parcela terá uma amortização maior, de cerca de 12,8% do valor da dívida.

Quais são os credores da SouthRock?

O pedido de recuperação judicial da SouthRock, dona da Starbucks, envolve uma dívida de R$ 1,8 bilhão. Os credores estão divididos entre as empresas do grupo que entraram no processo de reestruturação, como a Starbucks e a Brazil Airport Restaurantes. Na lista de empresas que a SouthRocks está com dívidas pendentes estão indústrias de alimentos, bancos e gráficas.

A relação, de 153 páginas, demonstra uma situação comum para empresas de varejo e serviços, como é o caso da Starbucks: há centenas de credores, cada um com uma cobrança relativamente pequena para a companhia.

Há cerca de R$ 76 milhões só com o Banco do Brasil via Starbucks. No consolidado da SouthRock, as dívidas com o Banco do Brasil estão em R$ 311 milhões. Com a securitizadora Travessia são outros R$ 469 milhões em dívidas.

Acompanhe tudo sobre:StarbucksRecuperação Judicial

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