PROTESTO NA SEDE DA VALE, NO RIO: companhia teve nota rebaixada pela agência Fitch / REUTERS/Pilar Olivares
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2019 às 07h01.
Última atualização em 29 de janeiro de 2019 às 07h56.
Qual o futuro da mineradora Vale após a tragédia de Brumadinho, que já conta 65 mortos e ainda tem 300 desaparecidos? A companhia perdeu, nesta segunda-feira, 24% de seu valor de mercado, o equivalente a 71 bilhões de reais, e a queda tende a continuar.
Três anos atrás, após o rompimento da barragem de Mariana que pertencia à Samarco, uma companhia controlada em parceria com a BHP, a Vale chegou a cair 45% no acumulado dos dias. Desta vez, além do dano social e ambiental, outros fatores na mesa tendem a contar para a reação dos investidores.
O primeiro é o risco de crédito da mineradora. Metade do caixa da Vale, cerca de 12 bilhões de reais, está bloqueado para possíveis contingências ambientais. Na noite de ontem, após o fechamento do mercado, a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota de crédito da companhia de BBB+ para BBB-, e ainda colocou os ratings da empresa em observação, o que deve levar a novos rebaixamentos.
Outro risco está no próprio futuro da empresa. Privatizada há 20 anos, a Vale sempre foi tida como um exemplo de governança, apesar de reiterados episódios de diferentes governos de interferir nos rumos da companhia. Agora, a sombra da interferência política voltou. Ontem, o vice-presidente da República e presidente interino, Hamilton Mourão, afirmou que o governo estuda destituir a diretoria da empresa.
EXAME revelou, na noite de ontem, que as 12 golden shares que o governo possui na companhia não lhe dão esse direito. A única opção seria uma pressão sobre o conselho de administração via investidores como a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, a Petros, da Petrobras, ou o BNDESPar, do BNDES. A investida iria contra os discursos de defesa do liberalismo do governo eleito e pode lançar dúvidas sobre a própria capacidade do governo de levar adiante novas privatizações.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, cresce dentro do governo a pressão para a abertura de inquéritos que responsabilizem criminalmente executivos da empresa. Na manhã desta quinta-feira, cinco engenheiros que emitiram laudos atestando a segurança da barragem rompida foram presos. Um grupo de trabalho da Polícia Federal pode ainda ouvir executivos da empresa sobre a suspeita de irregularidades nos laudos.
Em entrevista coletiva concedida na tarde de ontem, Luciano Siani, diretor financeiro da empresa, defendeu que qualquer solução para os estragos passe pela preservação da empresa que responde pelas finanças de 500.000 famílias, entre trabalhadores e acionistas. Que estrutura terá esta nova Vale, no entanto, e quem comandará o negócio, são questões em aberto.