André Esteves, do BTG Pactual: há sinais de que suas realizações estão sob questionamento (Gustavo Kahil/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 6 de abril de 2015 às 17h50.
O menino de ouro das finanças brasileiras está enfrentando sua maior ameaça.
André Esteves, que transformou o Grupo BTG Pactual no maior banco de investimento independente da América Latina, agora está tendo de lutar com as consequências de empréstimos e investimentos feitos em empresas ligadas ao maior escândalo de corrupção da história do país.
Após incomodar dinastias bancárias, bancos tradicionais e competidores estrangeiros, Esteves se tornou bilionário antes dos 40 anos e depois brincou que BTG significaria “Better Than Goldman” (“melhor que o Goldman”).
Agora, há sinais de que suas realizações estão sob questionamento. Investidores impossibilitados de medir o risco de todas as participações de private-equity do BTG, muitas das quais não são transparentes, fizeram com que suas ações despencassem.
Os bônus externos do BTG são os de pior desempenho entre os maiores bancos brasileiros de capital aberto desde 25 de fevereiro, quando o BTG, com sede em São Paulo, reportou um lucro inferior às estimativas dos analistas.
A melhor oportunidade do executivo de 46 anos para melhorar a situação virá no mês que vem, quando o BTG divulgará seus resultados do primeiro trimestre e poderá revelar se vai contabilizar perdas com um investimento de R$ 1 bilhão (US$ 320 milhões) na Sete Brasil Participações SA, uma fornecedora de plataformas de petróleo.
A empresa foi vítima do escândalo de corrupção que está engolindo o setor de petróleo e de construção do Brasil.
Esteves disse que poderá entregar 20 por cento de retorno sobre o capital neste ano, mesmo se a Sete Brasil entrar em colapso.
O retorno sobre o capital do Goldman Sachs Group Inc. foi de 11,2 por cento em 2014.
‘Caixa preta’
Nascido no Rio de Janeiro, Esteves se tornou uma espécie de alvo dos executivos de bancos rivais de São Paulo. Correram rumores de que seu banco estava buscando ser vendido para um dos vários bancos maiores nos últimos meses.
O BTG manteve sua estratégia de esconder o jogo, negando a especulação em meio a queixas de que a “caixa preta” de seus investimentos em private-equity e empréstimos não revelados deixa a empresa vulnerável às tentativas de minar sua reputação.
Há quem veja isso como uma oportunidade.
“Nós achamos que o mercado está subestimando significativamente a recorrência dos lucros do BTG”, disseram os analistas Jorge Kuri e Felipe Salomão, do Morgan Stanley, em um relatório de 30 de março que chamou os temores sobre a “caixa preta” do BTG de “um dos principais equívocos que o mercado tem cometido em relação à empresa”.
O Morgan Stanley, que disse que seu relatório foi baseado em uma visita a Esteves, mantém um rating equivalente a uma recomendação de compra para as ações do BTG.
Os analistas do banco pontuam que após a conclusão da aquisição da BSI Group Inc., a unidade suíça de private-banking da Assicurazioni Generali SpA, aproximadamente 43 por cento da receita do BTG virá da gestão de ativos e de riquezas, negócios com resultados relativamente estáveis e lucro alto.
Mais prejuízos
Ainda assim, a Sete Brasil não é a única aposta ruim de Esteves.
O BTG tem participações na Brasil Pharma SA, na BR Properties SA e no Banco Pan SA, empresas cujas ações despencaram mais de 40 por cento cada uma no ano passado, e a receita do banco com o setor de crédito corporativo caiu mais da metade no quarto trimestre em relação aos três meses anteriores depois que o BTG separou mais dinheiro para prejuízos com empréstimos.
O banco disse em um e-mail no dia 17 de março que uma fatia de 4 por cento de seu portfólio de crédito está no setor de petróleo e gás.
Cerca de 40 por cento dele é garantido pela Petrobras e outros 40 por cento estão com empresas europeias e latino-americanas sem relação com o Brasil. Os 20 por cento restantes são diversificados, sem uma concentração significativa em nenhuma empresa.
No setor da construção, o BTG disse que a maior parte de sua exposição está relacionada a empresas grandes bem capitalizadas, com balanços fortes e ativos valiosos que podem ser vendidos se for necessário, segundo o Morgan Stanley.
Em julho passado, o BTG fechou acordo para adquirir o BSI, o que quase dobrará os ativos sob gestão do BTG para mais de US$ 200 bilhões.
A expansão poderá ajudar o BTG a diversificar sua receita e a lidar com um “ambiente macro difícil no Brasil”, disse Tito Labarta, analista do Deutsche Bank, na ocasião.