Mendes Júnior: sem dinheiro e sem crédito, número de projetos da construtora caiu de 44 para 9 em apenas dois anos (Antônio Cruz/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 29 de agosto de 2016 às 10h49.
São Paulo - Depois que a Polícia Federal desembarcou na sede da Mendes Júnior, em novembro de 2014, executivos e acionistas fizeram uma via crúcis em bancos e clientes para tentar resolver o problema de caixa da empresa.
Mas, sem dinheiro, as renegociações foram em vão. Em março deste ano, a empresa entrou em recuperação judicial.
No mês seguinte, outro golpe: a Controladoria-Geral da União (CGU) declarou a companhia inidônea por, pelo menos, dois anos por cometer crimes de corrupção. A empresa contestou.
Mas, por ora, continua proibida de participar de qualquer licitação da administração pública.
A carteira de projetos da construtora teve uma queda radical desde o início da Operação Lava Jato. Em setembro de 2014, antes da prisão de Sérgio Cunha Mendes, a companhia tinha 44 projetos em andamento.
No início do segundo semestre de 2015, esse número já havia caído pela metade e hoje está em nove projetos - podendo diminuir ainda mais.
Entre as obras que sobraram no portfólio do grupo estão a Linha 2 e 5 do metrô de São Paulo, trecho norte do Rodoanel, Transposição do Rio São Francisco e duas plataformas da Petrobrás, onde a empresa se associou com a chinesa COOEC para concluir o projeto.
Fontes do setor afirmam que é com base nesses poucos empreendimentos que a empresa pretende superar a crise nos próximos dois anos, quando supostamente terminaria o fim da inidoneidade. Esse período coincidiria com a esperada retomada da economia brasileira.
Aos 91 anos, Murillo Mendes, que ajudou a fundar a empresa ao lado do pai, continua indo todos os dias à sede da empresa e fica ali por algumas horas. Quer saber as decisões que estão sendo tomadas e ainda dá pitacos nos rumos das negociações.
Há uma fé na recuperação e na tradição da empresa que impressiona, afirmam executivos de outras construtoras e que têm proximidade com a Mendes Júnior. Mas a situação não é nada fácil.
No início do mês, o Tribunal de Contas da União (TCU) autorizou o governo federal a substituir a Mendes Júnior por outra construtora nas obras da Transposição do Rio São Francisco.
O fluxo de caixa do projeto - com recebimentos no prazo de 45 dias - não estaria sendo suficiente para que a empresa consiga cumprir o ritmo exigido pelo governo.
Segundo fontes, a construtora não estaria colocando entraves para a transferência das obras neste momento. Restam ainda R$ 400 milhões em obras para serem concluídas, o que exigiria cerca de 2.600 trabalhadores.
Com dificuldade para pagar as despesas e o Fisco, a construtora tem sido alvo de uma série de ações judiciais solicitando o bloqueio de bens e a falência da empresa.
Além disso, as multas por causa dos crimes cometidos na Lava Jato começam a chegar. Numa delas, a punição somou R$ 138 milhões. E vem mais por aí: Sérgio Cunha Mendes ainda não fez delação premiada, mas segundo fontes estaria negociando um acordo.
Enquanto isso, os executivos trabalham no plano de recuperação da companhia, baseado em ativos e direitos creditórios. A empresa teria cerca de R$ 600 milhões a receber da União e do Estado de Minas Gerais por obras em andamento - ou concluídas. A dívida é de R$ 250 milhões.
Agora é aguardar para saber se o plano será aprovado pelos credores e se a empresa terá força para ressurgir da crise.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.