Trens: as operadoras de carga não devem ampliar no curto prazo o uso do biocombustível, já que ele é mais caro do que o diesel (Dibyangshu Sarkar/AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de abril de 2014 às 08h59.
São Paulo - Com aproximadamente 70% da frota de trens no Brasil, a GE Transportation acaba de concluir um projeto de validação do uso de uma mistura de 25% de biodiesel no combustível que abastece suas locomotivas. Hoje, a lei exige que as empresas usem no mínimo 5% de biodiesel.
Segundo o presidente da GE Transportation para a América Latina, Rogério Mendonça, os testes para a validação do uso de biodiesel nas locomotivas partiram de um pedido de clientes. As operadoras de carga querem estar aptas a ampliar a mistura. O uso de biocombustíveis é tendência global. As empresas querem estar prontas, disse o executivo.
Os fabricantes de biodiesel têm pressionado o governo para ampliar a mistura obrigatória do combustível verde no diesel, hoje em 5%. O próprio ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse no fim de 2013 que a elevação do porcentual está em estudo pelo governo.
Os testes da GE foram feitos por dois anos em trens em operação e na fábrica da empresa em Contagem (MG). O resultado habilita as quase 2 mil locomotivas da GE no País a usarem uma mistura maior do biodiesel. Não será necessária nenhuma alteração técnica. Só a adoção de alguns novos padrões de manutenção, diz Mendonça.
Custo
Apesar da habilitação técnica, as operadoras de carga não devem ampliar no curto prazo o uso do biocombustível, já que ele é mais caro do que o diesel. Hoje, segundo estimativas, abastecer com biodiesel custa em média 20% mais.
A MRS Logística, por exemplo, usa em suas locomotivas a mistura obrigatória de biodiesel no diesel, de 5%, e diz que o entrave para ampliar o porcentual do biocombustível é a desvantagem econômica. O combustível representa 25% do custo operacional total da concessionária, que opera a Malha Sudeste da Rede Ferroviária Federal e tem 800 locomotivas, a maioria da GE.
Os produtores de biodiesel afirmam que o problema de competitividade do combustível verde é um reflexo da política de preços do diesel da Petrobras. A estatal vem importando diesel a preços menores do que vende no mercado interno, atendendo à pressão do governo para segurar a inflação.
É uma questão de política macroeconômica. A Petrobras tem no Brasil um preço 18% menor do que o preço de compra. Não dá para competir, afirma o diretor-superintendente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (AproBio), Júlio Minelli.
Uma das razões que levaram a GE a validar o uso maior de biodiesel nas locomotivas foi criar uma espécie de sistema flex para seus clientes. Hoje o biodiesel é mais caro. Mas pode ser que em alguns anos seja mais vantajoso, disse o diretor de tecnologia da GE Transportation, Marc Flammia.
Capacidade
O Brasil tem capacidade instalada para produzir 7 bilhões de litros de biodiesel, mas as usinas geraram apenas 2,91 bilhões de litros em 2013.
Minelli estima que a frota de locomotivas da GE fosse abastecida com a mistura de 25% de biodiesel, o consumo cresceria do combustível em aproximadamente 41 milhões de litros por ano.
Ele afirma que as usinas são capazes de atender toda a frota de trens. Hoje, o diesel usado pelo setor ferroviário corresponde a 2% do mercado. ; colaboraram Patricia Valle e Renata Vieira, especial para o Estado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.