“Empreender para a mulher é um ato de liberdade”, diz Vivi Duarte, do Instituto Plano de Menina.
Repórter
Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 17h06.
Última atualização em 17 de janeiro de 2025 às 14h36.
No Brasil, onde o desemprego ainda desafia milhões de jovens, a educação empreendedora surge como um caminho não apenas para geração de renda, mas também para a realização de sonhos e a construção de futuros mais promissores. Para as jovens, em especial, cultivar qualidades empreendedoras é mais do que uma estratégia para driblar as adversidades do mercado de trabalho — é uma forma de explorar suas potencialidades, assumir o protagonismo de seus projetos de vida e criar soluções inovadoras que transformem comunidades e setores.
“Estimular o desenvolvimento de um comportamento empreendedor em meninas é crucial, pois proporciona a elas a oportunidade de desenvolver competências valiosas, como liderança, resolução de problemas e inovação”, explica Ana Rodrigues, gerente da unidade de educação empreendedora do Sebrae. “Esse estímulo é um meio de empoderá-las, permitindo que tomem decisões sobre suas vidas e carreiras.”
Para Vivi Duarte, fundadora e CEO do Plano de Menina, um instituto que capacita e conecta meninas de periferias a oportunidades que as tornem protagonistas de suas histórias, estimular o empreendedorismo entre as meninas jovens é “ampliar sua visão de fazer acontecer, para além de crachás de empresas”. “Com as habilidades técnicas e emocionais que elas aprendem nos cursos elas podem atuar tanto como grandes executivas que não paralisam diante de desafios complexos, quanto como realizadoras de seus negócios, empreendendo e buscando soluções para realizar seus planos”, afirma. “Essa autonomia para além de cargos e crachás corporativos todas as pessoas deveriam exercitar e ter acesso, pois nos liberta para buscarmos nosso resultado, independente de ser ou não escolhida ou contratada por uma empresa.”
E abordar o tema do empreendedorismo feminino ainda na infância e juventude pode fazer toda a diferença na vida das meninas. “Queremos mostrar às meninas que elas têm as mesmas oportunidades e os mesmos direitos que os meninos”, afirma Mônica Sousa, diretora executiva do departamento comercial na Maurício de Souza Produções (MSP), que desenvolveu junto com o Sebrae o programa "Donas da Rua do Empreendedorismo". “Acreditamos que, desde cedo, é preciso incentivar essa igualdade, para que as meninas se sintam empoderadas a buscar os seus sonhos e conquistar o seu espaço, não apenas no mundo dos negócios, mas também em áreas como artes, ciências, esportes e literatura.”
Criado em 2021, o programa tem o objetivo de incentivar desde cedo habilidades empreendedoras importantes mesmo para quem não necessariamente se tornará empreendedor no futuro, como liderança, autoconfiança, persistência, comunicação e persuasão. “Em uma das fases do projeto mostramos também as mães da Turma [da Mônica] empreendendo, pois é importante que tanto meninas quanto meninos vejam as mulheres nessa posição, assim como é importante que as mulheres que hoje não se reconhecem como empreendedoras se apropriem de sua atividade”, explica Mônica Sousa.
Exemplo de quadrinhos do programa “Donas da Rua Empreendedorismo” (Sebrae/Divulgação)
Além disso, a iniciativa busca incentivar as famílias a conversarem sobre esses temas com as meninas, criando um ambiente de apoio e encorajamento para que elas possam acreditar em seu potencial e se preparar para os desafios do futuro. “A nossa missão é inspirar as meninas a perceberem que podem ser o que quiserem e que o empreendedorismo pode ser uma das muitas formas de conquistar a sua independência e autonomia”, afirma Mônica de Souza. “Queremos que elas vejam o mundo como um espaço aberto e cheio de possibilidades, e que saibam que têm o direito e a capacidade de ocupar qualquer lugar que escolham, que pode não necessariamente ser empreender.”
Vendo a educação empreendedora como uma abordagem educacional que visa o desenvolvimento de habilidades e atitudes para construir projetos de vida e preparo para o mundo do trabalho, o Sebrae desenvolveu um programa voltado para estudantes em educação empreendedora. A iniciativa oferece formação de professores através de soluções para o desenvolvimento de meninas e meninos da rede pública de ensino, com objetivo de desenvolver nos estudantes as competências empreendedoras previstas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Até agora, cerca de 5 milhões de estudantes foram capacitados em educação empreendedora por meio dessa iniciativa do Sebrae.
“O objetivo é que os alunos possam explorar suas potencialidades e se tornarem protagonistas de seus projetos de vida”, explica Ana Rodrigues, do Sebrae. “Estimular jovens nesse caminho é crucial para obter pensamento crítico, criatividade, cidadania e capacidade de escolha. Jovens preparadas para seu protagonismo serão mais seguras para trilhar um caminho de independência financeira, autorrespeito, autorresponsabilidade e visão crítica de mundo.”
No Plano de Menina, fundado em 2016, já passaram mais de 2 milhões de meninas online pelos cursos e mais de 5 mil em workshops presenciais. “Nosso objetivo é ajudar mulheres a reconhecerem suas potências e valor, para além de comparações, e escrever suas histórias e plano de ação”, diz Vivi Duarte.
O foco do instituto está em meninas periféricas, para que possam “realizar seus planos, independente do CEP que nasceram”. “Temos uma série de pesquisas que mostram o quanto os padrões e a falta de oportunidades por questões de desigualdades sociais fazem com que as mulheres e meninas fiquem estagnadas e paralisem seus sonhos”, afirma Duarte.
Assim, a proposta dos módulos dos cursos de empreendedorismo feminino e intraempreendedorismo do Plano de Menina é permitir que as participantes entendam o valor de negócios criados por elas mesmas. Isso passa por conteúdos como educação financeira, planejamento, negócios, vendas, descoberta de habilidades e paixões, autoconfiança, liderança, networking e outras habilidades importantes que podem ajudá-las a acreditarem em si mesmas. “Empreender para a mulher é um ato de liberdade”, ressalta Duarte.
Karine Oliveira, da Wakanda: “Eu nunca me imaginei sendo dona de escola, até ter a ousadia de criar a minha primeira metodologia” (Sebrae/Divulgação)
Pensamento alinhado a esse tem Karine Oliveira, fundadora da Wakanda Educação Empreendedora. Ela diz que o empreendorismo dá maior liberdade e oportunidade para jovens criarem seus próprios espaços. “Eu nunca me imaginei sendo dona de escola, até ter a ousadia de criar a minha primeira metodologia”, afirma.
Fundada em 2018, a Wakanda nasceu porque Oliveira enxergava distante seu sonho de se tornar professora, mesmo terminando a faculdade. “Decidi então imaginar como seria uma sala de aula comigo, e como eu iria ensinar”, conta. Foi aí que ela começou a organizar aulas de empreendedorismo, “para ajudar minha galera de periferia”. Oliveira escreveu as três primeiras aulas da Wakanda, se apaixonou e levou a ideia adiante.
As mulheres negras foram o público que se identificou com a metodologia logo de início. “Direcionei a metodologia para mulheres negras e negócios criados por necessidades e, a partir, daí tive grande aderência do público.”
Em seis anos, 7.200 pessoas foram impactadas pelos programas da Wakanda, 67% delas da Bahia. “Ensinar empreendedorismo para os jovens é apresentar mais uma saída”, diz Oliveira. “Mas por mais que a gente invista em empreendedorismo, sem educação de qualidade e direitos básicos de sobrevivência, como saúde, a gente não vai chegar a lugar nenhum.”
Os 3 caminhos da
Educação Empreendedora
Educar sobre empreendedorismo: fazer o estudante/professor/gestor entrar em contato com o campo de conhecimento do empreendedorismo, entendendo do que trata – e como ele se desenvolve.
Educar para o empreendedorismo: sensibilizar estudantes/professores/gestores para atividades empreendedoras, preparando-os para identificar oportunidades, planejar ações e empreender.
Educar por meio do empreendedorismo: levar o estudante/professor/gestor a adotar uma abordagem empreendedora e encarar sua aprendizagem como “empreendizagem”, considerando-a como um empreendimento a ser desenvolvido de maneira proativa e autônoma.
Fonte: Sebrae