Foxconn: comentário da Apple dizia que os consumidores se preocupavam mais com um iPhone novo do que com as condições de trabalho na China. (Reuters)
Da Redação
Publicado em 7 de fevereiro de 2012 às 14h48.
São Paulo – As condições de trabalho controversas na Foxconn chegaram à HBO. Não, a rede de Band of Brother (sobre a Segunda Guerra Mundial) ainda não está fazendo uma série sobre a rotina dos funcionários da empresa, mas veiculou, nessa semana, uma entrevista no programa Real Time with Bill Maher que aborda várias características do modelo de produção da empresa na China. Apresentador e convidado não pouparam críticas à Apple.
Bill Maher entrevistou Mike Daisey, que escreveu – e interpreta – o monólogo The agony and ecstasy of Steve Jobs (A agonia e o êxtase de Steve Jobs). Daisey foi até a China e conversou com trabalhadores da Foxconn do lado de fora da planta de Shenzhen.
A China também tem leis trabalhistas, como nós, mas a Apple e outras companhias simplesmente ignoram isso, disse Daisey durante a entrevista. No país, as jornadas de trabalham deveriam durar oito horas, mas elas podem se estender por até 16 horas e ficam mais pesadas quando a Apple está prestes a lançar um novo gadget, segundo Daisey, e um trabalhador da Foxconn morreu depois de trabalhar por 34 horas.
Bill Maher leu um comentário da Apple que dizia que os consumidores se preocupavam mais com um iPhone novo do que com as condições de trabalho na China. Eles não tem alguma responsabilidade? Quando você lê a biografia do Steve Jobs, ele é um hippie, um budista, acho que tudo isso foi pela janela em relação ao lucro, disse Maher. Para Maher, Bill Gates, fundador da Microsoft, era mais humanitário nesse ponto, mesmo não sendo essa sua reputação. As pessoas não se importam porque elas não sabem, disse Daisey.
Polêmica
Essa não foi a primeira vez que as condições de trabalho da Foxconn ganharam as manchetes. As condições de trabalho na Foxconn são questionadas desde 2010 devido à onda de suicídios de jovens funcionários. A resposta da Foxconn aos casos de suicídio nos dormitórios da empresa foi colocar redes – para evitar a queda dos funcionários, segundo Daisey.
Em maio de 2011, uma das fábricas da empresa, localizada na cidade de Chengdu, no sudoeste da China, explodiu deixando dois mortos e 16 feridos, de acordo com autoridades locais. No mês passado, a empresa entrou em crise novamente com uma ameaça de suicídio coletivo.
Recentemente, o presidente da empresa, Terry Gou, deu novas declarações polêmicas. Gou comparou seus funcionários a animais, e disse que administrá-los lhe dava dor de cabeça – e essa nem foi sua única ofensa. Brasileiros e acionistas minoritários também já foram insultados.
Em janeiro, Tim Cook, CEO da Apple, rebateu as acusações de maus-tratos nas fábricas de fornecedores da companhia. A Foxconn também monta produtos para companhias como Microsoft, Sony e Nintendo.
Veja o trecho do programa: