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Professor de Harvard ficou bilionário com vacina de coronavírus da Moderna

Em 2010, Timothy Springer investiu 5 milhões de dólares na empresa que testa uma vacina contra a covid-19. Com a alta nas ações, tem hoje mais de 1 bilhão

Springer: ações da Moderna subiram mais de 30% nesta segunda-feira, 18, após resultados com vacina (Scott Eisen/Bloomberg/Getty Images)

Springer: ações da Moderna subiram mais de 30% nesta segunda-feira, 18, após resultados com vacina (Scott Eisen/Bloomberg/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 18 de maio de 2020 às 13h59.

Última atualização em 18 de maio de 2020 às 14h23.

As ações da empresa de biotecnologia Moderna chegaram a subir mais de 30% na manhã desta nesta segunda-feira, 18, depois que a companhia divulgou testes bem-sucedidos de uma potencial vacina contra o coronavírus.

Mesmo antes desses primeiros resultados, as ações da Moderna já acumulavam alta de mais de 200% no ano até sexta-feira, 15, com a notícia de que a empresa havia começado a testar o projeto de vacina em janeiro e com os avanços na pesquisa, que ganhou inclusive apoio financeiro do governo americano.

Todo esse crescimento gerou um novo bilionário: o professor de Harvard Timothy Springer, que foi o primeiro investidor pessoa física da Moderna. A companhia foi fundada em 2010 em Massachusetts, onde fica a Universidade Harvard e onde a Moderna tem sua sede até hoje.

A empresa nasceu com base na pesquisa de um outro professor de Harvard, Derrick Rossi. Rossi, então, procurou Springer e outros co-fundadores para colocar a companhia de pé. A empresa também contou com aporte inicial da empresa de venture capital Flagship Pioneering, especializada em investimentos em companhias de saúde e ciência.

Oito anos após a fundação, a Moderna abriu capital na Nasdaq, uma das bolsas de Nova York, em 2018. Na ocasião, foi o maior IPO de uma empresa de biotecnologia na história dos Estados Unidos. A ação foi vendida a 23 dólares e a empresa foi avaliada em 7,5 bilhões de dólares. Na sexta-feira, 15, data do último pregão fechado, a Moderna valia 24,8 bilhões de dólares, mais que o triplo do preço do IPO.

Com a alta nesta manhã após os resultados da vacina, a companhia já passou de 30 bilhões de dólares em valor de mercado, com ação negociada a mais de 82 dólares por volta das 12 horas desta segunda-feira.

Segundo a Forbes, Springer tem uma fatia de 3,5% da Moderna, que comprou com um aporte inicial de 5 milhões de dólares em 2010. Partindo do total de ações que a empresa tinha em fevereiro, no último balanço divulgado, o professor teria quase 13 milhões de ações.

Assim, entre o primeiro investimento e os papéis em 2020, o retorno foi de mais de 17.000%. Hoje, com a ação acima de 80 dólares, o professor teria um patrimônio de quase 1,1 bilhão de dólares só em papéis da Moderna.

Na sexta-feira, esse montante ficava abaixo de 900 milhões. Mas mesmo na semana passada, a Forbes já avaliava Springer como bilionário com base em seus investimentos em outras empresas menores de biotecnologia, que, somadas às ações da Moderna, já passavam de 1 bilhão de dólares. Em duas dessas empresas, Springer é também co-fundador, e elas foram criadas com base em sua pesquisa em Harvard.

No começo do ano, o patrimônio do professor, se contabilizadas só suas ações na Moderna, já era vistoso, na casa de 250 milhões de dólares. A ação valia, no começo do ano, menos de 20 dólares. Mas nada comparada aos valores que atingiu com os avanço nos testes da vacina.

Springer é professor de biologia química e farmacologia molecular e dá aulas até hoje na Faculdade de Medicina de Harvard. O pesquisador começou a lecionar na universidade em 1977. "Minha filosofia é investir no que você conhece, e eu sou um cientista de coração. Eu amo descobrir coisas", disse à Forbes em reportagem de maio deste ano.

Em 2018, logo depois do IPO da Moderna e com muitos milhões a menos na conta em relação a 2020, Springer já havia declarado que achava sua fortuna excessiva. "Eu tenho mais do que o suficiente de riqueza para mim mesmo por algum tempo", disse em entrevista à Bloomberg. "Não sinto que preciso de mais."

Antes da Moderna, a fortuna do professor começou a ser feita em 1999, depois que ganhou 100 milhões de dólares quando sua primeira empresa, a LeukoSite, foi comprada pela Millennium Pharmaceuticals. Foi com este primeiro lucro que Springer começou a investir em outras empresas de biotecnologia, paralelamente à sua vida acadêmica.

Springer: ele ganhou 100 milhões de dólares depois que sua primeira empresa foi comprada em 1999 e passou a investir em startups de biotecnologia (Harvard/Divulgação)

As vacinas da Moderna

A pesquisa que deu origem à Moderna se baseia nos estudos de RNA (ou ácido ribonucleico), um material presente nas células. O RNA também aparece em células humanas saudáveis, mas, em muitos vírus, como o HIV ou o vírus do novo coronavírus, ele atua como material genético e é parte fundamental das infecções virais.

O nome da empresa, inclusive, vem de "ModeRNA" e, na bolsa, a empresa usa o ticker MRNA. A Moderna estuda especificamente o chamado RNA mensageiro (ou mRNA), um dos tipos de RNA que atuam no processo de atacar células humanas.

Quando um vírus infecta uma célula, consegue se multiplicar com base no material genético da própria célula. O RNA mensageiro, grosso modo, "viaja" pela célula levando as informações necessárias para ajudar nesta replicação. Com o material de uma célula humana, por exemplo, o vírus consegue se reproduzir e infectar mais células, até que haja uma infecção que, se infectar células suficientes, pode causar problemas ao corpo.

O objetivo da Moderna, mesmo antes do coronavírus, era fabricar vacinas e tratamentos contra infecções virais. A empresa está testando, por exemplo, uma vacina contra o vírus da zika ou um tratamento que cria anticorpos para a febre chicungunha.

A Moderna consegue modificar o RNA mensageiro e fazê-lo "comandar" a célula para produzir outras substâncias, mais benéficas para a resposta do corpo ao vírus.

A empresa explica em seu site que seu RNA mensageiro modificado atua sobretudo na produção dos chamados antígenos, as proteínas que fazem o corpo começar a produzir anticorpos -- que combaterão os vírus. A Moderna afirma que sua vacina é capaz de combinar antígenos ou intensificar sua produção, otimizando a produção de anticorpos e a resposta do corpo a um vírus. Muitos antígenos usados nas vacinas, embora conhecidos, também demoram a ser produzidos, e a Moderna afirma que sua pesquisa com RNA mensageiro torna o processo mais rápido.

Com esta metodologia desde a fundação, a Moderna já recebeu 3,2 bilhões de dólares em aportes e tem mais de 820 funcionários, segundo dados de janeiro de 2020 em seu site.

Na linha de pesquisa de proteínas que embasa a Moderna e a própria carreira acadêmica de Springer, o pesquisador doou 10 milhões de dólares em 2017 para estabelecer o Instituto para Inovação em Proteínas, uma organização sem fins lucrativos para pesquisa de proteínas e biotecnologia.

Para a vacina do coronavírus, os resultados dos testes divulgados nesta segunda-feira foram os primeiros com humanos e ainda precisam ser confirmados em novas baterias de análises. Ainda assim, foi o suficiente para a alta nas ações e para o otimismo global, que espera por uma vacina capaz de imunizar os seres humanos contra o vírus, que já matou mais de 316.000 pessoas e infectou outras 4,7 milhões.

Há mais de 100 vacinas e 200 remédios contra a covid-19 em fase de testes no mundo. Ao menos outros dois protótipos de vacina se mostraram promissores: uma vacina em parceria entre a Pfizer e a New York University (NYU) e outra da Universidade de Oxford. Ambas também já começaram a ser testadas em humanos.

"Tivemos a ideia muito cedo de que isso [a pesquisa da Moderna com RNA mensageiro] poderia ser usado para se preparar para uma pandemia", disse Springer à Forbes. "É por isso que investimentos em testes com humanos de diferentes tipos de influenza que não são normalmente vistos em epidemias mas poderiam emergir e começar uma pandemia. Nós estávamos cientes deste tipo de cenário o tempo todo."

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