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Problemas do Carrefour no Brasil começaram bem antes do rombo

Comodismo na estrutura da empresa, entrada tardia no e-commerce e problemas de logística estão entre os motivos

O Carrefour é o maior varejista da Europa e o segundo do planeta (Daniela Toviansky/EXAME)

O Carrefour é o maior varejista da Europa e o segundo do planeta (Daniela Toviansky/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2010 às 14h02.

São Paulo – Terceiro maior mercado do Carrefour no mundo, o Brasil é uma de suas maiores esperanças para continuar crescendo em ritmo acelerado. Um bom desempenho por aqui significa o antídoto das dificuldades enfrentadas pela rede na Europa, onde estão 77% de seu faturamento – e uma das maiores crises econômicas dos últimos tempos.

Os números do grupo no país, em si, não são ruins. Somente no terceiro trimestre, as vendas cresceram 13,1% sobre o mesmo período do ano passado. Taxas de crescimento de dois dígitos só foram vistas pelo Carrefour em outros três países em que opera: na Argentina (25,3%), Colômbia (12,1%) e China (16,1%).

Mas a descoberta de um rombo de 1,2 bilhão de reais nas contas da operação brasileira, antecipada pelo blog Primeiro Lugar, de EXAME, mostra que o Carrefour não está tomando os devidos cuidados para defender um mercado tão estratégico.

Segundo analistas de varejo consultados por EXAME.com, o Carrefour também enfrenta outras dificuldades no país, fruto de um certo comodismo decorrente da posição consolidada, aliada a um modelo tradicional de negócios. “O Carrefour sempre teve uma postura mais reativa. Só tomava alguma atitude quando via o avanço e inovação dos concorrentes”, afirma um consultor.

O próprio presidente mundial da rede, o francês Lars Olofsson, reconhece que houve problemas de gestão . “O que aconteceu foi claramente um mau funcionamento”, afirmou ele durante teleconferência com analistas e investidores, segundo a agência Dow Jones. “O Brasil é um mercado prioritário e não vamos deixar o país.” Veja alguns dos principais tropeços do Carrefour.

Dependência do modelo de hipermercado

Metade das vendas do Carrefour vem dos hipermercados, que representam quase metade das 611 unidades da rede no país. Em 1999, a empresa integrou as operações da rede Dia, mais regionalizada. Ainda assim não foi suficiente para fazer frente ao crescimento das concorrentes, que ampliavam os modelos. O Assai, do grupo Pão de Açúcar, responde hoje 9,5% do faturamento total. O grupo tem ainda outros seis modelos de supermercados, o que mostra uma forte diversificação.

Para reforçar sua presença, em 2006 o Carrefour lançou a bandeira Carrefour Bairro, hoje presente em São Paulo, Minas Gerais e Distrito Federal. “Para compras de reposição o consumidor prefere o mercado perto de casa, de menor porte”, afirmou um analista de varejo. “Esse é um movimento mundial e o Carrefour demorou para perceber isso.”

A rede francesa afirmou que priorizará a expansão de lojas com formatos menores e da rede Atacadão. A empresa pretende ainda converter alguns hipermercados Carrefour para lojas do Atacadão, rede adquirida em 2007. Recentemente houve a abertura de sete novas unidades e transformação de um Hipermercado localizado em São Miguel (SP) em Atacadão, garantindo a adequação do formato às oportunidades da região, além da inauguração de um hipermercado Carrefour em Belo Horizonte.


Entrada tardia no comércio eletrônico no Brasil

Segundo a consultoria ebit, o varejo eletrônico movimentou até julho 7,8 bilhões de reais, um crescimento de 41,2% em relação ao mesmo período do ano passado. É uma parcela de mercado que não pode ser ignorada. O pioneirismo é do grupo Pão de Açúcar que iniciou suas operações em 1995 com o Pão de Açúcar Delivery. Hoje controla também o Pontofrio.com.br, extra.com.br, paodeacucar.com.br e casasbahia.com.br.

O Walmart ingressou no setor em 2008 e hoje tem 50.000 itens divididos em 21 categorias. O Carrefour foi o último. Lançou sua plataforma online em março deste ano e oferece, atualmente, 17 categorias de produtos. Procuradas, elas não divulgam dados sobre o segmento.

Má administração da operação brasileira

“Estamos determinados a fazer o que for preciso para chegarmos ao fundo do que eu classifiquei como má administração”, afirmou o presidente mundial Lars Olofsson. Uma das principais mudanças aconteceu com a nomeação do executivo Luiz Fazzio, substituto do francês Jean Marc Pueyo, para a direção do Carrefour. A ideia era melhorar as contas da empresa.

Segundo a empresa, nos últimos cinco meses a unidade brasileira consolidou a estruturação da equipe comercial com a contratação de executivos do mercado nacional e internacional bem como a implementação de novas ferramentas de gestão; o Conselho Federal de Contabilidade está investigando os auditores responsáveis pela contabilidade do Carrefour SA, depois que a unidade local do grupo francês fez baixas contábeis mais de três vezes acima do que era esperado.

Problemas com logística e falta de produtos

Um bom índice para avaliar o atendimento das redes é saber o que os clientes pensam. De acordo com o Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), ligado ao Ministério da Justiça, o Carrefour foi o campeão de reclamações em 2009, num total de 9.616 sobre problema na entrega, produtos com defeito e mal atendimento. Na sequência vem o Pão de Açúcar com 1.622 e o Walmart com 416.

Para sanar o problema, o Carrefour inaugurou no ano passado dois centros de distribuição para Atacadão, localizados em Recife e Ribeirão Preto. A bandeira Carrefour também teve ampliação, com um centro de distribuição em Itapevi (SP) e uma Plataforma de Distribuição de Perecíveis (PE). Em 2010, a empresa inaugurou um Centro de Distribuição em Manaus para atender ao crescimento da operação na capital amazonense.

Para efeito de comparação, o Grupo Pão de Açúcar ampliou em 30% sua capacidade logística neste ano, com sete novas centrais de distribuição em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília que se somam as demais 27 já existentes de GPA e Ponto Frio, garantindo o abastecimento das 1.080 lojas do grupo em todo o país.

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