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Prevent Senior responde a Mandetta: “Queremos que nos deixem trabalhar”

À EXAME, o presidente da operadora, Fernando Parrillo, diz que número de mortes na rede está abaixo da média global para pacientes com 80 anos

Fachada de hospital da Prevent Senior no Tatuapé (Prevent Senior/Divulgação)

Fachada de hospital da Prevent Senior no Tatuapé (Prevent Senior/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 1 de abril de 2020 às 08h07.

Última atualização em 1 de abril de 2020 às 09h29.

O presidente da operadora de planos de saúde Prevent Senior, Fernando Parrillo, recebeu com espanto as críticas feitas ontem pelo ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta à companhia. Em pronunciamento, Mandetta disse que criou-se um “ambiente de transmissão” de coronavírus em um hospital da operadora e questionou o modelo de negócio da empresa, focada em clientes idosos. Das 136 mortes por coronavírus confirmadas no estado de São Paulo, 79 ocorreram em hospitais da operadora.

Em entrevista a EXAME, Parrillo respondeu às afirmações do ministro. Mandetta criticou a concentração de idosos doentes em um único hospital e disse que estudava com o governo de São Paulo uma intervenção na unidade onde ocorreram as mortes. No início da crise, a rede concentrou o atendimento a esses pacientes em uma unidade, no bairro do Paraíso, em São Paulo. Hoje já são três atendendo aos casos de coronavírus, nos bairros do Paraíso, Santa Cecília e Mooca. As mortes ocorreram em dois hospitais e não em um, diz a empresa.

Sobre o isolamento dos pacientes com covid-19 em algumas unidades, Parrillo afirma: “Não estamos inventando moda. Estamos seguindo os protocolos e recomendações da Organização Mundial da Saúde. O isolamento nos hospitais é uma estratégia para não precisar parar completamente o atendimento aos pacientes com outras necessidades. Isolamos hospitais para os pacientes que estão com o vírus, e o restante atende aos demais beneficiários que continuam com suas demandas”, afirma.

Em nota, a companhia afirma que os pacientes com covid-19 internados em seus hospitais não foram contaminados dentro das unidades, “conforme atestam os exames laboratoriais, colhidos fora dos estabelecimentos”. O presidente da empresa também afirma que os casos de infecção e as mortes causadas pelo vírus são notificados rapidamente pela operadora, o que pode ampliar a proporção de casos vindos da Prevent Senior.

Ainda de acordo com Parrillo, a mortalidade de pacientes com coronavírus nas unidades da rede está abaixo da taxa média divulgada pela OMS para infectados com idade acima de 80 anos. Segundo a OMS, a letalidade do vírus para essa faixa etária é de 14,8%. Dentre os pacientes atendidos pela Prevent Senior com a doença, ela está em 12%. Segundo a companhia, os mortos em seus hospitais têm em média 80 anos. A empresa afirma ainda que 68 dos seus pacientes com coronavírus receberam alta desde o início da crise.

Outro indicador destacado pelo executivo é a taxa de contaminação pelo vírus dentre os profissionais da rede. A Prevent Senior tem 10.000 funcionários no estado, espalhados por 60 unidades. Desses, 179 tiveram suspeita de infecção, sendo 82 que tiveram teste positivo para o coronavírus e 97 tiveram teste negativo. Segundo a companhia, "o índice de infecção de profissionais de saúde pelo coronavírus é o menor das redes pública e privada".

O ministro Mandetta também questionou o fato de a operadora focar seu modelo apenas no público idoso e disse que a Prevent Senior não considerou que, com isso, corria um risco mais alto. “Ele achou na sua cabeça de empresário que os idosos compram muito plano de saúde, então pensou: vou vender um plano de saúde mais barato. Ele não diluiu o risco da carteira, e ficou com a carteira dos mais complexos. Não contava com a entrada de um vírus de tropismo para esse paciente e provavelmente não tomou as barreiras que precisaria ter tomado antes da chegada do vírus”, disse o ministro.

Sobre esse ponto, Parrillo afirma: “Risco mais alto a gente corre desde que abrimos. Tratamos das pessoas mais debilitadas há 23 anos e provamos que nosso modelo funciona. Não faz sentido discutirmos modelo de negócio agora. O que queremos é apenas que nos deixem trabalhar”, afirmou à reportagem. O executivo diz que não há risco de falta de leitos na operadora. A expectativa é de que os pacientes com covid-19 usem até 25% dos leitos da rede. “Estamos preparados para montar um hospital de campanha com 1.900 leitos, mas não deve haver necessidade”, afirma. Em nota a empresa afirma que “está à disposição para mostrar às autoridades públicas e a qualquer jornalista interessado todos os procedimentos adotados pela operadora, cuja gestão é atestada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)”.

Parrillo afirma que a operadora está em campanha incentivando o isolamento social para seus beneficiários. Uma das medidas para isso tem sido através das consultas virtuais. “Já fizemos mais de 35 mil consultas via telemedicina, somos uma das empresas com mais uso dessa tecnologia”, afirmou o executivo. A companhia também vai aplicar a vacina contra a gripe em seus beneficiários, para evitar que eles precisem ir até os postos de saúde. A vacinação está atrasada, aguardando a chegada das vacinas.

Parrillo diz que a experiência da pandemia não ameaça seu modelo de negócio e que não haverá impacto significativo nos resultados da empresa ou na sinistralidade da operadora. “Estamos aprendendo muito sobre o tratamento da covid-19 em idosos e nos colocamos à disposição das autoridades para auxiliar”, diz o executivo. A operadora foi uma das primeiras a usar o medicamento cloroquina de forma experimental para o tratamento da doença. Até agora 276 pacientes confirmados com a doença receberam o medicamento.“Os resultados tem sido muito bons, quando o medicamento é usado no momento certo”, afirma o executivo.

A manifestação do ministro Mandetta não foi a primeira vinda de agentes públicos com críticas à Prevent Senior desde o início da crise do coronavírus no Brasil. Na última sexta-feira (27), a Secretaria da Municipal de Saúde de São Paulo solicitou a intervenção no Hospital Sancta Maggiore, da operadora, devido ao elevado número de mortes por coronavírus registrados e aos resultados de laudos das inspeções da Vigilância em Saúde do Município, realizados na instituição. O Ministério Público de São Paulo investiga se a operadora deixou de notificar casos da doença em seus hospitais. A Prevent Senior afirma que tem cumprido rigorosamente as normas de atendimento.

 

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