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Presidente do conselho da Nissan, Carlos Ghosn é preso no Japão

Dono de uma das carreiras mais brilhantes do mundo dos negócios, executivo nascido no Brasil comandou a virada da Nissan e é suspeito de fraude fiscal.

O executivo Carlos Ghosn (Boris Horvat //AFP Photo)

O executivo Carlos Ghosn (Boris Horvat //AFP Photo)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 19 de novembro de 2018 às 09h47.

Última atualização em 19 de novembro de 2018 às 14h27.

São Paulo – Presidente do conselho de administração da Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn foi preso nesta segunda-feira no Japão sob suspeita de violações financeiras. A suspeita é de que o executivo de 64 anos tenha fraudado informações sobre suas receitas. A Nissan já divulgou que vai demiti-lo.

A Nissan divulgou comunicado dizendo que conduziu uma investigação interna nos últimos meses sobre a conduta do executivo e do diretor Greg Kelly. "A investigação mostrou que durante muitos anos Ghosn e Kelly reportaram valores de compensação nos relatórios da Bolsa de Valores de Tóquio menores que os reais", disse a montadora, de acordo com jornal The Japan Times. Há ainda indícios de que Ghosn tenha usado bens da companhia em benefício próprio. Investigadores de Tóquio fizeram buscas na sede da companhia.

A Nissan afirma que seu CEO, Hiroto Saikawa, vai propor ao conselho de administração da companhia a imediata retirada de Ghosn dos cargos de presidente e diretor da montadora, assim como de Kelly do cargo de diretor. " A Nissan lamenta profundamente por ter causado preocupação a nossos acionistas e stakeholders", disse a montadora em nota reproduzida pelo The Japan Times.

A prisão do executivo abalou a indústria automotiva. Visto como exemplo de CEO e dono de uma das carreiras mais brilhantes do mundo dos negócios, ele é o grande responsável pela virada na Nissan nas últimas duas décadas. Há cerca de 20 anos, a montadora cambaleava à beira da falência, e Ghosn foi capaz de conduzir a companhia para fora do buraco.

O executivo chegou à companhia em 1999 e criou uma aliança com a montadora francesa Renault que ajudou a companhia a virar a página. Depois a aliança incluiu também a Mitsubishi.

Ghosn se tornou presidente da Nissan no ano 2000, quando iniciou uma drástica reestruturação na companhia, o que lhe rendeu a fama de severo cortador de custos. Passou também a negociar pesado com fornecedores de aço, tornando os produtos da Nissan mais competitivos.

Sob seu comando, a aliança entre Nissan, Renault e Mitsubishi tornou-se a maior vendedora de carros do mundo, fazendo frente à rival Volkswagen. A aliança vendeu 5,5 milhões de veículos no mundo nos primeiros seis meses de 2018, segundo o The Japan Times. Com a prisão do executivo, a aliança entre as montadoras fica ameaçada.

O salário reportado por Ghosn no último ano caiu 33% em relação a 2016, segundo o The Japan Times. Foram 730 milhões de ienes, contra 1,09 bilhão de ienes em 2016 e 1,07 bilhão de ienes em 2015 -isso só pelos serviços prestados à Nissan. Ele é um dos executivos mais bem pagos tanto do Japão quanto da França, o que sempre gerou críticas. Ghosn tem múltiplos contracheques, devido a seus vários papeis como presidente da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi, CEO da Renault e presidente da Nissan e da Mitsubishi.

No ano passado, Ghosn deixou o cargo de CEO da Nissan, ficando somente como presidente. Havia o rumor de que ele se preparava também para deixar o cargo de CEO da Renault antes de 2022. A movimentação já colocava dúvidas sobre a continuidade da aliança entre as companhias, que agora fica ainda mais incerta.

Ghosn nasceu no Brasil mas ficou pouco tempo no país. Ele é descendente de libaneses e cidadão francês. O executivo iniciou sua carreira na Michelin.

 

 

 

 

 

 

 

 

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