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Preocupação de auditor da Petrobras revela aliado de bônus

Os auditores estão mostrando que compartilham da crescente preocupação dos acionistas de que a Petrobras está assumindo muitas dívidas


	Chaminé em plataforma de Petróleo da Petrobras: o montante de US$ 113 bilhões em dívidas da Petrobras é o maior entre 46.166 empresas não financeiras de mercados emergentes
 (Sérgio Moraes/Reuters)

Chaminé em plataforma de Petróleo da Petrobras: o montante de US$ 113 bilhões em dívidas da Petrobras é o maior entre 46.166 empresas não financeiras de mercados emergentes (Sérgio Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de março de 2014 às 14h59.

Rio de Janeiro - Menos de um mês depois que a Petrobras recebeu uma recomendação de seu próprio auditor interno para reduzir suas dívidas, a produtora brasileira de petróleo vendeu US$ 8,5 bilhões em bônus na maior oferta do mundo neste ano.

A recomendação do comitê de auditoria formado por cinco membros, feita em uma reunião realizada no dia 25 de fevereiro, apareceu em um comunicado regulatório de 14 de março, primeira vez que esse tipo de orientação foi tornado público desde 2003, pelo menos.

O grupo aconselhou a Petrobras a reduzir sua relação dívida/lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização para 2,5 vezes, contra mais de 3,5 vezes, que é o nível mais alto desde 1997.

Os auditores, que são eleitos na reunião anual de acionistas, estão mostrando que compartilham da crescente preocupação dos acionistas de que a Petrobras está assumindo muitas dívidas para cumprir um plano de investimentos de cinco anos de US$ 221 bilhões.

Os US$ 38,5 bilhões em bônus vendidos nos últimos três anos, que tornaram a Petrobras a produtora de petróleo de capital aberto mais endividada do mundo, levaram a Moody’s Investors Service a reduzir sua classificação para a dívida em outubro.

A recomendação dos auditores “tem um impacto, porque mostra que não são apenas os investidores que estão preocupados”, disse Claudio Robertson, chefe de renda fixa da Investment Placement Group, com sede em San Diego, que gerencia US$ 500 milhões em dívidas latino-americanas, incluindo bônus da Petrobras.

Representante de acionistas

As notas da empresa perderam 2,7 por cento nos últimos 12 meses, mais que o dobro da queda média dos bônus emitidos por produtores de petróleo de mercados emergentes.


A assessoria de imprensa da Petrobras preferiu não comentar os comentários dos auditores.

O conselho da empresa, que tem sede no Rio de Janeiro, havia feito recomendações similares, disse a CEO Maria das Graças Foster, em 17 de março.

Segundo as regras regulatórias brasileiras, as minutas de uma reunião do comitê de auditoria precisam ser divulgadas apenas em circunstâncias específicas. Só as minutas das auditorias de 2010 e 2013 da Petrobras estão disponíveis no arquivo público da reguladora na internet, iniciado em 2003.

O comitê de auditoria é formado por representantes dos acionistas. Três representam o governo como sócio majoritário, um fala em nome de detentores de ações comuns e outro, dos donos de papéis preferenciais, segundo o site da Petrobras.

No dia 2 de abril será realizada a eleição para o comitê na assembleia anual de acionistas.

Vendas de bônus

“Eu não me lembro de ter visto um auditor dizendo à empresa para reduzir a alavancagem”, disse Omar Zeolla, analista de crédito corporativo da Oppenheimer Co., em entrevista por telefone, de Nova York. “Mas eu não acredito que as coisas vão mudar. Não parece que vá ser assim, apesar de que haverá melhorias nos próximos doze meses”.


O montante de US$ 113 bilhões em dívidas da Petrobras é o maior entre 46.166 empresas não financeiras de mercados emergentes monitoradas pela Bloomberg. A empresa planeja tomar US$ 12,1 bilhões em dívida ao ano, em média, até 2018, em sua busca para financiar o aumento da produção e expandir a capacidade de refino.

A oferta deste mês da Petrobras ocorreu após uma venda de US$ 5,1 bilhões em títulos denominados em euros e libras no dia 7 de janeiro. Em maio, a empresa emitiu US$ 11 bilhões de bônus, um recorde para mercados emergentes.

Os bônus da Petrobras são “baratos” e têm probabilidade de alta, disseram Chris Buck e Aziz Sunderji, analistas do Barclays Plc. Os bônus da Petrobras com vencimento em 2023 rendem 1,6 ponto porcentual mais que dívidas com vencimento semelhante do governo brasileiro, de até 1,39 ponto porcentual três meses atrás, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Rebaixamento da Moody’s

“A diferença da Petrobras está próxima ao maior nível da história em relação aos títulos soberanos do Brasil” e outros bônus corporativos brasileiros classificados como BBB, escreveram os analistas em uma nota a clientes no dia 11 de março. “Nós vemos a Petrobras como barata sob todos esses ângulos e esperamos um bom desempenho nas próximas semanas e meses”.

A Moody’s reduziu em um nível a classificação de crédito da Petrobras no dia 3 de outubro, para Baa1, o terceiro mais baixo grau de investimento, e manteve uma perspectiva negativa para a empresa, citando os crescentes níveis de dívida.

“Baixar sua alavancagem sempre será percebido como positivo”, disse Su Fei Koo, gerente financeiro da Doubleline Capital LP, em entrevista por telefone, de Los Angeles. “É estranho que isso esteja vindo do auditor. Eu nunca vi isso antes. A questão é quando eles farão isso”.

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