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Preços e margens: o que a Cielo perde na guerra das maquininhas

A nova negociação com os controladores, Banco do Brasil e Bradesco, pode trazer economias e alívio para a Cielo, mas a concorrência deve se manter forte

“A Cielo não trará clientes para cá a qualquer preço”, afirmou o presidente da Cielo, Paulo Caffarelli, em teleconferência com investidores. (Paulo Fridman/Bloomberg)

“A Cielo não trará clientes para cá a qualquer preço”, afirmou o presidente da Cielo, Paulo Caffarelli, em teleconferência com investidores. (Paulo Fridman/Bloomberg)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 15h30.

Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 16h30.

Na guerra das maquininhas, a Cielo viu sua receita cair, os gastos aumentarem e a margem encolher. Nos próximos trimestres, a concorrência deve continuar pressionando os preços e ganhos e a perspectiva do mercado não é muito otimista no curto prazo.

A empresa de adquirência apresentou lucro de 242 milhões de reais no quarto trimestre do ano passado, abaixo do consenso de mercado e 68% inferior ao mesmo período do ano passado.

Uma nova negociação com os bancos controladores, Banco do Brasil e Bradesco, pode trazer economias e alívio para a Cielo, mas a companhia deve continuar pressionada pela concorrência e pela guerra de preços. A ação da Cielo subiu 1,3% hoje.

A Cielo pode estar ganhando mercado. Os volumes transacionados foram de 190 bilhões de reais, alta de 12,6% em relação ao ano passado e de 10,75 em relação ao trimestre anterior. A base ativa de clientes aumentou 4,6% em relação ao trimestre anterior, para 1,6 milhão de clientes. Atualmente, ela domina 42% do mercado.

Por outro lado, a receita operacional bruta caiu 1,2% em relação ao ano passado. Isso porque a companhia precisou ajustar os preços dos produtos e taxas e aumentar descontos para combater a concorrência. Para reverter a perda de clientes, a Cielo ajustou o preço de 75% de seu portfólio.

Assim, o seu yield (a relação entre as receitas no Brasil divididas por volumes transacionados, uma métrica de rentabilidade) foi de 0,7% no trimestre. Há três anos, era de 1,2%.

 

 

Operação mais cara

Já as despesas operacionais cresceram 12,5%. As despesas com marketing e vendas na divisão Cielo Brasil cresceram 76% no trimestre. Parte do aumento dos custos é por conta de subsídios dados a empreendedores na aquisição das maquininhas. Para os próximos trimestres, os diretores da companhia afirmaram que irão impor limites a esses subsídios.

Ou seja, conquistar clientes ficou mais caro para a Cielo. Os preços devem continuar sendo pressionados nos próximos trimestres. Mas, se até então a estratégia era manter a participação de mercado, a empresa deve segurar os preços e rentabilizar sua base de clientes em 2020. “A Cielo não trará clientes para cá a qualquer preço”, afirmou o presidente da Cielo, Paulo Caffarelli, em teleconferência com investidores.

Para alcançar novos clientes do varejo, a empresa contratou, no ano passado, mil pessoas para sua força de vendas. Cerca de 12% do volume transacionado no quarto trimestre já veio desses novos clientes conquistados pelos vendedores.

A empresa também investiu em um novo sistema de atendimento ao cliente para melhorar a qualidade do serviço e diminuir o número de reclamações.

"Acreditamos que os volumes estão realmente crescendo, mas não esperamos melhoras consideráveis nas margens, pois os clientes devem se tornar mais elásticos aos preços. Como consequência, a Cielo não deve ser capaz de recuperar sua rentabilidade em futuro próximo", diz relatório da XP, chamado "Chegamos no fundo do poço?".

Novo acordo com bancos

Junto com seus resultados, a Cielo divulgou que renegociou seus contratos com os bancos controladores, Banco do Brasil e Bradesco. O contrato se refere à taxa que a Cielo paga pela intermediação e captura de novos clientes, bem como pela manutenção dos varejistas. Cerca de 70% do volume transacionado pela Cielo vem dos bancos controladores.

O novo contrato define que será paga uma taxa de 10 pontos sobre o volume negociado elegível, que leva em conta uma rentabilidade mínima. No entanto, a companhia não abriu qual era a taxa anterior e nem qual deve ser a economia com o novo contrato. Segundo uma estimativa do JP Morgan, os novos contratos devem garantir uma economia de 400 a 600 milhões de reais para a Cielo.

A situação no curto prazo não é otimista. "Como os últimos trimestres do ano tendem a ser o período mais forte, os resultados do quarto trimestre de 2019 definem um ponto de partida baixo para 2020", diz relatório do JP Morgan.

"Como estamos dizendo há algum tempo, temos dificuldade em ver a Cielo tendo sucesso debaixo da estrutura atual de controle. Então, quanto mais tempo demorar para resolver, potencialmente será pior pode ser para as ações", escreveu o BTG em relatório.

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