Colégio Santa Cruz preserva, desde 1974, um programa gratuito de Educação de Jovens e Adultos (EJA) (Arquivo Pessoal)
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Publicado em 18 de novembro de 2025 às 12h00.
Em um setor privado onde poucas escolas mantêm cursos noturnos para trabalhadores, o Colégio Santa Cruz preserva, desde 1974, um programa gratuito de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que atravessou cinco décadas.
O programa atende 600 estudantes por semestre, distribuídos em aproximadamente 20 turmas que vão da alfabetização ao ensino médio. Desde 2012, também oferece formação técnica de nível médio em Administração e Logística.
A gratuidade é total. O colégio fornece alimentação e subsidia o transporte de todos os alunos. As rotinas incluem aulas noturnas de segunda a sexta, jantar servido na escola e acompanhamento contínuo das equipes pedagógicas.
O acesso começa com inscrição, entrevista no serviço social do colégio e uma avaliação diagnóstica que define a turma mais adequada ao percurso de cada estudante. Há limite de vagas, com salas que variam entre 30 e 35 pessoas.

Aulas acontecem de segunda a sexta no período noturno
Para Roberto Catelli, diretor dos cursos noturnos do Santa Cruz, a sala noturna revela um recorte raro de diversidade na educação privada. Mais da metade dos estudantes é nascida no Nordeste, especialmente Bahia e Pernambuco. Dois terços são mulheres e dois terços são pessoas negras. As idades vão dos 16 aos 75 anos, com presença importante de adultos acima dos 40.
“A diversidade traz mais riqueza e permite uma convivência horizontal”, defende.
De acordo com ele, ainda que pontuais, a convivência com histórias de vida muito diferentes das do turno da manhã, somada a projetos que aproximam alunos dos dois períodos, ajuda a expandir percepções e fortalecer a missão de formar uma comunidade escolar ampla.
A origem do projeto está na congregação católica que mantém o Santa Cruz.
“A direção tinha muito claro que a missão da escola ia além de uma educação para a elite.”
Catelli conta que poucas instituições privadas mantêm algo semelhante. “Dá para contar nos dedos”, resume o diretor. Ainda assim, o Santa Cruz seguiu investindo no EJA, mesmo com custos altos de alimentação, transporte e corpo de educadores e infraestrutura.
Escola deve repensar formatos para facilitarm a permanência dos estudantes (Arquivo Pessoal)
O colégio avalia oferecer novas habilitações técnicas, embora ainda analise quais cursos fazem mais sentido para transformar a vida dos estudantes. Outro foco é repensar formatos que facilitem a permanência: cerca de um terço abandona o curso por dificuldades relacionadas ao trabalho, à saúde ou às responsabilidades familiares.
Mesmo com os desafios, o Santa Cruz mantém o compromisso. Para Catelli, em meio às desigualdades educacionais do país, o programa reafirma uma escolha deliberada: sustentar, há cinquenta anos, um espaço de formação para quem quase nunca encontra portas abertas.