Dileep Thazhmon, da Jeeves: "O Brasil é um país grande, com uma infraestrutura financeira sofisticada, mas ao levar essas soluções para outros países, é necessário simplificar um pouco, pois nem todos os mercados têm a mesma sofisticação" (Vaughn Ridley/Web Summit /Divulgação)
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 2 de maio de 2025 às 07h30.
Última atualização em 2 de maio de 2025 às 14h58.
A Jeeves, fintech que oferece soluções de gestão financeira para empresas, tem como foco simplificar e integrar as operações financeiras de empresas de médio e grande porte que atuam em múltiplos países.
Fundada em 2021, a empresa tem se expandido rapidamente para mais de 25 países, incluindo Brasil, México, Colômbia, Estados Unidos e várias regiões da Europa, com a expectativa de o Brasil se tornar o segundo maior mercado da empresa ainda em 2024.
A presença da Jeeves no Web Summit, realizado no Rio de Janeiro, evidenciou o peso que o mercado brasileiro tem para a fintech, que anunciou planos de expansão local.
Durante sua participação no evento, o fundador da Jeeves, Dileep Thazhmon, destacou a estratégia da empresa para conquistar o Brasil e levar inovações criadas localmente para outros mercados internacionais.
A plataforma da Jeeves oferece uma solução “all-in-one” para empresas, com serviços como cartões corporativos (físicos e virtuais), gestão de despesas, pagamentos automatizados, linha de crédito e contas internacionais.
As empresas podem controlar seus gastos em tempo real, gerenciar despesas com integração a ERPs, fazer pagamentos em mais de 150 países e gerenciar fluxos de caixa de forma automatizada, especialmente no contexto de empresas com operações em múltiplos países.
Dileep Thazhmon explicou como a empresa se posiciona no mercado: “A Jeeves foi criada para resolver um problema real de integração e eficiência financeira. Com nossa plataforma, conseguimos oferecer uma solução global que centraliza tudo em um único lugar, tornando a gestão financeira das empresas mais ágil e eficiente."
Com o modelo de "business banking", a Jeeves atende principalmente empresas de médio porte e em estágio inicial, com equipes financeiras estruturadas e com receitas mínimas de 2 milhões de dólares anuais.
Empresas como Burger King, H&M, Kavak, Rappi e Hotmart estão entre os clientes da fintech, que se destaca pela automação e integração de processos financeiros, eliminando sistemas fragmentados e reduzindo custos operacionais.
“O Brasil é um mercado estratégico, com uma população grande e um ecossistema financeiro sofisticado. Estamos empolgados com as oportunidades aqui e a demanda por nossas soluções tem sido impressionante", afirmou Thazhmon no evento.
Para sustentar esse crescimento, a empresa está ampliando seu time local, com o objetivo de dobrar a equipe de 25 para 40 funcionários até maio de 2025.
No cenário atual, a Jeeves também planeja triplicar sua base de clientes no Brasil. Uma das principais iniciativas da fintech é o lançamento da Travel API, uma solução para emissão de cartões de crédito virtuais programáticos, especialmente voltada para agências de viagens e operadoras, permitindo total autonomia, controle em tempo real e maior segurança contra fraudes.
A API já ultrapassou a marca de 100.000 cartões virtuais criados no Brasil e está sendo expandida para outros países da América Latina, como México e Colômbia.
“Nosso objetivo com a Travel API é tornar as transações corporativas mais seguras e eficientes. A demanda no Brasil tem sido muito positiva, e estamos prontos para expandir esse produto para outras regiões”, destacou o CEO da Jeeves.
Outro grande movimento da empresa no Brasil é a obtenção da licença SCD (Sociedade de Crédito Direto), prevista para outubro de 2024.
Com a licença própria, a Jeeves poderá oferecer depósitos completos, cartões corporativos com crédito e criar um novo produto financeiro baseado em depósitos, com uma rentabilidade de 110% do CDI.
“A licenciamento SCD no Brasil é um passo fundamental para nossa estratégia local. Com isso, seremos capazes de oferecer mais flexibilidade e produtos financeiros adaptados às necessidades das empresas brasileiras”, disse Thazhmon.
A Jeeves foi fundada por Dileep Thazhmon, um empreendedor em série com um vasto histórico no setor de tecnologia e fintech.
Antes de criar a Jeeves, Thazhmon fundou a Jeeng, uma startup de automação de marketing digital que foi adquirida pela OpenWeb em 2020 por US$ 100 milhões. Sua trajetória no setor de tecnologia é marcada por uma visão inovadora de resolver problemas complexos através de soluções simples e escaláveis.Formado em Engenharia, Ciência da Computação e Administração pela Drexel University e com um MBA pela Stanford Graduate School of Business, Thazhmon traz uma bagagem acadêmica robusta, complementada por sua experiência prática em criar empresas de sucesso.
A criação da Jeeves surgiu de uma experiência pessoal: durante a gestão de sua startup anterior, ele enfrentou dificuldades para lidar com as complexas operações financeiras internacionais, como múltiplos cartões corporativos e contas bancárias em diferentes países e moedas.
Essa falta de integração e eficiência inspirou Thazhmon a criar uma infraestrutura financeira global, simplificando a gestão de despesas para empresas que operam em múltiplos mercados.
Sob a liderança de Thazhmon, a Jeeves se tornou um unicórnio em 2022, atingindo um valuation superior a US$ 1 bilhão.
Sua visão de criar um sistema operacional financeiro global, capaz de superar barreiras regulatórias e tecnológicas, tem impulsionado a expansão da fintech para mais de 20 países, com destaque para o mercado brasileiro, que já representa uma parte significativa de sua operação.
A filosofia de Thazhmon é focada na contratação de executivos com perfil empreendedor, acreditando que fundadores têm uma capacidade única de inovar e escalar negócios em ambientes desafiadores.
A Jeeves também utiliza a inteligência artificial para otimizar seus processos internos, como na subscrição de crédito e no atendimento ao cliente.
Aplicações de crédito de até 40 mil dólares são avaliadas com IA, economizando 3 a 4 horas por solicitação e aumentando significativamente a capacidade de produção. “Utilizamos IA para reduzir custos operacionais e aumentar a eficiência. Isso nos permite tomar decisões mais rápidas e precisas, sem perder a qualidade no serviço", afirmou Thazhmon.
A IA também é empregada para cobrança, com interações automatizadas com clientes para valores abaixo de 20 mil dólares, além de ser utilizada no processo de onboarding de novos clientes.
Embora a IA tenha sido fundamental para aumentar a eficiência interna, a fintech ainda não está confortável em expor a IA diretamente para clientes em transações financeiras, devido à alta responsabilidade e risco associados a erros em dados financeiros.
“O uso de IA tem sido uma grande vantagem para nós. No entanto, quando se trata de transações financeiras, a precisão é fundamental, e preferimos garantir que o processo seja totalmente supervisionado antes de entregá-lo diretamente ao cliente”, destacou Dileep.
O Brasil, com sua complexa estrutura regulatória e forte infraestrutura financeira, é um terreno fértil para inovação no uso de IA. A Jeeves vê grandes oportunidades no mercado local, especialmente no campo jurídico. “Um exemplo de IA que está ganhando tração no Brasil é o uso de IA no setor jurídico, onde a alta litigiosidade cria uma demanda significativa por soluções automatizadas", explicou Thazhmon.
A Jeeves também está bem posicionada financeiramente para expandir no Brasil. Em 2024, a fintech levantou US$ 75 milhões em uma linha de crédito, além de ter captado US$ 250 milhões em três rodadas anteriores, sendo apoiada por grandes investidores como Andreessen Horowitz, Tencent e Y Combinator.
A empresa está em uma posição de caixa forte, o que lhe permite investir em novos mercados sem a necessidade de levantar mais capital no curto prazo.
“Estamos em uma posição financeira sólida, o que nos permite expandir com confiança, sem depender de novas rodadas de captação. Nosso foco agora é investir nos mercados onde vemos maior potencial, e o Brasil certamente é uma prioridade", afirmou Thazhmon.
Essa solidez financeira tem sido crucial para sua estratégia de expansão no Brasil, com destaque para os novos produtos voltados para o mercado local.
A Jeeves está apostando no conceito de “Brasil para o mundo”, criando soluções financeiras adaptadas ao mercado brasileiro e expandindo-as para outros países da América Latina, como evidenciado pelo sucesso da Travel API.
Um dos desafios apontados por Dileep no Web Summit foi a complexidade de globalizar soluções a partir do Brasil, devido às particularidades do mercado local.
"O Brasil é um país grande, com uma infraestrutura financeira sofisticada, mas ao levar essas soluções para outros países, é necessário simplificar um pouco, pois nem todos os mercados têm a mesma sofisticação", explicou o fundador.
Para a Jeeves, adaptar suas soluções para o Brasil e depois expandir para outros países da América Latina tem sido uma estratégia eficaz.
Com a expansão acelerada e uma equipe local em crescimento, a Jeeves tem grandes planos para o Brasil. A fintech está investindo em uma série de novas soluções e parcerias para continuar sua trajetória de sucesso. Além do lançamento da Travel API e dos novos produtos financeiros, a Jeeves pretende continuar a melhorar sua plataforma, criando um ambiente mais integrado e automatizado para empresas de médio porte.
A empresa também está focada em fortalecer sua equipe de talentos no Brasil, com cerca de 30 vagas abertas em diversas áreas, como Finanças, Produtos, TI e Vendas.
“Estamos crescendo rapidamente e procurando pessoas para se juntar à nossa missão de construir um banco de negócios global. O Brasil tem sido um mercado crucial para nós, e estamos empolgados com as oportunidades futuras”, diz Thazhmon.