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Por que Kia, JAC e Chery metem medo nas montadoras nacionais

Montadoras asiáticas representam pouco mais de 3% do mercado brasileiro – e já incomodam muita gente

Kia Soul: montadora coreana é uma das mais atingidas pelo aumento do IPI (MARCO DE BARI/Quatro Rodas)

Kia Soul: montadora coreana é uma das mais atingidas pelo aumento do IPI (MARCO DE BARI/Quatro Rodas)

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Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2011 às 18h19.

São Paulo – É claro que o recente aumento do IPI sobre os carros importados atinge todo o setor, mas três montadoras parecem estar especialmente na mira: a coreana Kia e as chinesas JAC e Chery.

Mas por que medalhões da indústria automotiva brasileira se preocupariam com três concorrentes que somam 3,6% das vendas nacionais entre janeiro e agosto, a ponto de articular com o governo uma medida que soou protecionista e retrógrada? O motivo é bem óbvio: faz parte do jogo impedir que os concorrentes cresçam.

Veja, a seguir, o que leva a Kia, JAC e Chery a incomodar as montadoras já estabelecidas no país.

Rápido crescimento

No acumulado até agosto, os importadores representados pela Abeiva emplacaram 129.281 veículos – um salto de 112% sobre o mesmo período do ano passado. Na linha de frente, estão a Kia, a JAC e a Chery.

A montadora coreana vive um ano de recordes no Brasil e vendeu 53.918 unidades até agosto, pouco menos que os 57.626 que emplacou em todo o ano de 2010. Já a JAC iniciou suas operações oficialmente no país em março. Com 14.459 unidades, é a segunda maior no ranking da Abeiva. Sua conterrânea Chery vendeu 12.770 carros, praticamente uma vez e meia o total registrado em 2010 inteiro.

Rede de concessionárias

Ao contrário de experiências anteriores, em que a importação ficava restrita a uma pequena rede de concessionárias e prestadores de serviços, as montadoras asiáticas desembarcaram no Brasil com uma estratégia forte de revendedores.

Comandada por Sérgio Habib, que também importa a marca de luxo Aston Martin, a JAC chegou ao Brasil já com 50 concessionárias em 28 cidades. A Chery conta com cerca de 80 concessionárias e planejar chegar a 150 até 2012. Já a Kia, estabelecida há mais tempo, possui cerca de 180 distribuidores.


Modelos mais “populares”

O maior número de concessionárias reflete, também, o foco das asiáticas: vender modelos mais “populares”, capazes de competir com as montadoras já instaladas por aqui. O Chery QQ, por exemplo, estreou com o objetivo de ser o popular “mais barato” do país. Já o J3, da JAC, disputa mercado com o Pálio, da Fiat, e o Gol, da Volkswagen.

Marketing agressivo

Para convencer os brasileiros de que seus veículos são melhores que os da concorrência, as asiáticas não estão economizando no marketing. A JAC contratou ninguém menos que Fausto Silva, o apresentador dos domingos da Globo. Além disso, banca seis anos de garantia pelos seus carros. A Kia reservou cerca de 150 milhões de reais para campanhas neste ano.

Fábricas locais

Os quatro pontos anteriores são o mais claro sinal de que as asiáticas chegaram para ficar – mesmo. É público o desejo de Kia, JAC e Chery de erguer fábricas no Brasil. Uma condição essencial para isso é que as importações abram o mercado e criem volume suficiente que justifique uma planta local.

A Kia Motors do Brasil, representante da coreana, já possui um terreno em Salto (SP) e espera convencer a matriz da viabilidade de uma fábrica local. A Chery começou a construção de sua planta em Jaguareí (SP), orçada em 400 milhões de dólares e com capacidade para fabricar até 170.000 veículos por ano.

Para sustentá-la, a empresa espera triplicar sua fatia de mercado até 2015, quando a unidade deve ser inaugurada. Hoje, a Chery tem cerca de 1% do mercado brasileiro de veículos.

A primeira vítima parece ser a JAC. Logo depois do aumento do IPI sobre os importados, Habib veio a público afirmar que a medida inviabiliza a construção de uma fábrica no país. Orçada em 600 milhões de dólares, a planta só seria viável com um patamar de vendas de 100.000 veículos por ano.

Tudo somado, impedir que as montadoras asiáticas conquistem um volume significativo de vendas não é apenas uma questão de curto prazo para as empresas já instaladas aqui. É, sobretudo, estratégico para cortar, na raiz, os planos de instalação de novas fábricas. E, nessa corrida pelos consumidores brasileiros, o governo ajudou a furar o pneu dos asiáticos.

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