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Por que a Time Warner quer sair do setor em que fez história

Ao colocar à venda o braço de negócios que publica revistas como a People e Real Simple, grupo pode encerrar trajetória no mercado editorial

Time Warner: lucro da área editorial caiu em 2012 e 500 demissões estão previstas (Reuters)

Time Warner: lucro da área editorial caiu em 2012 e 500 demissões estão previstas (Reuters)

Tatiana Vaz

Tatiana Vaz

Publicado em 14 de fevereiro de 2013 às 17h50.

São Paulo – A Time Warner se tornou o maior conglomerado de mídia do mundo graças à credibilidade e transparência contidas na miríade de seus produtos, de programas de tevê à matéria de revistas. Porém, hoje, sua maior batalha tem sido a de retomar a confiança de sua própria imagem frente ao mercado – e a de se manter altamente lucrativa no que chama de “novo cenário”.

O tal novo cenário, segundo a própria Warner, é o do mundo cada vez mais digital, mais dinâmico, menos palpável. Um mundo onde a maneira como se continuará ganhando dinheiro com produtos de comunicação impressa e online ainda é uma incógnita e, por isso, inviável para um grupo que precisa trazer retornos rápidos como é seu caso hoje.

É dessa forma que analistas têm explicado por que a empresa estaria negociando a venda de uma fatia majoritária da Time Inc, braço de negócios editoriais que inclui as marcas Time e Fortune, com a concorrente Meredith. Trata-se de um de seus principais negócios e da segunda maior empresa global do segmento, atrás apenas da Disney, com mais de 138 milhões de consumidores americanos tendo acesso às publicações por formato impresso, digital ou mobile por mês.

Para a Meredith, o interesse é o de ampliar suas revistas voltadas ao público feminino, com os títulos In Style, Real Simple, e People (de todos da Time Inc, apenas os ligados a notícias e esportes não seriam comprados). Para a Time Warner, o negócio seria uma chance da empresa concentrar seus esforços apenas nos negócios mais rentáveis: emissora de tevê e cinema.

Em 2012, depois de quedas de receitas com publicidade e assinaturas, o faturamento da Time Inc caiu 7%, para 3,4 bilhões de dólares, e seu lucro operacional caiu 25% no mesmo período. Em janeiro, a empresa anunciou os planos de cortar 500 empregos, cerca de 6% de sua força de trabalho, para tentar amenizar o impacto das vendas baixas.

Por outro lado, o grupo Time Warner teve resultados acima dos estimados por analistas, com um lucro de 3,01 bilhões de dólares, 4,6% acima do ano anterior, atribuído pela companhia ao desempenho dos negócios de cinema e televisão.

Da ambição ao fracasso

A consciência de que o cenário editorial seria outro neste século é antiga para a Warner. Mas a principal diferença entre ela e as concorrentes neste sentido é que ela tentou sim se antecipar a essas mudanças – e levou um tombo feio.


Em janeiro de 2000, a empresa anunciava sua fusão com a América Online, com a criação da AOL Time Warner, a segunda maior operação desse tipo da história, em um negócio avaliado em 164 bilhões de dólares.

O negócio valia muito para as duas pelo simples motivo delas poderem integrar o que faziam de melhor: de um lado a AOL tinha usuários de internet e estrutura, sem conteúdo relevante; do outro, a Time tinha conteúdo, sem um meio de disponibilizá-lo na rede. Juntas, as empresas formaram um colosso de 170 bilhões de dólares, com faturamento de 40 bilhões de dólares e 90 mil pessoas empregadas. Além de ser tida como a companhia do futuro.

Pouco tempo depois, com o estouro das empresas de internet na bolsa, aliado a fraudes contábeis e erros de administração, a decisão de unir as empresas deixou de ser vista como ambiciosa e arrojada para se tornar um dos maiores fracassos empresariais da história. No início de 2003, a Time apresentava um prejuízo de 98,8 bilhões de dólares, o equivalente a economia da Hungria ou da Irlanda na época. Em setembro daquele ano, a AOL Time Warner voltou a se chamar Time Warner (a cisão ocorreu apenas em dezembro de 2009).

Em 2009, foi o ano de outro passo importante: o de desmembrar a área de teve a cabo, a Time Warner Cable, no intuito de estruturar melhor a companhia para concorrer no setor. Em agosto de 2011, a então segunda maior do segmento nos Estados Unidos pagou 3 bilhões de dólares pela Insight Communications, do grupo Carlyle. A compra, a primeira desde a separação, marcava a busca por presença fora dos Estados Unidos. E o plano do grupo de se firmar em outros mercados. 

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