Revólveres da fabricante de armas Taurus (TASA4) (Ethan Miller/Getty Images/Getty Images)
Mariana Desidério
Publicado em 11 de outubro de 2018 às 06h00.
Última atualização em 11 de outubro de 2018 às 06h00.
São Paulo – A fabricante de armas brasileira Forjas Taurus viu suas ações subirem nos últimos dias, impulsionadas pelo desempenho do candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL). Favorável à liberação do uso de armas no país, Bolsonaro já apareceu em vídeo exibindo armamento da companhia.
No entanto, um possível governo Bolsonaro pode prejudicar a empresa. O candidato já deu declarações dizendo que iria “acabar com o monopólio da Taurus”, e suas propostas têm potencial para dificultar a vida da companhia.
Isso porque, hoje, o governo brasileiro praticamente só compra armas da Taurus. O artigo 190 do chamado R-105, que é o regulamento do Exército para produtos controlados vigente, determina que "o produto controlado que estiver sendo fabricado no país, por indústria considerada de valor estratégico pelo Exército, terá a importação negada ou restringida".
Outra regra, inserida na portaria 620/06, do Ministério da Defesa, define que "a importação de produtos controlados poderá ser negada, quando existirem similares fabricados por indústria brasileira do setor de defesa".
Na prática, a legislação faz com que a Taurus vença a maior parte das licitações de compra de armas no país. Só que o produto da Taurus não é muito querido entre policiais. Há diversos relatos de falhas nas armas que disparam sozinhas deixando feridos e mortos. Existe inclusive um grupo no Facebook denominado Vítimas da Taurus. Há casos de falhas também nos Estados Unidos, um mercado estratégico para a companhia.
A Taurus afirma que suas armas não têm defeitos. Mas os relatos dão munição para pressionar pela abertura do mercado interno. Há um projeto de lei em tramitação no Congresso de autoria do deputado Rogério Peninha (MDB) que trata do tema. A expectativa é que o projeto ganhe fôlego caso Bolsonaro seja eleito.
A companhia brasileira ainda é acusada pela ONU de enviar um carregamento de 8 mil armas a um filho do iemenita Fares Mohammed Mana’a, listado como um dos maiores traficantes internacionais de armas do mundo. A empresa nega.
Com tantos contras, a subida nas ações da empresa se deve unicamente à especulação, de acordo com analistas ouvidos por EXAME. “O projeto de Bolsonaro é propenso a abrir o mercado doméstico de armas, trazer fabricantes suíços e norte-americanos para cá, e isso seria prejudicial para a Forjas Taurus. A vantagem para a companhia caso haja uma eleição de Bolsonaro é muito marginal”, afirma Daniel Xavier, economista-chefe da DMI Group.
“A alta das ações é um movimento totalmente infundado e especulativo. As pessoas pensam que a bancada da bala é a bancada da Taurus, mas na verdade muitos ali são contra a Taurus”, reforça Tiago Reis, da Suno Research.
Os números da companhia tampouco inspiram confiança. No segundo trimestre do ano, a empresa teve prejuízo de 93,7 milhões de reais – perda 3,6 vezes maior que a registrada no mesmo período de 2017. A empresa vem acumulando prejuízos líquidos todos os anos desde 2013. No ano passado, sua dívida aumentou para R$ 798 milhões. “A empresa está destruída. Eles estão atrasando fornecedor, não estão investindo, e têm um produto ruim. A capacidade de investimento da companhia é nula”, afirma Reis.
A boa notícia para a fabricante de armas é que a alta das ações mostra uma propensão dos investidores a acreditar na empresa, afirma Xavier. “É uma janela para a empresa aproveitar e se reinventar”, diz. Desde setembro, as ações da Forjas Taurus subiram 235%. A companhia tem um valor de mercado de 509 milhões – por enquanto.