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Por que a gasolina deve ficar mais cara a partir de agosto no Brasil

Novas especificações da ANP vão contribuir para elevar a qualidade do combustível, por outro lado, o custo também aumentará

Bomba de gasolina: combustível terá mais qualidade, porém, deve ser mais caro (Sol de Zuasnabar Brebbia/Getty Images)

Bomba de gasolina: combustível terá mais qualidade, porém, deve ser mais caro (Sol de Zuasnabar Brebbia/Getty Images)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 14 de julho de 2020 às 16h50.

Última atualização em 14 de julho de 2020 às 17h48.

Com as novas especificações da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para a gasolina produzida e comercializada no mercado interno, a partir de agosto, o brasileiro terá à disposição um combustível mais eficiente e com menos emissões. Porém, a melhora da qualidade deve trazer aumento de preços - ao menos no curto prazo.

Publicada em janeiro, a resolução deu prazo até 3 de agosto para os produtores de combustíveis se adequarem às regras.  Com a revisão das especificações, a gasolina se adequará aos padrões dos Estados Unidos e da Europa.

Atualmente, somente a Petrobras produz gasolina em seu parque de refino no país. Ela pode importar o insumo, dependendo da sua estratégia de custos em determinado período.

 

De acordo com Lavinia Hollanda, fundadora e diretora executiva da consultoria Escopo Energia, ajustes no parque de refino levam um certo tempo. Em uma refinaria, a produção é geralmente direcionada para escoar produtos mais nobres, como gasolina, diesel e querosene de aviação e redesenhar este processo todo pode levar ao aumento de custos.

"Em um primeiro momento, o consumidor vai ver um preço maior na bomba. Porém, ao longo do tempo, ele vai perceber que precisará reabastecer menos, porque a nova gasolina é mais eficiente", diz a especialista.

De acordo com a ANP, a iniciativa é resultado de estudos e pesquisas dos padrões de qualidade internacionais, "bem como de amplos debates com os agentes econômicos do mercado de combustíveis".

Conforme a autarquia, a mudança nas especificações se mostra necessária também pelas novas tecnologias de motores, o que "resultará em uma gasolina com maior desempenho para o veículo".

A agência reguladora esclarece que a nova gasolina atende aos atuais requisitos de consumo de combustível dos veículos e de níveis de emissões progressivamente mais rigorosos, considerando programas de controle de emissões do governo para os próximos anos.

Segundo Hollanda, o aumento da exigência por parte da ANP em relação à octanagem do combustível é exatamente o papel da autarquia. "A partir de agora, a gasolina precisará ter uma qualidade mínima no Brasil, a função da ANP é disciplinar o mercado."

Para ela, a decisão chega um pouco atrasada na comparação com países da Europa e os Estados Unidos. "Estamos atrasados devido ao custo de produção de um combustível de melhor qualidade. Mas o que o consumidor pagar a mais vai se traduzir em eficiência."

Procurada pela reportagem da EXAME, a Petrobras informou por meio de nota que a nova formulação da gasolina "permite uma redução de 4 a 6% do consumo do combustível nos motores" e que esse ganho de rendimento "compensa a diferença de preço da gasolina, porque o consumidor vai rodar mais quilômetros por litro".

Segundo a petroleira, embora a nova gasolina apresente um custo de produção maior, não é isso que determina o preço final, que é "definido pela cotação de mercado e outras variáveis como valor do barril, frete e câmbio".

A companhia acrescenta ser responsável por apenas 28% do preço final da gasolina na bomba, sendo as demais parcelas compostas por tributos, preço do etanol adicionado e margens das distribuidoras e revendedores.

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