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Por que a Gafisa ainda não vai desistir da Tenda

Apesar da redução de 90% nos lançamentos do braço econômico no trimestre, Duílio Calciolari, presidente da Gafisa, afirma que existem oportunidades com a marca Tenda

Casas populares da Tenda, controlada pela Gafisa (Divulgação)

Casas populares da Tenda, controlada pela Gafisa (Divulgação)

Daniela Barbosa

Daniela Barbosa

Publicado em 3 de novembro de 2011 às 13h32.

São Paulo – Os lançamentos da Tenda, braço de baixa renda da Gafisa, caíram 90% no terceiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2010. A queda acabou refletindo nos resultados operacionais totais do grupo, que, no período, apresentou redução de 15% nos lançamentos gerais.

Apesar da baixa expressiva no segmento popular, a Gafisa não pretende desistir da Tenda. Em entrevista exclusiva a EXAME.com, Duílio Calciolari, presidente da companhia, afirmou  que a queda nos lançamentos é estratégica, mas que ainda há oportunidades para a marca no mercado imobiliário.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista com o executivo:

EXAME.com: Por que a Gafisa decidiu diminuir os lançamentos da Tenda?
Duílio Calciolari:
A companhia tem adotado uma estratégia mais conservadora nesse momento, priorizando os lançamentos nos segmentos em que temos maiores margens, para garantir os resultados que sinalizamos para o nosso investidor.

EXAME.com: Quando essa decisão foi tomada?
Calciolari: Iniciamos o ano preocupados com a taxa de juros e seguramos o crescimento. Agora estamos na fase de planejamento. Estamos pensando em 2012 com cautela, olhando muito mais rentabilidade e alavancagem do que volume.

EXAME.com: Mas e o mercado de baixa renda?

Calciolari: Ele continua sendo um mercado muito estratégico para a Tenda. Investimos em tecnologia na operação para melhorar os processos e ter mais controle sobre as margens desses projetos, e , desde que a Gafisa assumiu o controle da empresa, adotamos um novo processo de vendas com a Caixa Econômica Federal.

EXAME.com: Como funciona esse processo?
Calciolari: De agora em diante, os novos projetos desta marca serão realizados somente com o processo de repasse imediato para a CEF, com os financiamentos contratados anteriormente. Acreditamos nesse modelo, fundamental para contribuir para o déficit habitacional do país, e vamos retomá-lo, sempre olhando quais são as melhores oportunidades para o mercado em cada momento. Agora, temos tido boas oportunidades na alta renda.

EXAME.com: Os lançamentos no último trimestre da Tenda caíram 90%. Esse número pode ser ainda maior ou tende a estabilizar?
Calciolari: Tenda é um negócio em transformação, que vai caminhar mais lentamente do que a Alphaville Urbanismo, por exemplo, voltada ao desenvolvimento de condomínios urbanos de alto padrão, que está indo muito bem.


EXAME.com: Se é um processo em transformação, em que etapa dessa mudança vocês estão?
Calciolari:
Estamos na etapa final de um grande projeto de revisão de processos na Tenda. O nosso objetivo, neste momento, é entregar os projetos atrasados, e liquidar essas unidades até 2012. A companhia, incluindo as três marcas deve encerrar este ano com 25.000 unidades entregues, sendo que grande parte deste volume - 20.000 – está ocorrendo no segundo semestre. Dessas entregas, cerca de 70% são correspondentes a projetos da Tenda.

EXAME.com: E os projetos futuros para a Tenda, existem?
Calciolari: Claro, adquirimos a empresa, arrumamos a casa e devemos aproveitar as oportunidades que o mercado apresenta para atuar com essa marca.

EXAME.com: A aquisição da Tenda pela Gafisa causou certo desconforto no mercado, principalmente aos acionistas minoritários. No entanto, a companhia seguiu em frente com a operação e agora, na visão de especialistas, o negócio minguou. Vocês também compartilham do mesmo pensamento?

Calciolari: A Tenda é uma empresa que possui 42 anos, tinha a tradição e a expertise no segmento em que atuava. O que houve é que, na época da compra, a aquisição passava por dificuldades que resultaram na venda, e isso foi muito bem avaliado pela Gafisa no momento da aquisição. O que aconteceu é que, por conta do nosso segmento ser complexo e dos imóveis levarem tempo para serem entregues, só estamos liquidando o legado com problemas que herdamos da aquisição agora, com as entregas desse ano.

EXAME.com: Comprar a Tenda foi um bom negócio?
Calciolari: Como todo o setor, a Gafisa sabia dos problemas que a empresa enfrentava, e por isso a compra foi interpretada como um bom negócio, porque pagamos o preço justo por uma empresa na situação em que ela se apresentava. O que fizemos, a partir da aquisição em 2008 até agora, foi organizar a operação, alterar processos, e aproveitar o que a Tenda nos trouxe de boa experiência para seguir atuando nesse mercado.

EXAME.com: O que vocês ganharam com a aquisição da Tenda?
Calciolari: A aquisição da Tenda foi estratégica porque possibilitou à companhia atuar no segmento econômico com uma marca muito bem posicionada. Aprendemos muito com a experiência trazida pela Tenda, tanto na área de vendas quanto em algumas questões estratégicas.


EXAME.com: Quais as maiores dificuldades para atuar no segmento de habitação popular enfrentadas por vocês?
Calciolari: Como eu citei acima, o setor é bastante complexo e os empreendimentos levam tempo para serem entregues. Um dos problemas do segmento popular era a falta de padronização dos projetos. Um erro para quem atua em um nicho no qual as margens de ganho são baixas, já que isso impede, por exemplo, a compra de insumos em larga escala e a preços melhores.

EXAME.com: O que vocês estão fazendo diante desse impasse?
Calciolari: Estamos fazendo um grande investimento para aumentar a nossa produtividade, o que tem diminuído os ciclos de obra. Por exemplo, a construção de empreendimentos utilizando formas de alumínio, técnica na qual se reduz em pelo menos 30% o ciclo de obra. A contratação de mão de obra própria também nos livra de um problema eminente ao setor, e permite que os cronogramas de obras sejam mantidos.

EXAME.com: E os investimentos na Tenda?
Calciolari: Desde a compra, triplicamos o investimento. Em outubro de 2008, o investimento, que era de 38,18 milhões de reais por mês atingiu nível recorde de 92,27 milhões de reais em junho de 2010.

EXAME.com: Como está a situação da Tenda agora?
Calciolari: Hoje, já há empreendimentos sendo entregues antes do prazo, e o legado de imóveis atrasados (lançados entre 2007 e 2009) estão sendo finalizados e entregues aos clientes.

EXAME.com: Há rumores de que o controle da Gafisa esteja sendo negociado. Diante da atual situação da companhia no mercado, vender a Tenda não seria uma alternativa para levantar capital
?
Calciolari: A Gafisa não comenta as especulações de mercado.
 

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