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Por dentro da Saudi Aramco, a petroleira no centro da crise global

A petroleira, que abriu capital no final do ano passado e é avaliada em US$ 1,8 tri, é a empresa mais valiosa do mundo

Instalação da Saudi Aramco: empresa é a maior produtora de petróleo do mundo. (Simon Dawson/Bloomberg)

Instalação da Saudi Aramco: empresa é a maior produtora de petróleo do mundo. (Simon Dawson/Bloomberg)

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Clara Cerioni

Publicado em 9 de março de 2020 às 13h27.

Última atualização em 9 de março de 2020 às 17h56.

São Paulo - A Saudi Aramco, maior petroleira do mundo, avaliada em 1,8 trilhão de dólares, está no epicentro da guerra de preços do petróleo. De um lado, os sauditas que temem a queda do consumo global em função do coronavírus e propõem o corte de 20% do preço do barril. Do outro, os russos que querem manter sua oferta de produção e se recusam em aceitar a estratégia saudita.

Depois de fazer o maior IPO da história, em dezembro do ano passado, quando levantou 25,6 bilhões de dólares, nesta segunda-feira, dia 9, as ações da estatal saudita fecharam a 7,25 dólares, o menor valor da história. A expectativa é que os preços possam cair ainda mais.

“A baixa da demanda mundial causada pelo coronavírus pode fazer com que o valor do barril fique na casa dos 20 dólares, o que seria uma catástrofe para várias petroleiras”, diz Iman Nassari, diretor da consultoria britânica FGE, especializada no mercado de petróleo e gás.

A Saudi Aramco, no entanto, dificilmente deve deixar o pódio das indústrias de petróleo mais lucrativas do mundo. Com um lucro líquido de 111 bilhões de dólares em 2018, a empresa controla a segunda maior reserva de petróleo do planeta e vem batendo recordes de produtividade.

As modernas instalações da petroleira, a 200 quilômetros de Riade, a capital do país, se estendem por quilômetros em meio ao deserto. EXAME visitou a empresa em novembro do ano passado e conheceu suas unidades de produção. Centenas de funcionários trabalham incansavelmente para extrair 10 milhões de petróleo por dia. É o triplo da produção brasileira.

O transporte dos funcionários, que em geral moram em cidades próximas, é de primeira linha. Ônibus com poltronas confortáveis, janelas panorâmicas e um ótimo ar-condicionado cruzam as areias do deserto, por onde se locomovem camelos e beduínos, até chegar às unidades de produção. O conforto para os executivos e visitantes que vem de Riade vai além. Aviões privados, da Saudi Aramco, oferecem um serviço equivalente ao da primeira classe das melhores companhias aéreas, com amplas poltronas de couro e refeições caprichadas.

É comum o vai-e-vem de especialistas americanos e britânicos, que participaram de reuniões com executivos da companhia. O objetivo é adotar práticas avançadas de gestão que possam melhorar ainda mais a produtividade. A Saudi Aramco é administrada como uma empresa de excelência operacional, e não como uma estatal qualquer, sujeita aos humores da família real saudita. Os salários são atrativos e condomínios com amplos apartamentos e bons restaurantes ficam à disposição dos funcionários que desejam morar dentro dos complexos da empresa.

A empresa é responsável por boa parte da riqueza do rígido país. O petróleo começou a jorrar no deserto saudita nos anos 30, quando a Standard Oil Company, da Califórnia, descobriu imensas reservas de petróleo na região. Nos anos seguintes, foi feito um acordo com o governo saudita para a exploração de petróleo. A Saudi Aramco foi privatizada nos anos 80 e não parou de crescer. Nem os ataques de mísseis feitos por drones, que interromperam temporariamente metade da produção da empresa e afetaram o mercado internacional de petróleo, derrubaram a estatal saudita. Agora, ela precisa resistir a menor demanda de petróleo global causada pelo coronavírus. Por enquanto, não há sinais de que a Saudi Aramco vá perder essa briga.

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