Negócios

Polícia investiga aporte da Renova Energia em usina que não saiu do papel

Segundo fonte, estão no alvo das apurações pagamentos a fornecedores, incluindo empreiteira Andrade Gutierrez

Renova Energia: empresa (Marcelo Casal Jr/Agência Brasil/Agência Brasil)

Renova Energia: empresa (Marcelo Casal Jr/Agência Brasil/Agência Brasil)

R

Reuters

Publicado em 14 de maio de 2018 às 19h35.

São Paulo - A Renova Energia, uma controlada da estatal mineira Cemig, está sob investigação da Polícia Civil de Minas Gerais pela aplicação de milhões de reais em um projeto que nunca saiu do papel e acabou cancelado há cerca de dois anos, disse à Reuters uma fonte com conhecimento do assunto.

Estão no alvo das apurações pagamentos a fornecedores do projeto, incluindo a empreiteira Andrade Gutierrez, que seria responsável pela obra que mal chegou a começar, adicionou a fonte, na condição de anonimato porque o caso é mantido sob sigilo.

Envolvida em acusações de corrupção descobertas por autoridades na já famosa Operação Lava Jato, a Andrade Gutierrez era a principal acionista privada da Cemig até dezembro do ano passado, quando vendeu sua fatia de 12,7 por cento na elétrica.

"Um negócio entre duas empresas que foi malsucedido a princípio não tem crime, não tem que ter intervenção da polícia, mas a apuração é para ver se de alguma forma foi causado um prejuízo de maneira dolosa ao patrimônio da Cemig", disse a fonte.

A unidade de geração e transmissão de energia da Cemig, Cemig GT, acertou em 2014 a compra junto à Renova Energia de uma participação de 50 por cento no chamado "Projeto Zeus", que previa a construção de 25 usinas eólicas na Bahia com uma capacidade total de 676 megawatts.

O negócio envolveu 113,4 milhões de reais, e a produção dos parques foi vendida para a própria Cemig GT por meio de um contrato no mercado livre de eletricidade.

Mas o empreendimento nunca avançou --a Renova acabou envolvida em uma crise financeira após ver fracassar uma tentativa de parceria com a norte-americana SunEdison e não chegou a iniciar obras nas usinas.

Em 2016, o contrato para a compra da energia do futuro complexo eólico foi cancelado pela Cemig GT e a implementação do empreendimento foi descartada, em meio a cortes de investimentos pela Renova.

No ano seguinte, a Renova realizou uma baixa contábil de todo o valor aportado no projeto, 181 milhões de reais, devido ao fato de "não haver expectativa para realização do investimento", segundo informação de seu balanço.

No segundo trimestre de 2017, a Renova colocou em suas demonstrações financeiras que os investimentos realizados no projeto Zeus deviam-se "basicamente ao custo de aquisição do projeto e adiantamentos a fornecedores".

Segundo a fonte, está no radar das investigações, por exemplo, um pagamento de 65 milhões de reais que teria sido feito pela Renova à empreiteira Andrade Gutierrez.

A fonte disse que um dos fatores que têm chamado a atenção das autoridades é a falta de esforços de Renova e Cemig para recuperar valores investidos no projeto, mesmo em uma situação de crise financeira nas companhias.

Ainda de acordo com essa pessoa, a polícia já solicitou diversos documentos e informações às empresas para apoiar os trabalhos, que ainda não têm prazo previsto para serem concluídos.

Procurada, a Andrade Gutierrez recusou-se a comentar o assunto.

Já a Renova Energia não respondeu a um pedido de comentário.

A Cemig e sua controlada Light, que são as principais acionistas da Renova, também não responderam a pedidos de comentário sobre a investigação.

A assessoria de imprensa da Polícia Civil de Minas Gerais confirmou a existência das investigações. Contudo, segundo a assessoria de imprensa, a polícia não pode divulgar detalhes para não atrapalhar o andamento da apuração.

BNDES questiona

Em uma assembleia de acionistas realizada em 30 de abril pela Cemig, o braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar) questionou o andamento das investigações na Renova.

O BNDESPar tem fatias de 5,5 por cento tanto na Renova quanto na Cemig.

Segundo a ata do encontro, a representante do BNDES na companhia "apresentou reservas" em relação a números do balanço da Cemig relacionados à Renova e "recomendou à companhia atentar ao andamento das investigações em curso em suas investidas, de modo a refletir adequadamente, nas suas contas e demonstrações financeiras, impactos resultantes da conclusão de tais investigações".

O BNDESPar também pediu à Cemig que "faça com que suas investidas busquem o ressarcimento de eventuais danos causados por terceiros, se, porventura, comprovados".

Procurado, o banco estatal não respondeu a um pedido de comentário sobre as apurações policiais na Renova.

Venda de ativos

A canadense Brookfield, que negociava a aquisição de um complexo de parques eólicos em construção da Renova, anunciou na semana passada o cancelamento do negócio um dia após a Cemig ter revelado à SEC, reguladora do mercado de ações dos EUA, a existência de investigações em andamento em sua controlada de energia limpa.

Antes, a Brookfield havia chegado a apresentar uma oferta para capitalizar a Renova e se tornar sua sócia, mas o negócio mudou para uma oferta apenas de compra de ativos antes de ser definitivamente cancelado.

Uma fonte que acompanhou as negociações disse que a Brookfield "segregou" ativos que interessavam e não eram vistos como problemáticos, mas "não foi possível chegar a bons termos comerciais".

A fonte adicionou que o complexo Alto Sertão III, que estava no radar da Brookfield, ainda exigiria investimentos significativos para ser concluído, incluindo retrabalhos, uma vez que as obras estão abandonadas por falta de recursos da Renova.

Procurada, a Brookfield disse que não iria comentar.

 

Acompanhe tudo sobre:Andrade GutierrezCemigEnergiaRenova Energia

Mais de Negócios

Setor de varejo e consumo lança manifesto alertando contra perigo das 'bets'

Onde está o Brasil no novo cenário de aportes em startups latinas — e o que olham os investidores

Tupperware entra em falência e credores disputam ativos da marca icônica

Num dos maiores cheques do ano, marketplace de atacados capta R$ 300 milhões rumo a 500 cidades