Marcus Rossi, fundador da Gramado Summit (Gustavo Merolli/Divulgação)
Repórter de Negócios e PME
Publicado em 25 de maio de 2023 às 11h00.
Última atualização em 26 de maio de 2023 às 12h34.
A retomada dos eventos de grande porte tem beneficiado conferências corporativas e feiras setoriais Brasil adentro. O cenário tem atraído eventos internacionais de destaque, a exemplo do Web Summit, que em 2023 fez sua estreia na América Latina em uma edição que reuniu 21 mil pessoas no Rio de Janeiro, em meados de maio.
Tudo isso também tem contribuído para que projetos nacionais ganhem tração entre as festividades dispostas a reunir o empresariado brasileiro e líderes de startups para discutir inovação e tendências em tecnologia. É o caso do Gramado Summit, conferência de inovação que acontece na cidade gaúcha desde 2017 e que neste ano teve a maior edição de sua história. Entre os dias 12 e 14 de abril, período em que a edição aconteceu, foram mais de 10.000 pessoas — na edição passada, foram 6.000 visitantes.
O crescimento se deu pela diversidade de público e pela curadoria dos conteúdos apresentados pelos mais de 380 palestrantes nos diferentes palcos do evento, avalia o fundador do evento, Marcus Rossi. “Todo evento de inovação tem um tom inspiracional, com menos conteúdo técnicos. A Gramado Summit quer propor o contrário”, diz. “Temos palcos maiores seguindo essa lógica, mas também os palcos menores com conteúdos mais longos, densos e técnicos”.
A união dos discursos de grandes líderes do mercado em um palco principal e de pequenos palcos dedicados a ensinar temas específicos do universo de vendas, marketing e gestão atraíram um novo público para a Gramado Summit: o corporativo. “Entendemos que nosso objetivo não é apenas trazer empreendedores e fundadores de startup como os demais eventos do gênero. Nosso público é diverso e também vem das grandes empresas e que, ao invés de fazer um MBA de dois anos, possam ir para a Gramado Summit para ter uma experiência parecida de aprendizado em poucos dias”, diz.
Pela primeira vez, a Gramado Summit apostou na sensível relação entre o poder público e a inovação, tema que deu origem à um palco exclusivo no evento. A ideia era atrair representantes do setor para debater tendências e oportunidades que vêm da interação com startups e também da incursão tecnológica. "É uma grande oportunidade para o mercado, já que o poder público tem muita chance de crescer e aplicar inovação”, diz Rossi.
Mais do que servir de espaço para a apresentação de projetos pontuais, a ideia é que a presença de representantes do poder público no evento possa aguçar por ali a busca do que há de mais novo em termos de inovação no mundo. “Vemos o poder público indo para todos os cantos do mundo buscar as melhores oportunidades do mundo, como na China e nos Estados Unidos, Mas se olhar para dentro de casa, temos histórias incríveis de inovação prática e cidades dando exemplo, como é o caso de Lajeado e Florianópolis”
“Queremos que o debate sobre inovação no setor público aconteça dentro do Gramado Summit.”
Do lado das oportunidades de negócio que surgem com a incursão de temas sensíveis e em destaque na atualidade, Rossi também destaca o novato “Palco Saúde”, no qual empresas do setor participaram como palestrantes e curadores de conteúdo — o palco foi patrocinado pela Hygia Saúde. Entre os participantes, estiveram executivos das empresas Atrion, Pfizer, Unimed, Gympass, Dietbox, Hospitais Moinhos de Vento (um dos mais tradicionais do Rio Grande do Sul), entre outros.
“Há possibilidade de marcas terem o primeiro contato e se tornarem patrocinadoras do evento a partir desse palco. Por isso, ele será um dos principais daqui para frente”, diz.
Para continuar crescendo, o principal desafio do Gramado Summit será convencer uma quantidade cada vez maior de pessoas a aceitar os preços salgados dos ingressos (vendido por um valor médio de 1.590 reais) em troca de uma experiência agora oferecida aos montes por outros grandes eventos de inovação que se estabelecem no Brasil.
Para isso, um dos caminhos será explorar a capacidade turística da cidade de Gramado. Assim, o evento espera atrair visitantes de todo o mundo com a prerrogativa de estender suas estadias na região, ainda que na baixa temporada, para compensar a cara entrada no evento. “Temos nos apoiado em uma estratégia de comunicação que reforça a força dos nossos pontos turísticos, e o Norte e Nordeste”. Segundo Rossi, 70% do público do Gramado Summit é formado por pessoas de fora do estado do Rio Grande do Sul.
De outro lado, a associação direta com o turismo da cidade também lança desafios à conferência. “Quando as pessoas vêm a Gramado, elas já têm uma expectativa muito grande de que a experiência seja impecável”, afirma. De acordo com o empreendedor, um dos planos daqui em diante será justamente a oferta de outros serviços ligados ao deslocamento e experiência dos visitantes na cidade.
“Para crescer, precisamos dominar mercados que até então não dominávamos”, conclui. Nos planos está a criação de uma estrutura interna de agenciamento de viagens para todos os participantes da Gramado Summit e também a associação com restaurantes e bares da cidade para oferecer experiências exclusivas aos visitantes. “Futuramente, isso tudo pode ser novas fontes de receita para nós. Somos um livro aberto”, diz.
Antes mesmo de adotar as novas estratégias, o foco no conteúdo e estrutura tem mostrado resultados. O faturamento da empresa cresceu 150%, para R$ 10 milhões, impulsionado pelo aumento na venda de ingressos e cotas de patrocínio no evento. Para a próxima edição, a expectativa é dobrar novamente, para R$ 20 milhões.