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Planos de saúde têm primeiro prejuízo semestral da história: R$ 691,6 milhões

Operadoras apontam aumento do uso, alta de preços e atualização mais frequente do rol da ANS como responsáveis pelas perdas. Especialistas veem problemas de eficiência

No primeiro trimestre, houve ganho no setor de R$ 1,05 bilhão e no período de abril a junho, perda de R$ 1,7 bilhão (Peter Dazeley/Getty Images)

No primeiro trimestre, houve ganho no setor de R$ 1,05 bilhão e no período de abril a junho, perda de R$ 1,7 bilhão (Peter Dazeley/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 13 de setembro de 2022 às 07h44.

As operadoras de planos de saúde registraram o primeiro prejuízo semestral de sua história, com perdas de R$ 691,6 milhões. Para a Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), o desempenho do setor foi afetado por uma combinação de aumento do uso dos planos pelos usuários, alta de custos e maior velocidade de incorporação de novas tecnologias na lista de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que as empresas precisam cobrir. Especialistas ponderam, no entanto, que os dados evidenciam ineficiências.

Depois de dois anos de pandemia, período no qual usuários suspenderam a busca por cirurgias eletivas e procedimentos de rotina, a volta à normalidade significou aumento do uso dos serviços. Marcos Novais, superintendente executivo da Abramge, ressalta que a sinistralidade — indicador que relaciona despesas médicas com uso do plano e receita com as mensalidades — chegou a 88%, ou seja, as despesas equivalem a 88% da receita:

— Pagos os custos com assistência, sobram 11% do valor arrecadado para pagar impostos, comercialização, entre outros. O gasto assistencial aumentou 14,6% entre o segundo trimestre do ano passado e o deste ano.

Novais destaca a alta de preço de insumos, provocada pela pandemia e que ainda não foi normalizada. Além disso, a atualização do rol da ANS era feita antes a cada dois anos. Agora, a atualização de procedimentos que precisam ser cobertos pelas operadoras se tornou processo permanente.

No primeiro trimestre, houve ganho no setor de R$ 1,05 bilhão e no período de abril a junho, perda de R$ 1,7 bilhão.

Para Lucas Andrietta, do Grupo de Estudos sobre Planos de Saúde e Interações Público-Privadas (GEPS-FMUSP), muitas operadoras aplicaram reajustes elevados nos planos coletivos e ainda não contabilizaram o efeito, o que deve ocorrer no segundo semestre. Ele pondera que a sinistralidade tem se mantido na faixa entre 82% e 85% e que as operadoras deviam ter se preparado para o aumento da procura após o período mais grave da pandemia.

Para o economista Carlos Ocké-Reis, da diretoria de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os números apontam ineficiências do setor:

-— Nas despesas administrativas, houve aumento de R$ 3 bilhões em relação ao segundo trimestre do ano passado. Os dados apontam um problema de gestão. Uma ineficiência que o setor tenta repassar pressionando o governo e a ANS.

Novais, da Abramge, afirma que a sociedade tem feito escolhas que causam impacto em despesas futuras, como a lei que tornou o rol da ANS exemplificativo, decisão que facilita o acesso a procedimentos e eleva custos das operadoras.

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