BRF (BRF/Divulgação) (BRF/Divulgação)
Karin Salomão
Publicado em 19 de dezembro de 2018 às 11h09.
Última atualização em 19 de dezembro de 2018 às 11h28.
São Paulo - A fabricante de alimentos BRF correu, mas não vai chegar. Por conta de mudanças no cronograma e chegada do Natal e das festas de ano novo, as negociações finais de vendas de ativos da empresa devem ser finalizadas em janeiro de 2019, ao invés da data inicialmente prevista, de finalizar o plano de desinvestimentos até o fim deste ano.
A dona das marcas Sadia e Perdigão havia anunciado um plano de levantar 5 bilhões de dólares em vendas de ativos ainda em 2018, para reduzir seu endividamento e a alavancagem, ou seja, a relação entre dívida e Ebitda, para 4,35 este ano e até 3 vezes no final do ano que vem. Esse plano deve atrasar algumas semanas.
A companhia anunciou hoje a venda da Avex, operação na Argentina, por 50 milhões de reais. A Avex tem capacidade de abate de 160 mil aves por dia ia e processamento de mais de 10 mil toneladas por mês de produtos, tais como margarinas, molhos, azeite e ingredientes para panificação. O anúncio agradou o mercado e as ações subiam.
Além disso, concluiu a montagem de um fundo de investimento em direitos creditórios (Fidc), que conseguiu distribuição inicial de 875 milhões de reais em cotas. O Fidc tem como objetivo adquirir direitos creditórios originados de operações comerciais realizadas com clientes no Brasil, ou seja, a venda definitiva de recebíveis.
No dia 7 de dezembro, vendeu a argentina QuickFood para a Marfrig por 60 milhões de dólares. O acordo envolve ainda venda de terreno e equipamento de fábrica da BRF em Várzea Grande (MT) por 100 milhões de reais.
Assim, já levantou 1,9 bilhão de reais em vendas de ativos e mais 1 bilhão de reais em negociações de dívida e refinanciamentos, de um total de 5 bilhões de reais previstos.
Esse valor deve ser usado para pagamentos das dívidas do primeiro semestre do ano que vem - ainda faltaria levantar recursos para cobrir as dívidas que vencem no segundo semestre, de cerca de 1,5 bilhão de reais.
Estão em negociação ativos na Europa e Tailândia, além da operação Campo Austral, de suínos, na Argentina. Podem ser vendidos ainda ativos não operacionais e imobiliários, de menor valor. Esses acordos, inicialmente previstos para o fim do ano, deverão ser finalizados em janeiro.
"Priorizamos a conclusão das negociações na Argentina, anunciadas hoje e no início do mês. Por isso, demos mais uma semana para os potenciais compradores enviarem propostas mais robustas e competitivas", afirma vice-presidente de operações da companhia dona das marcas Sadia e Perdigão, Lourival Luz em teleconferência com investidores.
O novo prazo para receber as propostas se encerra no fim desta semana. Depois disso, a empresa deve analisá-las detalhadamente. "São dezenas de páginas e com condições complexas. Tailândia e Europa ainda têm geografias e legislações diferentes, que devem ser levadas em consideração", afirma o vice-presidente.
"Depois disso, chega o Natal. Vamos deixar nossos colaboradores e compradores aproveitarem as festas com a família e devemos fechar os negócios no início de 2019", diz.
Apesar do ligeiro atraso do plano, o diretor afirma que a nova agenda está alinhada com os objetivos da companhia. "Não vou abrir mão de uma negociação em condições melhores por conta de uma semana, não faz sentido financeiramente".
O diretor ressaltou ainda que nenhum ativo central ou relevante para a companhia está à venda. No mercado internacional, o plano da BRF é concentrar seus esforços para consolidar a liderança na Arábia Saudita e nos países do Conselho de Cooperação do Golfo, além de aumentar a produção na Turquia. Daqui a três anos, a empresa voltaria a crescer por meio de novas aquisições.
A companhia, que teve prejuízo de 1 bilhão de reais em 2017 e estava envolvida na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, tem um plano lento mas sóbrio de recuperação. Pedro Parente, presidente do conselho de administração, assumiu o comando da empresa em abril e apresentou em outubro um plano quinquenal de recuperação.
Parente explicou que a BRF deve parar de piorar em 2018 e, se tudo der certo, só começará a reverter a queda nas margens em 2019. A nova gestão frisa que o ritmo de avanço projetado é o possível pela complexidade da operação e pela quantidade de problemas que a BRF ainda enfrenta.
As negociações previstas para o fim de 2018 ficarão para o ano que vem mas, de acordo com a companhia, a demora está em linha com seus objetivos.