China: “Na China, a população é enorme, então é muito mais fácil compilar os dados para qualquer hipótese de uso necessária” (Tomohiro Ohsumi/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 15 de agosto de 2017 às 16h50.
São Francisco/Pequim - O software de Xu Li escaneia mais rostos do que qualquer outro no planeta, graças à polícia chinesa.
Xu dirige a SenseTime Group, fabricante de software de inteligência artificial que reconhece objetos e rostos, que conta com as maiores marcas de smartphones da China entre seus clientes.
Em julho, a SenseTime captou US$ 410 milhões, quantia que, segundo a empresa, foi a maior em uma única rodada para uma empresa de IA até hoje. Essa façanha pode ser superada em breve, provavelmente por outra startup chinesa.
O país está apostando muito em IA. O dinheiro está sendo desembolsado por investidores, grandes empresas de internet e pelo governo da China, movidos pela crença de que a tecnologia poderá revolucionar setores inteiros da economia e a segurança nacional.
Uma iniciativa semelhante é observada nos EUA, mas nesta nova corrida armamentista, a China tem três vantagens: uma grande reserva de engenheiros para escrever o software, uma gigantesca base de 751 milhões de usuários de internet para testá-lo e, o mais importante, um apoio constante do governo, o que inclui montanhas de dados sobre os cidadãos – algo que incomoda as autoridades ocidentais.
Os dados são fundamentais para que os engenheiros de IA treinem e testem os algoritmos para que eles se adaptem e aprendam novas habilidades sem a intervenção de programadores humanos. A SenseTime montou seu software de análise de vídeos com filmagens da polícia de Guangzhou, uma cidade do sul do país com 14 milhões de habitantes.
A maioria das megacidades chinesas criou institutos de IA que incluem alguns acordos de compartilhamento de dados, segundo Xu.
“Na China, a população é enorme, então é muito mais fácil compilar os dados para qualquer hipótese de uso necessária”, disse ele. “Quando se fala de recursos de dados, a maior fonte de dados é o próprio governo.”
Essa avalanche de dados só vai crescer. A China acaba de consagrar o desenvolvimento da IA em uma espécie de constituição nacional da tecnologia. Um plano estatal, divulgado em julho, incita o país a se transformar em líder do setor até 2030.
Segundo o governo, por volta de 2035 a indústria da IA vai gerar 400 bilhões de yuans (US$ 59 bilhões) em atividade econômica.
Os colossos de tecnologia da China, em particular a Tencent Holdings e a Baidu, estão aderindo à iniciativa. E a ciência está surgindo em lugares inesperados: os tribunais de Xangai estão testando um sistema de IA que analisa casos criminais para julgar a validez de provas apresentadas por todas as partes, supostamente para evitar acusações injustas.
Todas as grandes empresas americanas de tecnologia também estão investindo pesado. A aprendizagem de máquinas – um tipo de IA que possibilita que carros sem motorista enxerguem, que chatbots falem e que máquinas analisem montanhas de informações financeiras – exige que os computadores aprendam com dados não processados, em vez de ajustar a programação manualmente.
O acesso a esses dados é um esforço constante. A economia comandada e controlada da China e sua menor preocupação com a privacidade fazem com que o país possa fornecer filmagens, históricos médicos, informações bancárias e outros grupos de dados praticamente a seu bel-prazer.
“O mercado chinês de IA está avançando com rapidez porque as pessoas estão dispostas a assumir riscos e a adotar novas tecnologias mais rapidamente em uma economia de crescimento acelerado”, disse Chris Nicholson, cofundador da Skymind. “A IA precisa do big data, e agora os órgãos reguladores chineses defendem que os dados sejam disponibilizados para acelerar a IA.”