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Planilha cita entrega de R$ 3,5 milhões da Odebrecht a taxista

Motorista foi apontado como portador de propina que resultou na condenação, em 2018, do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine

Odebrecht: planilha cita entrega de R$ 3,5 milhões da empreiteira a taxista de confiança de operador (Paulo Whitaker/Reuters)

Odebrecht: planilha cita entrega de R$ 3,5 milhões da empreiteira a taxista de confiança de operador (Paulo Whitaker/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de abril de 2019 às 12h03.

São Paulo — O taxista de confiança do publicitário André Augusto Vieira, acusado de ser operador do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine, aparece na planilha da transportadora de valores usada pela Odebrecht como recebedor de supostos pagamentos de R$ 3,5 milhões da empreiteira não revelados à Justiça.

Marcelo Marques Casimiro foi apontado como portador da propina de R$ 3 milhões que resultou na condenação de Bendine a 11 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro em março do ano passado. O ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil foi solto no dia 9 deste mês por decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na ação condenatória, Vieira confessou ter pedido para Casimiro ir até o flat alugado por seu irmão no bairro do Paraíso, zona sul de São Paulo, receber três pagamentos de R$ 1 milhão feitos pela Odebrecht. As entregas foram feitas nos dias 17 e 24 de junho e 1.º de julho de 2015 com as senhas "oceano", "rio" e "lagoa", no apartamento 43 do prédio na Rua Sampaio Viana.

Na planilha apreendida com a secretária do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, o "departamento da propina", os três pagamentos de R$ 1 milhão estão vinculados ao codinome "Cobra", que foi atribuído a Bendine pelos delatores da empreiteira.

Segundo Vieira, R$ 950 mil foram repassados a Bendine em um restaurante em São Paulo e dentro do carro em frente ao aeroporto de Congonhas. O publicitário confirmou a versão de delatores da Odebrecht de que a propina combinada com o ex-presidente do Banco do Brasil (governo Dilma Rousseff) seria de R$ 17 milhões, equivalente a 1% da dívida de R$ 1,7 bilhão que a empreiteira iria financiar com o banco. Destes, só R$ 3 milhões teriam sido pagos. Bendine nega todas as acusações.

Em depoimento prestado ao então juiz federal Sérgio Moro, em outubro de 2017, na condição de testemunha, Casimiro confirmou ter ido ao flat receber as "encomendas" a pedido de Vieira. Ele disse que deixava os pacotes no apartamento e que nunca soube que se tratava de dinheiro. Questionado por Moro sobre quantas vezes havia feito isso, o taxista respondeu: "três vezes".

"Príncipe"

Uma planilha da transportadora de valores usada pela Odebrecht, porém, indica que outros sete pagamentos de R$ 500 mil foram feitos para Casimiro meses antes no mesmo endereço. Segundo o documento, as entregas ocorreram em outubro de 2014 e março e abril de 2015, com senhas diferentes, como "corsa", "monza" e "omega".

As datas, senhas e valores do arquivo da transportadora coincidem com as informações da planilha do doleiro Álvaro José Novis, encarregado pela Odebrecht de providenciar os pagamentos de propina e caixa 2 a políticos, marqueteiros e agentes públicos em São Paulo. A diferença é que na planilha da Odebrecht os supostos repasses extras recebidos pelo taxista estão vinculados a um outro codinome: "Príncipe".

O arquivo, obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, ainda está sob sigilo no STF, mas é considerado um importante elemento de prova pela força-tarefa da Lava Jato porque as informações contidas na planilha estão sendo confirmadas por depoimentos, quebras de sigilo telefônico e registros de imagens em prédios e de hospedagem em hotéis.

No último domingo, o Estado revelou que o documento indica que 187 pagamentos programados pela empreiteira foram efetivados pela transportadora de valores em São Paulo. Os repasses estão vinculados a 57 diferentes codinomes de políticos e agentes públicos.

Defesas

O publicitário André Gustavo Vieira, apontado como operador do ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil Aldemir Bendine negou ter recebido dinheiro da Odebrecht além dos R$ 3 milhões que já confessou durante a ação penal na qual também foi condenado pela 13.ª Vara Federal de Curitiba, em março do ano passado.

"Eu recebi aquele valor que admiti em minha delação, com as senhas oceano, lagoa e rio. Não sou citado por Marcelo (Odebrecht) em nenhum outro trecho de sua delação", disse Vieira, que fechou acordo de delação com o Ministério Público Federal (MPF) no processo envolvendo Bendine.

O advogado Alberto Zacharias Toron, que defende o ex-presidente da Petrobras, disse que desconhece a existência de outros pagamentos além dos citados na própria acusação do MPF e disse que é "sintomático" o fato de nenhum delator ter citado os supostos repasses extras ao taxista Marcelo Marques Casimiro.

"Bendine, como disse em sua defesa escrita e em seu interrogatório judicial, nega ter recebido qualquer importância da Odebrecht e teme que seu nome possa ter sido indevidamente usado por parte de um corréu delator para se apropriar de somas ilícitas", afirmou Toron.

A reportagem questionou a Odebrecht sobre os pagamentos extras ao taxista que aparecem na planilha da transportadora e a quem foi atribuído o codinome "Príncipe", que aparece vinculado a esses repasses na planilha da própria empreiteira, mas não obteve resposta.

Em nota, a empreiteira afirmou que "tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos" e que "já usa as mais recomendadas normas de conformidade em seus processos internos".

O taxista Marcelo Casimiro foi contatado por mensagem pela reportagem e preferiu não se manifestar sobre os supostos pagamentos.

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