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A Colômbia lançou o próprio 'Pix' — e quem ajudou foi uma fintech de Curitiba

Além do Ebanx, a única outra empresa brasileira a participar no desenvolvimento do Bre-B foi o Nubank

Transferência por Pix: modelo brasileiro inspirou o desenvolvimento do 'Pix' colombiano

Transferência por Pix: modelo brasileiro inspirou o desenvolvimento do 'Pix' colombiano

Laura Pancini
Laura Pancini

Repórter

Publicado em 21 de outubro de 2025 às 05h59.

Última atualização em 21 de outubro de 2025 às 08h11.

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Inspirado no Pix, o Banco Central da Colômbia lançou em outubro o Bre-B, o primeiro sistema de pagamentos instantâneos do país — e contou com o apoio técnico da brasileira Ebanx no desenvolvimento do projeto.

O novo sistema começou a operar em larga escala após duas semanas de testes, com 30 milhões de colombianos já cadastrados — o equivalente a 76% da população adulta.

Desde o primeiro dia, empresas internacionais puderam oferecer o novo método de pagamento por meio da plataforma do Ebanx, que se associou à fintech local Movii para integrar o sistema ao comércio eletrônico global.

Unicórnio brasileiro, o Ebanx foi uma das únicas fintechs estrangeiras convidadas a integrar o comitê criado pelo Banco de la República, o banco central colombiano, para definir as regras e padrões do Bre-B.

O Nubank foi o outro brasileiro a participar do comitê, só que em outra mesa. Isso porque ele é um banco com atuação local, enquanto o Ebanx foi convidado como uma empresa conhecida pelo trabalho internacional como fornecedor de serviços de pagamento.

A fintech nasceu em 2012, em Curitiba, com a missão de conectar empresas internacionais a consumidores de mercados emergentes como o Brasil. Hoje, opera em mais de 20 países e processa 3,5 milhões de transações por dia.

O grupo começou os trabalhos em 2023, com 20 instituições e quatro frentes de atuação, incluindo padrões de processamento, mensageiria e liquidação.

“Fomos chamados a compartilhar a experiência que tivemos no Brasil com o Pix, especialmente os aprendizados sobre interoperabilidade e prevenção a fraudes”, diz Eduardo de Abreu, vice-presidente global de produto do Ebanx.

O executivo, economista com dez anos de casa, lidera a área de produtos e expansão internacional da fintech.

“A Colômbia quis evitar os mesmos obstáculos e chegar mais rápido à fase de adoção em massa.”

Baseado em Curitiba, ele coordena times locais na América Latina, África e Ásia — e foi quem acompanhou o avanço do projeto colombiano desde o primeiro fórum de pagamentos, em 2022.

“Os reguladores da região estão ansiosos para modernizar seus sistemas e se aproximar do avanço tecnológico que o Pix trouxe. A instantaneidade é um caminho sem volta”, diz Abreu.

Como funciona?

Na prática, o Bre-B funciona como uma camada que conecta todos os sistemas de pagamento já existentes no país, como o Transfiya e o EntreCuentas.

Diferente do modelo brasileiro, que criou uma trilha única, a Colômbia optou por interligar plataformas distintas por meio de uma infraestrutura de interoperabilidade.

O Bre-B não é uma cópia do Pix”, explica Abreu. “Enquanto o Brasil criou um método de pagamento novo, a Colômbia construiu um sistema em cima de produtos que os usuários já conhecem. Isso faz com que a adoção aconteça de forma muito mais rápida.”

Apesar de não serem iguais, vale comparar com o TED e o DOC. Imagine que o Pix não é a terceira opção, mas sim a infraestrutura que conecta esses dois estilos de transação entre bancos que antes não se comunicavam — o que não acontece no Brasil, mas é comum na Colômbia. A maioria dos meios de transferência é exclusiva a clientes de bancos específicos, e por isso algo como o Bre-B acaba sendo tão necessário.

O sistema também introduziu a Zona Bre-B, uma interface obrigatória para todos os bancos que aceitarem participar. A ferramenta permite aos clientes gerenciar chaves, migrar contas e habilitar ou desabilitar endereços de pagamento — algo centralizado, e que ainda não existe no modelo brasileiro.

Mais de 80 milhões de chaves já foram emitidas, uma média de quase três por pessoa, e o sistema deve ganhar novas funcionalidades, como pagamentos de impostos e serviços públicos, ainda em 2026.

A vez da Colômbia

A chegada do Bre-B é vista como um marco para a inclusão financeira da Colômbia.

Segundo o Banco Mundial, apenas 18% da população tem cartão de crédito, enquanto 42% recebe benefícios sociais pelas chamadas Cajas de Compensación Familiar.

Agora, essas pessoas podem usar o Bre-B para pagar contas e comprar online.

Para o Ebanx, o projeto também amplia sua presença internacional. Em 2024, mais da metade do volume processado pela empresa veio de fora do Brasil, e a Colômbia foi um dos mercados com maior crescimento.

A fintech já processa pagamentos de 20% dos usuários do Pix no Brasil e conecta mais de 500 empresas globais a 200 métodos de pagamento locais em 20 países.

“O Bre-B tem um potencial enorme para transformar a economia digital da Colômbia, como o Pix fez no Brasil”, diz Abreu. “A diferença é que, desta vez, já começamos com uma base de consumidores prontos para usar.”

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