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PF indicia Abilio Diniz por estelionato e organização criminosa

A Operação Trapaça, desdobramento da Operação Carne Fraca, tinha como alvo um esquema de fraudes descoberto na empresa BRF.

Abilio Diniz (Philippe Wojazer/Reuters)

Abilio Diniz (Philippe Wojazer/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 15 de outubro de 2018 às 15h13.

Última atualização em 16 de outubro de 2018 às 11h43.

São Paulo — A Polícia Federal indiciou o empresário Abilio Diniz nos autos da Operação Trapaça por estelionato, organização criminosa e falsidade ideológica. Outros 42 investigados também foram indiciados. Na lista está o ex-diretor-presidente global da BRF Pedro de Faria, também suspeito por crime contra saúde pública.

A Trapaça, desdobramento da Operação Carne Fraca, foi deflagrada em março deste ano. A operação tinha como alvo um esquema de fraudes descoberto na empresa BRF, gigante do setor de carnes e processados.

No relatório de 405 páginas o delegado Mauricio Moscardi, da Polícia Federal em Curitiba, afirma que, a partir da análise de conversas por mensagens de e-mails e WhatsApp, "concluiu-se que a prática das condutas delitivas não se restringia ao círculo das equipes técnica e gerencial das fábricas da BRF". "Há, de fato, a participação do corpo diretivo da empresa na trama investigada, o qual tinha ciência de seu modus operandi, e que, não somente se omitiu em relação a fazer cessá-lo, mas, também, participou comissivamente dos atos de ocultação das fraudes, norteando sua execução", aponta o delegado.

"Destaca-se a participação ativa, em caso envolvendo a detecção de resíduo tóxico em carne de frango pelas autoridades chinesas (Dioxina), de Pedro de Andrade Faria (à época diretor-presidente global do Grupo BRF), Abílio dos Santos Diniz (à época presidente do Conselho da BRF) e José Carlos Reis de Magalhães Neto, sócio da Tarpon Investimentos (empresa detentora de "aproximadamente" 7% do capital aberto do Grupo BRF, segundo informações prestadas por Pedro Faria em sede policial)."

O delegado cita, no relatório, uma conversa ocorrida em um grupo do Whatsapp, do qual faziam parte Pedro Faria, Abílio Diniz e José Carlos Reis de Magalhães Neto. O grupo, segundo a PF, foi criado em 12 de dezembro de 2014.

"O contexto das conversas indica o conhecimento do corpo executivo do Grupo BRF sobre a ocorrência de detecção de substâncias nocivas à saúde humana em produtos oriundos das plantas industriais da empresa. Abílio Diniz e Pedro Faria, pela posição hierárquica que ostentavam no quadro corporativo do Grupo, possuíam plena capacidade de orientar os círculos sob sua subordinação a tomar as medidas técnicas e eficazes, em âmbito sanitário, para que se determinasse a causa-raiz da contaminação química dos produtos destinados ao consumo e a regularização do processo industrial", indica o delegado.

Segundo o investigador, "o que ocorreu foram tão somente a lamentação dos executivos pelo vazamento de informação já conhecida ('Abilio e Zeca, infelizmente alguém do ministério vazou a informação')", a interlocução sobre o ocorrido e também "a tomada de medidas com o fim de "abafar" a disseminação dos fatos descritos em matéria veiculada na imprensa nacional ("Abilio, linda foto! Em relação a China tivemos bom avanço pois conseguimos controlar o vazamento da informação e mantê-lo sob controle").

O início da conversa ocorreu em 9 de setembro de 2015. Pedro Faria enviou aos empresários uma matéria do jornal "O Estado de S. Paulo" que tratava da suspensão da venda de frango de 2 unidades da BRF e da Bello Alimentos pela China.

Na avaliação da PF, "o grupo agia de forma organizada e mantinha comunicação permanente, objetivando iludir auditorias, programadas ou inopinadas, em plantas industriais da BRF, eventos nos quais produtos irregulares eram retirados de depósito e escondidos da fiscalização".

"A mesma prática era adotada em caso de auditoria de entes estrangeiros, para que as condições de fiscalização estivessem em conformidade adequada a receber as acreditações necessárias para a continuidade de seu processo fabril, e destinação dos produtos, havendo sempre o retorno à rotina irregular de operação tão logo cessassem os atos de auditoria", relata o delegado.

A reportagem tenta contato com os citados.

Resposta da BRF

A BRF, por meio de sua assessoria de imprensa, enviou esta nota a EXAME:

" É de interesse máximo da administração da BRF que os fatos relacionados às investigações das autoridades sejam esclarecidos em toda a sua profundidade e extensão, uma vez que a empresa tem como princípio tolerância zero com qualquer tipo de conduta indevida.

Neste sentido, a companhia decidiu afastar preventivamente todos os funcionários citados no relatório do inquérito da Polícia Federal até o esclarecimento dos fatos.

A BRF vem mantendo conversas de forma ampla e transparente com as autoridades encarregadas das investigações, com o objetivo de colaborar com o esclarecimento dos fatos. Ao mesmo tempo, prosseguirá as avaliações internas lideradas pelo Comitê Independente de Investigação, ligado ao Comitê de Auditoria Estatutário, que tem mandato para elucidar todos os fatos que foram ou venham a ser levantados.

A Companhia entende que este processo de cooperação constante com as autoridades fortalece e consolida as mudanças e aprimoramentos que a empresa implementou em seus processos e regramentos internos, com o objetivo de garantir os mais elevados padrões de segurança, integridade e qualidade. "

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