Negócios

Petrobras nega aumento em acordo e sindicatos prometem resistência

Estatal alega que entre 2003 e 2014 os empregados tiveram um ganho real de 51%, e por este motivo quer manter os salários sem ajuste

Petrobras: estatal indicou a sindicatos que quer congelar salários (Pilar Olivares/Reuters)

Petrobras: estatal indicou a sindicatos que quer congelar salários (Pilar Olivares/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 23 de maio de 2019 às 13h36.

Rio — Terminou sem acordo e em clima tenso a primeira reunião para discutir o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2019 entre a Petrobras e os seus empregados. Enquanto os 18 sindicatos que abrangem a categoria pedem a reposição da inflação, a estatal alega que entre 2003 e 2014 os empregados tiveram um ganho real de 51%, e por este motivo quer manter os salários sem ajuste, assim como outros benefícios como vale alimentação e educação, além de acabar com o programa Jovem Universitário e com os adicionais pagos no Estado do Amazonas e em campos terrestres.

"Em um esforço para continuidade do que é praticado como remuneração, a Petrobras propõe manter as tabelas de remuneração. Também haverá manutenção dos valores das tabelas de funções gratificadas (gerenciais e especialistas), nesse caso, prerrogativa exclusiva da empresa, independe de anuência dos sindicatos", disse a Petrobras em um comunicado aos empregados.

Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), que costumam negociar separadas mas na quarta-feira, 22, se uniram na mesa de negociações, a proposta da estatal foi divulgada aos empregados antes da reunião com os sindicalistas, com objetivo de reduzir a força dos sindicatos.

O indicativo foi de rejeição da proposta e durante a reunião os sindicalistas chegaram a gritar em coro, diante dos negociadores da Petrobras, que não vão aceitar "nenhum direito a menos".

"Ela (Petrobras) quer pavimentar o caminho para a privatização da empresa. Que é retirar os nossos direitos e também praticamente aniquilar o movimento sindical. Por isso nós temos que resistir e participar das assembleias rejeitando essa proposta com disposição de luta, que será necessário", disse o coordenador da FUP, José Maria Rangel. Assembleias serão realizadas até o dia 6 de junho para votar a proposta, informou.

Entre as reivindicações da categoria está o aumento salarial equivalente ao Índice de Custo de Vida do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio Econômicos (ICV-Dieese), acumulado entre 1º de setembro de 2018 e 31 de agosto de 2019 e o reajuste de 2020 do acumulado entre 1º de setembro de 2019 e 31 de agosto de 2020. No acumulado nos 12 meses até abril deste ano, o ICV-Dieese acumula alta de 4,45%, abaixo do acumulado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do governo, de 4,94% no mesmo período.

Os petroleiros também pediram que os mesmos porcentuais do acordo deverão reajustar os valores do vale alimentação; a gratificação de campo terrestre de produção; adicional do Estado do Amazonas; a remuneração mínima por nível e regime; os benefícios educacionais e programa jovem universitário; a contribuição de grande risco para a assistência multidisciplinar de saúde e o menor salário-base, para critério de cálculos de benefícios e participações.

Sem ajuste

A Petrobras propôs extinguir tanto o adicional do Estado do Amazonas quanto a gratificação de campos terrestres. "Ambos adicionais foram propostos quando a companhia tinha a necessidade de estimular que seus empregados fossem deslocados para trabalhar nessas áreas. No entanto, as necessidades de negócio mudaram. Hoje, a companhia possui processos de desinvestimento tanto de campos terrestres quanto de algumas unidades de refino", explicou a Petrobras no comunicado aos funcionários.

A companhia propõe mudar também o pagamento das horas extras, alegando que em 2018 representaram 7% de todo o gasto com pessoal, ou R$ 1,53 bilhão, e acabar com o Programa Jovem Universitário, mas manterá os já inscritos, não permitindo mais adesões e nem ajuste de valores. Serão mantidos ainda os atuais valores do Auxílio-Creche/Acompanhante, do Auxílio Ensino (Assistência Pré-Escolar e do Auxílio Ensino Fundamental, Auxílio Ensino Médio), ao contrário do que pedem a FUP e a FNP.

A Petrobras também não vai mais pagar pela liberação de sindicalistas, que segundo a empresa, significou um gasto de R$ 25 milhões em 2018. A conta agora irá para o sindicato.

"Não há obrigação legal para que as empresas arquem com o custo de pessoal de dirigentes sindicais. A companhia continuará praticando a liberação, mas caberá ao sindicato a compensação financeira necessária pelos períodos em que o empregado estiver à disposição do sindicato", explicou a Petrobras.

Outro benefício que a Petrobras pretende cortar é a antecipação do 13º salário no início do ano, "uma despesa adicional de R$ 35 milhões", segundo a estatal, e passar a pagar o benefício como permite a lei: até os dias 30 de novembro e 20 de dezembro. A estatal diz ainda que quer a simplificação do Acordo Coletivo de Trabalho, sugerindo excluir e alterar alguns dispositivos que já estão em procedimento na companhia e previstos em legislação vigente.

"Não vamos ver isso acontecer e ficar quietos. Vai ter resistência. Porque nós todos construímos essa empresa com o objetivo comum de uma Petrobras indutora do desenvolvimento nacional. E provamos que isso é possível, tanto que descobrimos o pré-sal", afirmou Rangel, da FUP.

Acompanhe tudo sobre:PetrobrasGrevesSindicatos

Mais de Negócios

Conheça os líderes brasileiros homenageados em noite de gala nos EUA

'Não se faz inovação sem povo', diz CEO de evento tech para 90 mil no Recife

Duralex: a marca dos pratos "inquebráveis" quebrou? Sim, mas não no Brasil; entenda

Quais são os 10 parques de diversão mais visitados da América Latina — 2 deles são brasileiros