Plataforma da Petrobras: foco em sustentabilidade (Germano Lüders/Exame)
Juliana Estigarribia
Publicado em 30 de novembro de 2020 às 15h57.
A Petrobras vem paulatinamente ampliando o discurso ambiental, em meio a movimentos cada vez mais frequentes de petroleiras apostando em energias renováveis. Para o período de 2021 a 2025, a companhia projeta investimentos da ordem de 1 bilhão de dólares somente em compromissos ambientais. No curto e médio prazo, entretanto, a estatal deve continuar quase 100% focada em combustíveis fósseis.
"Queremos ser a melhor empresa de energia e com o maior valor para o acionista em todo o setor de óleo e gás, com respeito ao meio ambiente", afirmou Roberto Castello Branco, presidente da companhia, durante o Petrobras Day, evento anual voltado a investidores.
A manutenção do investimento em compromissos ambientais ocorre após a Petrobras ter anunciado na semana passada um plano de negócios de 55 bilhões de dólares até 2025, frente aos 64 bilhões estimados no plano 2020 a 2024.
Executivos apresentaram alguns destaques da pauta para os próximos anos na área ambiental como o desenvolvimento do diesel renovável, bioquerosene de aviação, eficiência energética e "crescimento zero" na geração de resíduos de processo até 2025.
Além disso, a companhia anunciou que vai vincular a remuneração variável de executivos a práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). "A transição energética pode trazer grandes oportunidades", disse Roberto Ardenghy, diretor executivo de relacionamento institucional e sustentabilidade da Petrobras.
Enquanto isso, outras majors globais como Shell e BP, por exemplo, anunciaram recentemente metas bem mais agressivas neste sentido, como zerar as emissões de carbono até 2050.
É nítido como o discurso da Petrobras em relação às práticas ambientais vem crescendo. Até pouco tempo atrás, o foco total era redução do endividamento. Agora a companhia se mostra mais aberta a falar de planos ligados à área de ESG.
Em entrevista recente à EXAME, Castello Branco disse que embora algumas majors estejam apostando em renováveis, a Petrobras "não está pronta" para isso.
"É um negócio que não conhecemos nem técnica nem comercialmente. Preferimos continuar a optar pela descarbonização das nossas operações e fazer pesquisas. Temos várias em curso, para aprender sobre o negócio de fontes renováveis e sobre o que é mais adaptável ao contexto de uma companhia de petróleo, para assim reagir a essa onda no futuro", disse o executivo na ocasião.
Um dos projetos mais avançados na área é o de biorrefino. O diesel renovável desenvolvido pela companhia promete redução de 70% das emissões em relação ao diesel normal e 15% na comparação com o biodiesel.
Para executivos, o aumento da produtividade e da capacidade de refinarias que vão ficar no portfólio da Petrobras também deve contribuir para atingir metas ambientais.
Analistas de mercado veem o movimento da Petrobras como inevitável, em meio ao crescimento da importância do tema de ESG para os investidores.
Executivos reforçaram também o foco em redução de custos para os próximos anos, com um breakeven em torno de 19 dólares por barril na região do pré-sal e de cerca de 20 dólares para a companhia como um todo.
Para os próximos anos, a Petrobras projeta um Brent médio de 45 dólares por barril. Com isso, a expectativa é que a companhia tenha fôlego mesmo em momentos de baixa da commodity.
A projeção é mais otimista do que a Petrobras tinha no início da pandemia. Castello Branco afirmou durante a apresentação que ao longo do ano a indústria como um todo conseguiu ter uma visão mais clara do horizonte. "Nós continuaremos resilientes."