Petrobras: a decisão da demissão foi tomada neste domingo, 28, pelo próprio Roberto Castello Branco, que ainda está no cargo (Sergio Moraes/Reuters)
Reuters
Publicado em 29 de março de 2021 às 16h15.
Última atualização em 30 de março de 2021 às 11h31.
Homem de confiança do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, o gerente executivo de Recursos Humanos da empresa, Claudio Costa, foi demitido nesta segunda-feira por negociar ações da estatal em bolsa poucos dias antes do anúncio do lucro recorde do quarto trimestre do ano passado. Em nota, a Petrobras diz que esse foi um episódio pontual de insider trading, uso de informação privilegiada.
Ele também deixou o conselho de administração da subsidiária de Logística da estatal, a Transpetro. "Concluí minha jornada no grupo Petrobras", afirmou Costa, numa rápida conversa com o Broasdcast, por telefone. Ele negou que tenha cometido qualquer irregularidade enquanto esteve na liderança do RH da empresa e repassou para a estatal a responsabilidade de se posicionar sobre a decisão de demiti-lo. Segundo o executivo, "são inverdades que estão sendo divulgadas" contra ele.
Durante todo o dia, a empresa apenas confirmou a demissão, mas não explicou as razões. Apenas à noite publicou comunicado ao mercado financeiro, no qual afirma que "o gerente executivo de Recursos Humanos foi desligado da companhia na data de hoje, por ter atuado, em episódio pontual, em desacordo com o disposto na Política de Divulgação de Ato ou Fato Relevante e de Negociação de Valores Mobiliários, que veda a negociação de valores mobiliários de emissão da Petrobras por pessoas vinculadas nos 15 dias que antecedem a divulgação das demonstrações financeiras da companhia".
Rumores de que informações privilegiadas sobre a mudança no comando da estatal estão sendo usadas em benefício de alguns investidores apareceram, na verdade, desde que o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, foi demitido pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. As acusações são de ganhos de R$ 18 milhões envolvendo contratos de opção de venda de ações. A CVM analisa operações com indícios de uso de informação privilegiada envolvendo ativos e derivativos relacionados à Petrobras nos dias 18 e 19 de fevereiro deste ano. Sobre as acusações contra Costa, a autarquia respondeu que "não comenta casos específicos".
A decisão da demissão foi tomada neste domingo, 28, pelo próprio Roberto Castello Branco, que ainda está no cargo.
Em seu LinkedIn, Costa se descreve como "liderança do projeto de transformação cultural da maior companhia brasileira" e que seu trabalho teve "foco na eficiência, meritocracia e foco em resultados". Ele entrou na Petrobras para implementar o projeto de gestão da força de trabalho idealizado por Castello Branco e deixa a empresa antes do presidente, que só vai sair após o seu sucessor, general Joaquim Silva e Luna, assumir o comando da estatal.
Entre as medidas mais polêmicas tomadas por ele na empresa está a transformação do plano de saúde - Assistência Multidisciplinar de Saúde (AMS) - em uma associação. A expectativa é que, com a mudança, a contribuição da empresa diminua e os empregados passem a pagar mais pelo plano.
Em nota de esclarecimento, a Petrobras afirma que a criação da AMS teve como objetivo "buscar maior eficiência em custos e transparência aos processos".
"Para isto teremos uma equipe de profissionais dedicados e com expertise em saúde suplementar. Os resultados alcançados por esta Associação deverão trazer benefícios mútuos a todos envolvidos: empresas e os 280 mil beneficiários da AMS", diz a nota.
Sob sua gestão, o regime de remuneração também foi alterado. Pagamentos extras pagas a funcionários, em retribuição a avanços conquistados, passaram a ter foco maior nas finanças e não nas operações. Além disso, com as transformações, quanto maior o cargo de chefia, maior a chance de um empregado ter a renda complementada pelo benefício.
Costa é também membro do conselho de administração da Transpetro subsidiária de Logística da Petrobras. Procurada, a empresa ainda não informou se ele permanecerá no cargo. Antes de chegar na Petrobras, ele trabalhou na prefeitura de São Paulo como conselheiro e secretário adjunto de Gestão de Pessoas.