Negócios

Os pequenos ficaram para trás

Com o avanço do grupo EBX, de Eike Batista, em sua composição acionária, a Ideiasnet deixa de investir em empresas iniciantes - e busca retornos mais vultosos e imediatos

Topel, da NetMovies: inspiração na americana Netflix, que hoje vale 5 bilhões de dólares (.)

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DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

Pode-se dizer que o empresário Lars Batista é um recém-chegado ao cenário de negócios brasileiro. Aos 38 anos de idade, ele voltou a morar no país em 2008 após uma temporada de quase duas décadas nos Estados Unidos. Lá cursou ciências da computação na Universidade de San Diego e cinema na Universidade de Miami - e trabalhou em companhias populares entre aficionados de jogos eletrônicos, como Cinemaware e eGames. Há cerca de dois anos, ele deixou a vice-presidência de desenvolvimento da eGames e voltou ao Brasil. Ao lado do irmão Eike Batista, oitavo homem mais rico do mundo, passou a se ocupar de um novo foco de investimento do grupo EBX - tecnologia. Nos últimos meses, tornou-se frequentador assíduo dos corredores de algumas das 16 empresas controladas pela Ideiasnet, holding que reúne companhias de tecnologia na qual o grupo EBX detém 13,6% de participação desde novembro de 2009 e é o segundo maior acionista - atrás do grupo Lorentzen, criado pelo norueguês naturalizado brasileiro Haakon Lorentzen, com 14,2%. Oficialmente, Lars é suplente do representante do grupo EBX no conselho de administração da Ideiasnet, Luiz Correia. Na prática, as su me papel de protagonista. "Ele tem circulado pela empresa cada vez mais e é extremamente detalhista nas conversas", diz um executivo próximo ao empresário. Procurado, Lars não deu entrevista.

A chegada de Lars Batista marca uma nova fase da Ideiasnet, criada em 2000 para investir em novos negócios de tecnologia no auge da bolha da internet. Até hoje, a holding só vendeu uma companhia, a Braspag, de sistemas online de pagamentos, em junho de 2009, para o Grupo Silvio Santos. A transação rendeu 6 milhões de reais à Ideiasnet - 26 vezes o valor investido ao longo de quatro anos. Embora o múltiplo seja considerável, em valores absolutos o retorno está aquém do que o novo sócio espera. O grupo EBX está à caça de negócios maiores - e que tragam retorno mais rápido. Dois movimentos realizados em abril mostram com clareza o novo rumo. O primeiro foi a devolução a seus fundadores de três empresas consideradas pequenas demais (e sem perspectiva de se tornar grandes). O outro foi a saída do executivo Rodin Spielmann, que ocupava havia nove anos o posto de diretor de relações com investidores, agora acumulado pelo presidente, Luis Reátegui. "Deixamos de vez o perfil mais próximo ao de uma incubadora para atuar como um fundo de private equity", diz Reátegui.


A entrada do EBX na Ideiasnet aconteceu em maio de 2008, quando o grupo adquiriu 7,9% de participação por 54,6 milhões de reais. Naquele momento, a vinda de um novo sócio era a solução mais imediata para os fundadores Carlos Mário de Almeida, de 52 anos, e George Ellis, de 70. Após anos a fio - e milhões de reais em investimentos - sem realizar a venda de nenhuma empresa, a entrada de dinheiro novo era inadiável. A decisão resultou no afastamento dos fundadores - juntos, eles possuem hoje menos de 7% da empresa. Ellis cedeu a presidência do conselho ao executivo Carlos Aguinaga e Almeida deixou a presidência executiva para Reátegui. O EBX aumentou ainda mais seu poder de influência em novembro passado, após uma oferta pública de ações, quando o grupo quase dobrou sua participação. A partir daquele momento, as mudanças aceleraram. "O Lorentzen nunca foi um acionista mão na massa", diz um executivo próximo à empresa. "Nessa nova fase, ele apoia as decisões do EBX."

As atenções dos sócios agora se voltam para uma intensa varredura no portfólio, processo do qual Lars está participando ativamente. A demonstração mais efetiva de que a alteração de rota era para valer aconteceu há poucas semanas. A holding devolveu a seus antigos donos três empresas que estavam há seis anos no portfólio da companhia e não se enquadravam no novo perfil de investimento da Ideiasnet - a Addcomm, agência de comunicação digital, a Visionnaire, de desenvolvimento de software, e a TV ao Vivo, de transmissão via internet. A companhia não revela quais serão as próximas empresas a deixar o portfólio, mas é certo que novas baixas devem acontecer. Hoje, 84% das receitas líquidas da holding, de 841,3 milhões de reais em 2009, vêm da Officer, distribuidora de software e hardware. A companhia é a única com potencial de abertura de capital ou de venda no curto prazo. Do restante, nove empresas estão no estágio inicial e seis em fase de crescimento.


Além de fazer uma limpeza no portfólio, a Ideiasnet também pretende investir 35,2 milhões de reais até o fim do ano em oito empresas consideradas prioritárias - a lista resultou de uma sabatina com os presidentes das companhias, conduzida em dezembro pelos sete conselheiros (além do "suplente" Lars). A desenvolvedora de softwares Automatos receberá a maior parte dos investimentos - 8,4 milhões de reais. A NetMovies, de locação online de DVDs, do empresário Daniel Topel, é inspirada na americana Netflix e receberá 4,5 milhões de reais. O terceiro empreendimento a receber aportes será a Bolsa de Mulher, de negócios digitais para mulheres - serão 7 milhões. Com a injeção de dinheiro, as cobranças em relação ao desempenho das empresas vão aumentar. A meta de crescimento da NetMovies para este ano é de 350%. A Bolsa de Mulher terá de dobrar o faturamento de 12 milhões de reais até dezembro.

Até agora as mudanças não ajudaram a valorizar os papéis da holding - que nunca voltaram aos 11 reais por ação da época de abertura de capital, há quase dez anos. Hoje, eles são negociados por algo em torno de 4 reais. O resultado da empresa no ano passado também não contribuiu em nada para melhorar o ânimo dos investidores. As receitas líquidas caíram 2,5% e houve prejuízo de 13 milhões de reais, ante um lucro de 3,6 milhões em 2008. "O perfil mais agressivo de investimento em empresas maiores e a revisão do port fólio devem trazer o dinamismo de que a Ideiasnet precisava há muito tempo", diz Beatriz Battelli, da Brascan Corretora. Por enquanto, apenas os próprios acionistas da empresa demonstram disposição de investir mais na companhia. Numa nova emissão primária de ações a ser concluída em maio, no valor de 50 milhões de reais, pelo menos quatro sócios demonstraram interesse em comprá-las - entre eles o grupo EBX. De acordo com fontes próximas à companhia, a intenção dos irmãos Batista é, desta vez, ganhar o controle. Sinal de que a era EBX na Ideiasnet pode estar apenas começando.

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