PDG: mudanças podem sinalizar preparação da companhia para um possível pedido de recuperação judicial (PDG/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de novembro de 2016 às 08h04.
São Paulo - Pressionada por uma pesada dívida e pela falta de recursos em caixa para fazer frente a despesas do dia a dia, a PDG, que chegou a ser uma das maiores incorporadoras do País, anunciou nesta quinta-feira, 3, a troca no comando e a contratação de uma nova assessoria de reestruturação financeira, a RK Partners.
Com a decisão, comunicada em fato relevante na noite desta quinta, Márcio Trigueiro, à frente da empresa há pouco mais de um ano, e o diretor vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores, Maurício Teixeira, deixam a companhia. O executivo Vladimir Kundert Ranevsky, ex-OSX, assume a presidência.
Além das trocas na diretoria executiva, o banqueiro Gilberto Sayão, fundador da Vinci Partners (maior acionista da construtora), deixa a presidência do conselho, e o gestor de fundos Pedro Cerize não fará mais parte do colegiado.
De acordo com fontes do setor, as mudanças anunciadas podem ser vistas como um preparo da companhia para um possível pedido de recuperação judicial, aventado há meses pelo mercado.
Homem de confiança de Ricardo Knoepfelmacher, fundador da RK, Ranevsky comandou a OSX justamente quando a empresa de construção naval fundada por Eike Batista entrou em processo de recuperação judicial, comandado pela RK Partners.
Além da reestruturação do grupo X, Ricardo K, como é conhecido no mercado, foi responsável pelo processo de reorganização da antiga Brasil Telecom e, mais recentemente, assumiu a reestruturação das dívidas da Bombril e da incorporadora Rossi. Procurada, a RK Partners afirmou que não comenta o assunto.
Para uma pessoa próxima à PDG, o Brasil tem uma história curta de grandes companhias fazendo reestruturação. Segundo ela, em função disso e diante da magnitude da crise que o País enfrenta, faltou um senso de urgência por parte dos credores nas negociações.
Os novos reestruturadores, diz uma fonte familiarizada com o assunto, vão buscar o apoio dos grandes credores para impedir o colapso da companhia. A meta de curto prazo é garantir o término das obras e reduzir os processos dos clientes na Justiça com a avalanche de distratos no mercado. Segundo essa mesma fonte, a opção por um pedido de recuperação só será tomada quando as alternativas extrajudiciais estiverem esgotadas.
Criada por ex-sócios do Banco Pactual, a PDG deu um grande salto em 2010, ao adquirir a Agre, empresa do investidor Enrique Bañuelos que, por sua vez, havia incorporado Abyara, Agra e Klabin Segall.
O ápice das operações da construtora ocorreu em 2011, quando os lançamentos chegaram a R$ 9 bilhões em valor geral de vendas (VGV), superando companhias tradicionais, como Cyrela e MRV. O tombo se desenhou a partir de atrasos nas entregas das obras e descontrole na gestão das dezenas de canteiros, fatores que levaram a frequentes estouros de orçamento e perda da rentabilidade.
Quando todos os problemas operacionais vieram à tona, a PDG totalizou um prejuízo líquido de R$ 2,17 bilhões em 2012 - o pior resultado registrado por uma incorporadora listada na Bolsa de Valores até hoje.
Mais tarde, a economia brasileira se deparou com um ambiente recessivo, e o mercado imobiliário passou a enfrentar cancelamentos de vendas. Os distratos são a principal tormenta das incorporadoras, pois implicam na devolução do dinheiro recebido com o imóvel vendido na planta e já aplicado na construção.
Para fazer frente a essas dificuldades, a PDG teve um aumento de capital de R$ 800 milhões em 2012 e outro de R$ 500 milhões em 2015, ambos encabeçados pela Vinci Partners. Os recursos, porém, não foram suficientes para lidar com o tamanho dos problemas operacionais agravados pela crise.
Em meio a esse cenário, a PDG acumulou uma dívida líquida de R$ 5,4 bilhões, de acordo com seu balanço mais recente. Em agosto, a incorporadora anunciou a renegociação de R$ 4 bilhões, dos quais R$ 2,9 bilhões são dívidas corporativas com Bradesco, Itaú Unibanco, Caixa, Banco do Brasil e Votorantim.
Pelo acordo, os vencimentos foram empurrados para começarem em julho de 2020. A outra parte de R$ 1,1 bilhão se refere a financiamentos tomados para a construção dos empreendimentos.
Apesar do prolongamento da quitação das dívidas, a PDG não conseguiu dinheiro novo dos bancos para a manutenção de despesas administrativas e obras, o que levou à paralisação de alguns canteiros.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.