Karina Paraíso, fundadora da Donas do Online: “No começo, achei que ser minha própria chefe seria maravilhoso, pois poderia fazer meus próprios horários. Mas a realidade foi outra. Eu trabalhava 16, 17 horas por dia até o negócio decolar”
EXAME Solutions
Publicado em 14 de fevereiro de 2025 às 14h00.
Karina Paraíso, 30 anos, é a fundadora do Donas do Online, empresa de infoprodutos digitais que, desde 2020, vem transformando a vida de empreendedoras como ela. O caminho, no entanto, foi marcado por escolhas difíceis, reviravoltas, racismo e a constante busca por equilíbrio entre a carreira e a maternidade.
Desde a adolescência, Karina foi influenciada por seu pai, que via a área da Tecnologia da Informação (TI) como o futuro. “Fiz um curso técnico no Senai. Mas percebi que meu interesse estava longe das áreas técnicas”, explica ela. “Descobri que não gostava do tema, minha paixão era mesmo por comunicação. Só não sabia como seguir essa carreira”, recorda Karina, que nasceu e ainda hoje vive em Osasco, São Paulo.
Após concluir o curso técnico em TI, Karina optou por estudar Recursos Humanos (RH), uma área que lhe permitiria se conectar com a comunicação, mas no contexto corporativo. “Trabalhei por sete anos em RH e até me especializei em Psicologia para crescer na profissão”, diz. Ela teve uma trajetória sólida nesse campo, mas uma mudança de posição dentro da empresa a fez questionar sua escolha. A transferência para o departamento pessoal, que a obrigava a lidar com números e cálculos, foi um golpe. “Trabalhar com planilhas foi terrível. Fiquei tão estressada, que sofri um burnout em 2020. Não tive outra escolha a não ser pedir demissão.”
Mas o fim de sua carreira corporativa também significou o início de uma nova jornada.
A pandemia acelerou o home office e impulsionou as plataformas digitais, criando um terreno fértil para novas oportunidades. Karina aproveitou essa onda e começou a prestar serviços de social media para empreendedores, criando posts e estruturando contas no Instagram. “Comecei a participar de grupos de WhatsApp, mentorias e foi aí que surgiu a semente do Donas do Online. Tudo no boca a boca, no digital e nas comunidades de networking”, diz.
Foi nesse período que Karina percebeu que sua verdadeira missão era ajudar mulheres a se inserirem no mundo digital e a terem mais controle sobre suas vidas profissionais e pessoais. O nascimento da filha, quando Karina tinha apenas 21 anos, foi uma das maiores inspirações para essa decisão. “Desde que fui mãe, minha meta era conseguir trabalhar de forma remota para passar mais tempo com ela”, conta.
“Criei o Donas do Online para ajudar outras mulheres a entenderem o poder do digital e como ele pode ser um facilitador para terem tempo de qualidade com os filhos e a família”, afirma Karina.
A empresa começou oferecendo serviços de social media e criação de infoprodutos. Hoje, o Donas do Online é especializado em transformar o conhecimento de mulheres em cursos, mentorias e consultorias digitais, ajudando-as a se posicionarem bem nas redes sociais para alcançar mais visibilidade e lucro.
Karina enfrentou obstáculos complexos ao longo de sua trajetória. O primeiro foi entender que o empreendedorismo é um universo completamente diferente do mundo corporativo. “Não somos ensinados a empreender e eu vim de uma família de funcionários públicos. Foi necessário aprender a organizar minha vida financeira, tanto pessoal quanto da empresa. Cursos do Sebrae foram fundamentais para entender esse novo universo.”
Outro desafio foi o próprio conceito de ser dona do próprio negócio. “No começo, achei que ser minha própria chefe seria maravilhoso, pois poderia fazer meus próprios horários. Mas a realidade foi outra. Eu trabalhava 16, 17 horas por dia até o negócio decolar”, conta.
Mesmo com tanto esforço, Karina só recentemente conseguiu alcançar um equilíbrio maior e passar mais tempo com sua filha, que foi a razão de tudo.
O maior desafio de Karina, no entanto, foi o racismo que enfrentou no mundo da tecnologia. “Sempre fui desacreditada por ser mulher e preta”, afirma.
Ela revela que, em muitos momentos, foi alvo de ataques racistas, principalmente em lives e fóruns digitais. “Na vida, já recebi muito olhar torto por ser preta, mas no universo digital a violência foi muito mais explícita. Fui chamada de ‘macaca’ e outros termos extremamente cruéis”, relata Karina, com uma mistura de dor e força.
Mas nada disso a fez parar. Hoje, a empresa de Karina é uma referência para mulheres empreendedoras. Com um faturamento anual de R$ 300 mil, o Donas do Online conta com uma equipe de cinco funcionárias em São Paulo e colaboradoras em várias partes do Brasil. “Comecei sozinha, com algumas ferramentas de design e trabalhando em casa. Hoje, nossos serviços custam em torno de R$ 2.500.”
A meta agora é continuar expandindo, mas sem perder o propósito de inclusão. “Quero que, no futuro, 80% da minha equipe seja formada por mulheres pretas”, afirma. O desejo de Karina de criar um espaço diverso e empoderador reflete sua crença de que o digital pode ser uma ferramenta poderosa para transformar a vida de quem muitas vezes é marginalizado.