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Passageiros resistem aos assentos cada vez menores

Com mais - e menores - assentos nos aviões, o quanto as companhias podem forçar seus lucros antes de se depararem com uma diminuição de clientes?

AVIÃO NOS EUA: um tribunal do país tratou do "incrível encolhimento dos assentos das aeronaves" (Joe Giron/The New York Times)

AVIÃO NOS EUA: um tribunal do país tratou do "incrível encolhimento dos assentos das aeronaves" (Joe Giron/The New York Times)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 21 de novembro de 2017 às 19h07.

A Spirit Airlines pelo menos é honesta sobre os espaços apertados em suas aeronaves. “Somos uma companhia aérea compacta. Temos poltronas extras em nossas aeronaves, o que nos permite voar com mais pessoas. Isso diminui os custos de todos, assim como uma carona no carro”, diz seu site.

Não é novidade que as companhias aéreas têm espremido mais – e menores – assentos em seus aviões. A questão é o quanto podem forçar seus lucros antes de se depararem com uma diminuição de clientes.

“O lado comercial – principalmente o que controla o departamento de vendas – quer mais assentos nos aviões”, disse Henry Harteveldt, cofundador do Atmosphere Research Group, que analisa o mercado de companhias aéreas e viagens. Eles enfrentam “as pessoas do departamento de marketing das empresas, que tentam se passar por advogados dos passageiros, e derrubar algumas dessas iniciativas”.

Para atender às companhias aéreas, os fabricantes de poltronas estão reduzindo e cortando cada medida, realocando o bolso atrás do banco, substituindo o enchimento dos assentos por uma malha elástica e diminuindo os braços.

“Quando o assunto são os assentos, há dois objetivos: acomodar mais pessoas e deixar o avião mais leve”, disse Richard Aboulafia, analista de avição do Team Group.

Enquanto as empresa de baixo custo, com a Spirit, diminuíram a distância entre as fileiras para 21 cm, a maioria das grandes companhias americanas manteve os 76 cm. Qualquer diminuição levaria os passageiros dos assentos do meio ao limite.

Este ano, vazou a informação de que a American Airlines considerava redesenhar a cabine, deixando algumas fileiras da sua nova frota de Boeings 737 Max com apenas 73,5 cm de espaço entre elas. Os planos foram por água abaixo após uma explosão de reclamações.

“Tivemos várias respostas negativas dos clientes, e especialmente de nossos funcionários”, afirmou o chefe executivo da empresa, Doug Parker, aos investidores em julho. “Embora pudéssemos nos convencer de que assim é possível criar mais lugares na aeronave, o que afetava nossa reputação junto aos funcionários não valia a pena.”

O impulso para diminuir o espaço entre as fileiras surge quando as principais companhias aéreas espremem 10 assentos em uma fileira mais longa, na qual a seção do meio tem quatro lugares em vez de três (dois assentos ficam no meio).

Mas os clientes serão poupados dessa experiência na maioria dos voos internos nos Estados Unidos, disse Aboulafia, porque não há espaço suficiente. “A boa notícia é que a grande maioria dos voos é feita em 737 ou A320. Não há chance de encaixar quatro lugares onde havia três”.

Os assentos tradicionais têm uma estrutura de alumínio rígido, cobertas por uma grossa espuma. Mas esse método não é mais usado, pois há materiais mais sofisticados e com melhor tecnologia disponíveis, disse Alex Pozzi, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento de sistemas interiores da Rockwell Collins, uma fábrica de poltrona de aeronaves.

“Usamos muitos materiais avançados, muitos materiais compostos, para permitir que a estrutura física real diminua”, disse ele. “Também removemos muitos pontos duros no assento e adotamos sistemas de suspensão de tecido”, para criar assentos mais parecidos com cadeiras de mesa ergonômicas.

“Quanto menor o tamanho da própria estrutura do assento, mais espaço fica para o passageiro”, disse Pozzi.

Ou, conforme o caso, para mais passageiros. “Nos últimos cinco anos, como os assentos mais estreitos se tornaram mais comuns e foram adotados por mais companhias aéreas, o espaço economizado foi aproveitado. A maioria das companhias aéreas ocupou esse espaço e adicionou uma fileira ou duas, dependendo da empresa”, disse Jami Counter, vice-presidente da TripAdvisor Flights, que possui o site SeatGuru.com. “O distância real encolheria, mas teoricamente, o espaço para as pernas, não.”

“Hoje, você espreme uma pessoa para enfiar mais gente exatamente no mesmo espaço. Isso deixa a experiência de voo muito mais desagradável”, acrescentou.

Nos novos 737 da American Airlines, que entrarão em serviço em breve, os assentos têm um mínimo de 76 cm, embora a empresa diga que a maioria dos assentos tem 79 cm. As telas de TV do assento foram eliminadas e substituídas por suportes que os passageiros podem usar para montar seus próprios dispositivos de vídeos, e fontes de energia para manter esses dispositivos funcionando. O bolso de revistas agora está mais perto do topo do assento, liberando mais espaço para os joelhos.

“Esses assentos são projetados para fazer o melhor uso possível do espaço”, disse um porta-voz da American Airlines, Josh Freed.

As companhias aéreas afirmam que a ergonomia melhorada e, em alguns casos, os assentos ligeiramente mais amplos compõem um espaço menor entre as fileiras. Um porta-voz da Spirit Airlines, Paul Berry, disse que a ênfase nesse espaço era uma maneira imprecisa de avaliar os novos projetos de assentos atuais.

“Se você só pensar em centímetros, está usando uma medida antiga. A base que usamos é o nível de conforto e a forma como criamos nossos assentos. Embora a distância seja de 28 centímetros, na verdade, ela parece ter cerca de 76 cm”, disse ele.

Mas alguns defensores do consumidor dizem que a questão vai além do conforto. Um grupo, o Flyers Rights, solicita à Administração Federal de Aviação (FAA) que estabeleça dimensões mínimas para a largura e espaço dos assentos das companhias aéreas. O grupo ganhou uma batalha em sua guerra judicial com a FAA em julho, quando um tribunal distrital dos Estados Unidos disse à agência que abordasse o que chamou de “o incrível encolhimento dos assentos das aeronaves”.

Paul Hudson, presidente da Flyers Rights, disse que a necessidade de regulação dos assentos é motivada por preocupações de segurança. Os passageiros estão ficando cada vez mais altos e mais largos, mesmo que as companhias aéreas tenham assentos menores, mas os regulamentos ainda estipulam que os aviões devem ser evacuados em apenas um minuto e meio.

“Obviamente, se você estiver espremido em um espaço muito pequeno, será mais difícil se levantar e sair em uma emergência”, disse Hudson.

“Os assentos foram originalmente projetados para pessoas, para homens com uma média de cerca 1,80 m e 80 kg. Neste momento, o homem médio tem pouco menos de 90 kg”, disse ele.

A indústria aérea argumenta que uma regulamentação adicional é desnecessária. As operadoras enviaram perguntas ao grupo comercial Airlines for America, que respondeu com uma declaração por e-mail que dizia, em parte: “Todas as operadoras dos EUA atendem ou excedem os padrões federais de segurança e continuamos acreditando que não há necessidade de interferência do governo”.

Mas alguns profissionais de viagens aéreas afirmam que defensores como a Flyers Rights têm razão em argumentar que assentos muito apertados podem ser um impedimento para as evacuações.

“Não será necessariamente uma regulamentação do conforto dos passageiros, mas algo mais voltado para a segurança”, disse Counter.

Harteveldt concordou. “Pode haver uma questão legítima em torno da segurança. É por isso que agora estamos começando a ver o assunto ser trazido à tona.”

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