Pedro Parente: diretoria e sindicatos discutem o acordo trabalhista desde setembro, sem chegar a um consenso (Sergio Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de janeiro de 2017 às 14h54.
Rio - O presidente da Petrobras, Pedro Parente, foi à intranet se comunicar com os empregados para se posicionar contra as paralisações lideradas pelo movimento sindical.
Diretoria e sindicatos discutem o acordo trabalhista desde setembro, sem chegar a um consenso. Parente comentou sobre possíveis efeitos do impasse nas metas da empresa e convocou os funcionários a manter o ritmo de trabalho porque, segundo ele, "2017 será o ano da virada da Petrobras".
Na carta, distribuída dia 2/01, ele diz que neste ano a empresa será medida pelo cumprimento de metas "ousadas", mas sem especificar quais. Apenas ressalta que são as previstas no planejamento estratégico para os próximos cinco anos.
No plano, a Petrobras prevê redução da relação entre dívida líquida e geração de caixa (Ebitda) de 5,3 vezes para no máximo 2,5 vezes e da taxa de acidentes em 36%, ambos até 2018. Os custos têm que cair 18% até 2021.
Na área operacional, de exploração e produção de petróleo e gás natural, o foco é gerir o portfólio para reduzir o compromisso do caixa com dívidas para, em um ano, acessar reservatórios já descobertos e ampliar o valor dos ativos.
Fará isso com parceiros estratégicos, como a francesa Total, que no fim do ano anunciou a compra de participação em áreas de pré-sal da Petrobrás.
O custo de extração deve cair US$ 11 por barril para US$ 9,6 por barril, na média dos cinco anos. E a produção de petróleo, líquido de gás natural (LGN) e gás natural deve chegar a 2,62 milhões de barris de óleo equivalente (boe) por dia até o fim deste ano.
A meta apenas para o petróleo é de 2,07 milhões de barris por dia (bpd), ante 2,145 milhões de bpd em 2016.
"Este ano, a nossa missão é não deixar mais dúvidas de que a Petrobras é uma empresa que cumpre suas metas, entrega resultados e está comprometida em ser excelente também na sua disciplina de segurança, que preserva vidas, e na sua disciplina financeira, que garante fôlego para os investimentos futuros", afirmou Parente.
Em seguida, diz que com trabalho árduo os objetivos serão alcançados e que, para isso, confia na força de trabalho, como a equipe de contingência que passou o Natal e o Ano Novo "na linha de frente, garantindo a nossa produção, para evitar que paralisações no meu modo de ver totalmente injustificadas prejudicassem a empresa".
A equipe de contingência é o pessoal enviado para plataformas para cobrir os empregados que trabalham em marcha lenta em protesto às propostas da empresa para o acordo coletivo de 2016, "os pelegos", na visão dos sindicatos.
Uma fonte sindicalista afirmou ao Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) que a Petrobras aprendeu uma lição na última greve, no fim de 2015, e enviou equipes de contingência.
Na carta, Parente diz ainda que "compensações financeiras" não medem o compromisso da empresa com os seus funcionários. Numa clara referência às administrações passadas da Petrobras, do governo petista, o presidente da petroleira afirma que a medida do compromisso é a recuperação da Petrobras - financeira, de imagem, autoestima e liderança de mercado.
"A régua que mede o compromisso da Petrobras com os seus empregados não é a que concede correções acima da capacidade financeira da empresa, não é a que define projetos e procedimentos que explodiram o endividamento da companhia a ponto de colocar em risco a nossa sobrevivência. Essa régua foi usada no passado e já se provou equivocada", afirmou.
Em vídeo divulgado no site da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o coordenador-geral da principal entidade sindical representante dos empregados da Petrobras, José Maria Rangel, afirma que empresa e sindicatos filiados estão "muito próximos de um impasse".
"O fato concreto é que a atual administração da Petrobras só sabe atuar dessa forma, arrochando salários, vendendo patrimônios e também tentando tirar direitos da classe trabalhadora", diz Rangel.
A última proposta da empresa foi de reajuste de 6%, retroativo a setembro, acrescido de 2,8% em fevereiro. Um dos pontos mais polêmicos, no entanto, é a opção para que funcionários reduzam a jornada de trabalho e salários.
Rangel afirma, no entanto, que não houve "uma mínima discussão com as entidades sindicais" sobre o tema.